quinta-feira, 2 de junho de 2016

Coisas que você só vê na Costa Brasileira

Costa brasileira, os dez maiores absurdos



em 

Costa brasileira, os dez maiores absurdos

Pense num absurdo bem grande, na Bahia já teve precedente
Esta frase, que imortalizou Otávio Mangabeira, governador da Bahia entre 1947 e 1951, pode ser usada em relação ao Brasil e sua relação edipiana, hedonista, e esclerosada, com o mar, e tudo que diz respeito à ele. O site Mar Sem Fim não se conforma com as bobagens que vê na costa brasileira. Esta matéria dá apenas uma breve passada sobre algumas delas. E não se iluda: para cada uma aqui citada, existem outras ‘trocentas’ espalhadas pelo litoral. Senão, vejamos:

Tiros de canhão em Alcatrazes

1- Apesar da Ilha de Alcatrazes ser um dos maiores ninhais de aves marinhas da costa brasileira, ter uma esplêndida vida marinha, frequentada por tartarugas, baleias, e um sem – número de outras espécies, inclusive algumas endêmicas (da flora), a Marinha do Brasil a escolheu como alvo para tiros de canhão. A atividade já rendeu um incêndio que quase acaba com a sua vegetação.
Costa brasileira, os dez maiores absurdos, imagem da ilha de alcatrazes, SP
A espetacular ilha de Alcatrazes, litoral Norte de São Paulo, virou alvo de tiros de canhão

Mau gosto nas construções do litoral

2- Por sua extrema beleza, a vocação do costa brasileira com seus mais de oito mil quilômetros, é o turismo. Ninguém discute. Mas, apesar disso, empreendimentos nascidos da especulação imobiliária continuam a estraçalhar sua beleza quase diariamente, sem que ninguém proteste. O exemplo abaixo, de um condomínio em Ubatuba, é apenas mais uma prova do descalabro.
Costa brasileira, os dez maiores absurdos, imagem de condomínio em Ubatuba
O autor desta medonha obra merece o Prêmio Príncipe Charles de Excelência em Mau Gosto.

O Brasil, a pesca, e mais uma mentira petista: o Ministério da Pesca!

3- O Brasil é fraco na pesca devido ao fato de que 70% de suas águas territoriais estão em regiões tropicais, de águas quentes, pobres em nutrientes. Mesmo assim, sempre teve estatísticas anuais da quantidade pescada. Bastou o megalômano Lula da Silva criar o Ministério da Pesca, para nunca mais termos estatísticas do que é retirado anualmente de nosso mar territorial. Pra que serviu este esdrúxulo ministério?
Costa brasileira, os dez maiores absurdos
País rico é país sem pobreza, ladroagem, e burrice extrema!

Especulação imobiliária destrói a beleza cênica

4- A especulação imobiliária, quase sempre atrelada a grandes grupos empresarias, e a muitos prefeitos dos municípios costeiros, costuma ‘fechar praias’ que são uso de bem comum, portanto, proibidas de serem privatizadas. Mas agora, mesmo estando dentro de uma Unidade de Conservação, a APA de Cairuçu, donos de mansões estão privatizado a lâmina d’água, sem que qualquer medida seja tomada pelos órgãos públicos. Veja o exemplo abaixo.
Costa brasileira, os dez maiores absurdos,
O dono da mansão não ‘privatizou’ apenas a praia, mas também a lâmina d’água, e ninguém fala nada!

Unidades de Conservação federais marinhas: engodo total!

5- Por falar em Unidade de Conservação, e na APA de Cairuçu, vale lembrar o absurdo sem precedentes de que esta UC tem 63 ilhas em sua jurisdição. Mesmo assim, a equipe da APA não conta sequer com um único barco. Ponto para o inoperante governo federal.
Costa brasileira, os dez maiores absurdos, mapa da apa de cairuçu
No mapa as 63 ilhas cujo gestor da unidade não tem acesso por falta de barcos!!!

Explorando petróleo entre corais!!

6- O banco de corais de Abrolhos é a única formação de corais do Atlântico Sul, ou seja, da costa brasileira. E os corais são habitat de um, em cada quatro tipos de peixes. Mesmo assim a ANP, Agência Nacional de Petróleo, liberou a área para ser explorada para extração de petróleo.
Costa brasileira, os dez maiores absurdos, imagem da ilha siriba, arquipélago dos abrolhos
Os corais de Abrolhos ameaçados pela extração de petróleo

Hotéis destroem beleza do litoral

7- Os hotéis são atraídos para o litoral pela grande beleza de sua fisionomia. Mas a primeira coisa que fazem, ao se instaurem, é destruir a beleza cênica com monstruosas construções que nada têm a ver com nossa beleza tropical. Os exemplos pipocam por toda a costa brasileira. Este, abaixo, é apenas um, entre dezenas.
Costa brasileira, os dez maiores absurdos, image de hotel em construção, praia do Forte
O que este caixotão de concreto, na Praia do Forte, tem a ver com uma praia tropical?

Torres eólicas e estupidez humana

8- Ninguém tem dúvida da importância da energia eólica mas, as torres para captar vento com suas imensas pás, são erguidas  nos lugares mais bonitos da costa brasileira, destruindo mais uma vez a bela paisagem. Veja este o exemplo de Mundaú, no Ceará, que era assim:
Costa brasileira, os dez maiores absurdos, imagem do rio mundaú, litoral do ceará
Mundaú era assim…
Depois da instalação das torres, Mundaú ficou assim:
Costa brasileira, os dez maiores absurdos, imagens de torres eólicas em mundaú, litoral do ceará
Mundaú, descaracterizada, ficou assim…

Morticínio de tubarões em Fernando de Noronha, área “protegida”!?

9- Apesar do estúpido morticínio de tubarões mundo afora (anualmente cem milhões são mortos para terem suas barbatanas arrancadas e servidas como sopa em países asiáticos), um restaurante de Fernando de Noronha, que é um Parque Nacional Marinho portanto “protegido”, apresenta em seu cardápio ‘hambúrguer’ de tubarão, sem que nossas ótóridades tomem qualquer providência.
Costa brasileira, os dez maiores absurdos
A estupidez tem até avaliação pelo TripAdviser. Só mesmo no país do Macunaíma!!

Rio de Janeiro e a merda na baía de Guanabara, nosso maior cartão portal!!!

10- Apesar do Rio de Janeiro ser nosso principal cartão postal, a baía de Guanabara está morta, fétida, apodrecendo. Todos os dias, 15 mil litros de esgotos não tratados são despejados em suas águas. E o povo do Rio de Janeiro não protesta, ou protesta pouco o suficiente para o poder público continuar com sua eterna omissão.
baía-de-guanabara
Baía de Guanabara. Fétida, podre. Quinze mil litros de esgotos por segundo, é mole?

http://marsemfim.com.br/costa-brasileira-os-dez-maiores-absurdos/

domingo, 22 de maio de 2016

Como o plástico pode ser o principal assassino dos oceanos.

Plastic waste: killer of the seas

 

Plastic-filled dead whales on Germany’s coast.

Plastic-filled dead whales on Germany’s coast.


When researchers examined the stomach contents of 13 sperm whales that washed up on Germany’s North Sea coast this year, they discovered further compelling evidence of how plastic waste plays havoc with the environment both on land and at sea.
The guts of the stranded giants were stuffed with plastic. According to the experts, the whales were probably forced into shallow waters by unusual weather patterns shifting their food sources.
After straying into the shallows, the whales could not support their own body weight; their internal organs collapsed and the creatures died of heart failure.
Plastic rubbish festoons our oceans. By 2050, it is forecast to grow fivefold to equal the weight of all fish life. And each piece of waste remains adrift for centuries.
Researchers are only beginning to realise the long-term consequences of this man-made but entirely preventable danger.
And after more than a decade of procrastination, Australia’s most populous state has pushed forward plans to tackle the recovery of empty plastic bottles. Despite industry objections over cost, NSW is joining South Australia and the Northern Territory in running a container deposit scheme. It rolls out from July next year. Other states are under pressure to follow suit.
NSW consumers will be slugged extra for plastic drink and other containers and a portion of the impost will be refunded to whomever returns them — either to a reverse vending machine or a retailer.
The anti-plastic crusade is part of a global trend. New York City council recently approved a bill to require many retailers to charge US5c for each plastic or paper bag taken by consumers at check-out counters. US cities with similar laws include Cambridge, Seattle, San Francisco and Los Angeles. Reports in the US say the addition of New York, the country’s most populous city with 8 million residents, could add momentum to the push to get shoppers to go green.
The arguments are both environmental and economic. Forces are marshalling to remake the plastics economy through greater reuse and recycling.
Earlier this year, a World Economic Forum report set out the road map for change. Use of plastics increased twentyfold in the past half-century and is expected to double again in the next 20 years. While it delivers many benefits, the plastics economy has ­obvious drawbacks.
After a short first-use cycle, 95 per cent of plastic packaging material value, or $US80 billion ($109bn) to $US120bn annually, is lost to the economy. “A staggering 32 per cent of plastic packaging escapes collection systems, generating significant economic costs by reducing the productivity of vital natural systems such as the ocean and clogging urban infrastructure,” the WEF report says.
“The cost of such after-use externalities for plastic packaging, plus the cost associated with greenhouse gas emissions from its production, is conservatively estimated at $US40bn annually — exceeding the plastic packaging industry’s profit pool.’’
The US, Europe and Asia jointly account for 85 per cent of plastics production. The Australian plastics industry, which employs 85,000 people, produces more than 1.2 million tonnes a year and accounts for about 10 per cent of our manufacturing ­activity.
In the 2012-13 financial year, Australia consumed 1.5 million tonnes of plastic — about 65kg of plastic for every man, woman and child. And about 37 per cent of this plastic was single-use disposable packaging. Only about 20 per cent was recycled.
A global war against plastic is being waged and container deposit schemes are playing their part. Plastic waste in the ocean is a high-profile issue particularly after graphic images of sea birds starving to death after ingesting plastic. A senate inquiry heard that Queensland National Parks and Wildlife Service reports that more than 70 per cent of loggerhead turtles found dead in Queensland ­waters had ingested plastic. In addition, almost a third of sea turtle deaths in Moreton Bay are attributed to ingestion of plastic.
Despite this, evidence was that the ability to assign actual cause of death to plastic ingestion is “exceptionally small”. But CSIRO is trying to estimate how much plastic will kill a turtle or a seabird.
What is known is that once plastic is ingested, animals have difficulty in ridding themselves of the debris. Many turtles have downward facing spines in their throats which prevent regurgitation.
The plastic remains in the stomach, where it blocks digestion. In addition, plastic products often decompose within the turtle, producing gas which remains trapped inside the animal. These gases cause the turtle to float on the surface, which can lead to starvation and leaves the animals prone to predation.
Shoana McManus and her five-year-old son Lavhy and younger brother Jackson collect cans and bottles for SA’s deposit scheme. Picture: Kelly Barnes
The senate inquiry said it was concerned that hundreds of species of fauna including birds, turtles, cetaceans and seals were harmed by ingestion and entanglement. It recommended the introduction of container deposit schemes in all jurisdictions.
A national deposit scheme could remove an additional 35,000 tonnes from the waste stream, says Ian Kelman, executive officer of the Association of Container Deposit Scheme Operators.
Globally, deposit schemes achieve recycling capture rates of between 80 and 96 per cent of beverage containers, compared with Australia’s overall recycling rate of 42 per cent.
The benefit of introducing a deposit scheme is seen in the differences in recycling rates between South Australia and NSW: 85 per cent and 35 per cent respectively.
The deposit scheme in South Australia is a “cultural phenomenon” says Kelman, where “individuals ... perhaps pensioners or homeless people in those areas, have an area of the state which is their turf, as they describe it”.
“It might be a couple of beaches or a few parks. That individual generally goes through the area and collects whatever empty containers they can. They obviously make some additional income for themselves.”
It has certainly turned the state into Australia’s recycling capital, and provided pocket money for generations of children since it was established in 1977.
Not everyone is happy. The beverage industry says the experience in the Northern Territory is that strangers rummaged through household rubbish bins in search of containers to redeem. It lobbies heavily against the introduction of a container deposit scheme.
The senate committee recognised the implementation of container deposit schemes is a polarising issue as the beverage industry is concerned about possible associated costs. But the committee was “somewhat sceptical of many of the 152 arguments put forward by industry”. And it did not accept the view that a container deposit scheme and kerbside recycling could not coexist.
The NSW decision to introduce a deposit scheme next year is a long time coming for Boomerang Alliance campaigner Jeff Angel. After “years of new studies, deferrals and endless procrastination” he says the NSW ­decision “opened the way to a massive and ongoing clean-up of the environment, creation of hundreds of jobs, much more recycling and tens of millions of dollars for charities’’.
With the right design features, Angel says a container deposit scheme could provide a $150 million boost to the recycling sector, attracting more than $160m in private sector investment to build 600 recycling collection points across the state.
The senate report called for all states and territories to adopt container deposit systems by 2020. ­Already, Queensland says it intends to follow the NSW lead.
There are three approaches to tackling plastics pollution, Angel says. First, ban single-use plastic bags, because collecting them for recycling doesn’t create a market big enough to cover the cost.
Second, create a business model for collection of material such as a container deposit scheme. Third, minimise packaging and increase compostable materials. Angel says such products are superior to biodegradable plastics, which break down into ever smaller pieces but are not absorbed back into the environment.
With momentum on a container deposit scheme, Queensland, NSW and Victoria are discussing a joint approach to single-use plastic bags. And the commonwealth and states are discussing micro beads, tiny grains of plastic found in cosmetics that wash down the plughole and never degrade. Federal Environment Minister Greg Hunt says if an industry program to phase out micro beads is inadequate he will legislate next year.
The plastics industry senses that consumer sentiment is changing. The WEF report says society’s perception of plastics is deteriorating, and perhaps eventually will threaten the plastics industry’s ­licence to operate.
Industry organisation Plastics Europe warns, “There is an increasingly negative perception of plastics in relation to health, environment and other issues”.
The plastics industry could face a campaign from conservation groups similar to the one raging against the fossil fuels industry.
The vision of the New Plastics Economy is that plastics never become waste; rather, they re-enter the economy as valuable technical or biological nutrients.
The World Economic Forum report says many innovations show potential, but to date these are too fragmented and uncoordinated to have impact at scale.
But the consumer and political tide is shifting globally against plastics and the industry is under pressure to speed its transition into the new plastics economy.
The task is enormous. The Total Environment Centre says we use more than 5 billion plastic bags each year and the amount of bags entering the litter stream each year is likely to be at least 100 million bags.

 

Fonte: http://www.theaustralian.com.au/news/inquirer/plastic-waste-killer-of-the-seas/news-story/a4ab4116d7ee6e4fe3929009d799e371

Pesquisa aponta que mudança climática interfere no processo de extinção das abelhas

Importante Projeto no Pará sobre como as mudanças climáticas podem inteferir na extinção de abelhas.

Vídeo:

http://redeglobo.globo.com/pa/tvliberal/edopara/videos/t/edicoes/v/pesquisa-aponta-que-mudanca-climatica-interfere-no-processo-de-extincao-das-abelhas/5039358/

quarta-feira, 11 de maio de 2016

As araucárias e o grande Festival dos Papagaios de Urupema


Por Fabio Olmos
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Urupema vista do alto do Morro da Antena. Foto: Rita Souza
Urupema vista do alto do Morro da Antena. Foto: Rita Souza

Nossa Araucária Araucaria angustifolia é uma sobrevivente. Também chamada de pinheiro-do-paraná e pinheiro-brasileiro, sua linhagem dominava as florestas do Jurássico, 160 milhões de anos atrás, e alimentava os grandes dinossauros saurópodos, os maiores animais terrestres que já existiram.
Os dinossauros se extinguiram 65 milhões de anos atrás junto com as araucárias do Hemisfério norte. Mas a linhagem continuou a prosperar no sul, no antigo supercontinente de Gondwana.
Gondwana deu origem à Antártica, Austrália e ilhas próximas, além da América do Sul. E as araucárias continuam entre nós, com 17 espécies na Austrália, Nova Guiné, ilha Norfolk e Nova Caledônia (onde há 13 espécies endêmicas) e duas na América do Sul. Incluindo nossa Araucaria angustifolia.
Quando a deixam viver o suficiente, essa potencial gigante que gosta de climas frios e úmidos pode atingir 50 metros de altura e mais de 3 metros de diâmetro. O último período glacial, frio e seco, não foi bom para ela, que acabou refugiada nas serras e vales mais frios enquanto boa parte do sul do Brasil era ocupado por campos.

Campos nativos são um dos ambientes dominantes da região... Foto: Rita Souza
Campos nativos são um dos ambientes dominantes da região... Foto: Rita Souza

As araucárias remanescentes nas serras de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo são um testemunho deste período frio.
Com o fim do período glacial e a mudança para um clima mais úmido, as araucárias começaram a crescer sobre os campos, com uma grande expansão entre 4.500 e 1.000 anos atrás. Essa pode ter sido ajudada pelas populações ameríndias, que como nós e dezenas de outros animais, apreciavam os pinhões e provavelmente plantavam araucárias em locais convenientes.
Isso mudou com a invenção do Brasil.

.... juntamente com as Florestas com Araucária. Foto: Rita Souza
.... juntamente com as Florestas com Araucária. Foto: Rita Souza

Debacle das Araucárias
Nosso país trava uma guerra de extermínio contra as florestas. A Floresta com Araucária – uma das mais belas do país -  foi uma maiores vítimas. Antes um bloco mais ou menos contínuo com 200 mil km2 cobrindo o interior do Paraná (40% do estado), Santa Catarina (30%) e Rio Grande do Sul (25%), onde se mesclava com os Campos Sulinos, hoje resta, com boa vontade, 12% da extensão original ainda com algumas árvores que justifiquem chamá-las de floresta.
Menos de 1% pode ser considerado de florestas maduras, que atingiram seu potencial máximo.
Essa destruição aconteceu na maior parte entre as décadas de 1930 e 1970, em menos de duas gerações. O Brasil realmente é campeão naquilo que só envergonha.
O massacre seguiu um roteiro que foi repetido em locais como o Pontal do Paranapanema, o sul da Bahia e toda a Amazônia.  Começa com a abertura de estradas e ferrovias, passa por projetos de colonização e “reforma agrária”, muita grilagem e o incentivo a madeireiras que trabalharam como se não houvesse amanhã. E fecha com fazendeiros criando gado e soja para alimentar uma humanidade cada vez mais obesa.

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As Araucárias são a espécie arbórea característica de Urupema. Foto: Rita Souza
É tempo de Festival! Foto: Rita SouzaChegando à Pousada Rio dos Touros. Foto: Rita SouzaAraucárias existem desde a época dos dinossauros. Florestas naquele tempo poderiam ser parecidas com esta. Foto: Rita Souza

Some-se a isso o apoio tácito do Estado à destruição, como acontece na Amazônia via FINOR, BNDES, SUDAM, etc., nesse caso através de órgãos como o Instituto Nacional do Pinho.
Em meio ao desastre, sucessivos governos falharam miseravelmente em criar unidades de conservação em áreas extensas deste ecossistema. Restam cacos.
Muitas áreas antes ocupadas por araucárias são hoje plantações de pinus e eucaliptos. Bizarramente, plantações de araucária ocupam áreas extensas na vizinha Argentina, mas não aqui, terra do “pinheiro-do-brasil”.
Uma razão é que muitos proprietários acreditam que não poderão cortar suas árvores quando chegarem ao tamanho comercial. O que acontece bem depois de começarem a produzir pinhões. Sou apenas eu que noto algo errado aqui?

Como aves são dinossauros, esta Borralhara-assobiadora Mackenziana leachii se sente em casa. Foto: Elsie Rotenberg
Como aves são dinossauros, esta Borralhara-assobiadora Mackenziana leachii se sente em casa. Foto: Elsie Rotenberg

As Florestas com Araucária, embora dominadas por uma espécie arbórea, abrigam umas 2.800 espécies de plantas. Muitas são endêmicas, como 827 de 2.117 plantas com flores (Angiospermas), 47 de 352 árvores e 15 das 57 samambaias e afins. A fauna também apresenta exclusividades, notavelmente entre os invertebrados, anfíbios, répteis e pequenos mamíferos.
Entre as aves, minha praia, dentre as cerca de 250 espécies nas Florestas com Araucária, há uns 12 táxons que podem ser considerados restritos à “área-núcleo” das araucárias no sul do Brasil e serras satélite no sul e sudeste.
Papagaio-de-peito-roxo

O Papagaio-charão é a grande estrela para os observadores de aves que visitam a região... Foto: Fábio Olmos
O Papagaio-charão é a grande estrela para os observadores de aves que visitam a região... Foto: Fábio Olmos

Dois papagaios ocorrem nestas matas. E são os protagonistas de uma festa especial que acontece todos os anos em Urupema, a cidade mais fria do Brasil, nas terras altas de Santa Catarina.
À parte algumas populações no norte da Argentina e Paraguai, o Papagaio-de-peito-roxo Amazona vinacea ocorre pontualmente nas regiões serranas do sul da Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, e nas serras e planaltos do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.  Fora poucas localidades, no geral sua distribuição coincide com a das araucárias, que produz os pinhões que são um prato favorito desta espécie.
Os peito-roxo foram dizimados pela destruição de seu ambiente serrano, fato fácil de atestar por qualquer um que já passeou pelas serras Baiana, Fluminense e Capixaba, leste de Minas Gerais e Serra da Mantiqueira. Isso aconteceu especialmente no sul, no holocausto das Florestas com Araucária.
A isso se soma a captura de filhotes, roubados nos ninhos porque ainda há quem cultiva o costume brega, coisa de gente primitiva, de ter aves presas em casa.

.... juntamente com os Papagaios-de-peito-roxo, bem mais raros. Foto: Fábio Olmos
.... juntamente com os Papagaios-de-peito-roxo, bem mais raros. Foto: Fábio Olmos

Os peito-roxo já foram considerados extremamente fáceis de encontrar, com registros históricos considerando-os as “aves mais comum” na serra fluminense e “escurecendo o céu” em Santa Catarina. Um censo recente estima que hoje existam míseros 3 mil exemplares.
Parabéns para você que quer ter um louro em casa.
Do Rio Grande do Sul para Santa Catarina
O charão Amazona pretrei é mais estritamente associado às Araucárias e já foi considerado uma especialidade do Rio Grande do Sul, onde nidifica na região central e norte do estado, uma paisagem de capões de mata dispersos em terras agrícolas.
À parte bichos perdidos na Argentina (dois em 20 anos), no último século os charões sempre ficaram em plagas farroupilhas. Após criarem seus filhotes, se deslocavam das áreas de reprodução para regiões onde predominavam as araucárias. Ali, bandos com milhares de aves se congregavam para aproveitar a safra do pinhão.

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Em abril-maio os Peitos-roxos são vistos em casais ou pequenos grupos... Foto: Fábio Olmos...enquanto os Charões aparecem em bandos... Foto: Fábio Olmos
... e hordas ... Foto: Fábio Olmos
... que atacam as araucárias... Foto: Fábio Olmos... em busca dos pinhões. Foto: Fábio Olmos

Em 1950, um residente de Vacaria reportou observar um bando de papagaios com 1 quilômetro de largura que levou 45 minutos para passar sobre sua cabeça. Pode ser exagero, mas não há dúvida de que os charões (assim como os peito-roxo) já foram extremamente comuns e se reuniam em número prodigioso nas áreas de invernada.
Um destes lugares era a Estação Ecológica Aracuri-Esmeralda, um remanescente de florestas de araucária com 250 hectares, onde cerca de 10-30 mil aves se reuniam nos anos 1970, razão pela qual foi criada a reserva, em 1971.
Só que hoje as hordas dos charões não mais se reúnem ali. A destruição das terras no entorno tornou a pequena reserva incapaz de mantê-los. E, certamente, um monte de outras espécies também se foi graças à fragmentação e isolamento. Um problema sério no Rio Grande do Sul continua sendo a degradação dos capões e matas de galeria na área de reprodução pela retirada de lenha e pastoreio de gado, que impede a regeneração das árvores.
A destruição de seu habitat e a captura para venda aos gaioleiros (300 a 500 filhotes eram retirados a cada ano na década de 1990) levaram a população a um mínimo de 7.500-8.500 indivíduos em 1993-94, quando foi realizado o primeiro censo da espécie, que, por isso, deixou de aparecer em antigos locais de ocorrência, como a Serra do Tapes e a Serra do Herval.
Em meio a esta desgraça generalizada, a história recente dos charões é um alento.

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Satisfeitos, os Charões socializam com os amigos... Foto: Fábio Olmos... e no final da tarde se reúnem em bandos... Foto: Fábio Olmos
... e hordas... Foto: Fábio Olmos... rumo ao poente. Foto: Rita Souza

A situação dos charões chamou a atenção de conservacionistas e pesquisadores e, entre outras iniciativas, levou à criação do Projeto Charão, que já completou 20 anos. Entre atividades de pesquisa e conservação mão na massa, o Projeto conseguiu reduzir a captura de papagaios, conscientizar proprietários rurais para que manejem melhor suas florestas e instalar caixas-ninho, ações que têm permitido a recuperação da população.
O crescimento levou os charões de uma população (leia aqui no capítulo sobre a espécie) de uns 8,5 mil indivíduos, em 1995, para, hoje, algo como 22 mil na natureza.
Fora isso, na década de 1980 os papagaios gaúchos mudaram seu comportamento migratório e “apareceram” em Santa Catarina, onde estão os maiores remanescentes da Floresta com Araucária (que já foi do Paraná...). Ali, os “papagaios estrangeiros”- como os locais os chamavam -  descobriram uma mina de pinhões, alimento crítico que lhes permite acumular reservas de gordura para migrarem e se reproduzirem.
Novo lar
Na Serra Catarinense os papagaios podem ser vistos em grupos de milhares de aves na região centrada nos municípios de Lages, Painel e Urupema. Em maio de 2010, a equipe do Projeto Charão gentilmente me guiou até o dormitório onde cerca de 11 mil aves se reuniam no final da tarde.
Foi um dos espetáculos mais incríveis que já vi.

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A Saíra-preciosa Tangara preciosa é uma espécie sulina que alegrava nosso café da manhã na pousada... Foto: Fábio Olmos... em companhia do Sanhaço-frade Stephanophorus diadematus... Foto: Elsie Rotenberg
... junto com o Bico-grosso Saltator maxillosus... Foto: Fábio Olmos
... o Sanhaçu-papa-laranja Pipraeidea bonariensis… Foto: Elsie Rotenberg... e o Sanhaço-de- fogo Piranga flava. Foto: Fábio Olmos

Em junho de 2011, minha amiga e colunista do O Eco Maria Tereza Jorge Pádua publicou um artigo sobre um dos mais impressionantes e, até então, desconhecidos espetáculos da vida selvagem na América do Sul: os bandos de milhares de papagaios-charões que se reúnem na Serra Catarinense a cada ano quando as araucárias começam a amadurecer seus pinhões.
O texto descrevia o espetáculo dos papagaios -- então desprezado pelas autoridades responsáveis pelo desenvolvimento regional --, seu potencial como catalisador para o ecoturismo e a necessidade de melhorar o receptivo turístico.
Este artigo não caiu em ouvidos moucos. Ele foi o estopim que levou à criação do 1º Festival do Papagaio-charão, com a primeira edição já em 2012.
Festivais de observação de aves são tradicionais em vários lugares do mundo, onde a festa gira em torno de uma ou mais espécies emblemáticas. Atividades que vão de palestras a feiras de produtos, claro, passando por saídas de campo. Atraem visitantes que movimentam a economia local e animam a vida cultural de lugares que, em muitos casos, seriam visitados por poucos.
No Brasil se destaca, além do festival de Urupema, o precursor Festival Brasileiro de Aves Migratórias, em Tavares, porta de entrada do Parque Nacional da Lagoa do Peixe, que em outubro deste ano terá sua 13ª edição.
Além, é lógico, do Avistar, nossa feira de observadores de aves e seus filhotes (Rio, Brasília, Belo Horizonte, Vale Europeu, Vitória, Rio Branco...)
O rebatizado Festival do Papagaio-charão e Festival do Papagaio-de-peito-roxo ocorre em Urupema, a cidade mais fria do Brasil, em datas variáveis que aproveitam os feriados entre o final de abril e o início de maio. A edição de 2016 foi durante o feriado prolongado do 21 de abril.
Depois daquela visita em 2010, voltei à região para participar do Festival. E gostei muito do que vi.
Fria e hospitaleira

Nem só de papagaios vivem os observadores de aves em Urupema. Há Grimpeiros Leptasthenura setaria, que teoricamente só vivem sobre as araucárias (ninguém contou para esse, que procurava insetos no chão)... Foto: Rita Souza
Nem só de papagaios vivem os observadores de aves em Urupema. Há Grimpeiros Leptasthenura setaria, que teoricamente só vivem sobre as araucárias (ninguém contou para esse, que procurava insetos no chão)... Foto: Rita Souza

Urupema está em uma das regiões mais cênicas do Brasil. O mosaico de campos naturais e florestas com muitas araucárias, de serras e planuras, agrada os olhos. Ali pudemos ver bandos com milhares de papagaios-charões (e um número bem menor de peitos-roxos) sob aquela luz que faz os fotógrafos rirem sozinhos. Inclusive na própria pousada onde ficamos, a agradável Eco Pousada Rio dos Touros.
E além de muitos, muitos e muitos papagaios que posaram voando, pousados, comendo pinhões, brincando, etc., etc., também vimos especialidades e raridades, como o Pedreiro Cinclodes pabsti e o Grimpeirinho Leptasthenura striolata – endemismos do sul do Brasil, e os ameaçados Veste-amarelaXanthopsar flavus, Noivinha-de-rabo-preto Xolmis dominicanus e a impressionante Águia-cinzentaUrubitinga coronata. Além de uma certa espécie ainda não descrita que não entregarei aqui.
Este relato e vídeo de festivais passados dão uma ideia do que esperar.
E espero que tantas outras cidades que têm aves fantásticas como Urupema percebam o potencial deste turismo. Desejo o mesmo para os órgãos ambientais que estupidamente continuam fechando os parques para os observadores de aves.

... Grimpeirinhos Leptasthenura striolata, que só existem na região dos Campos Sulinos e Florestas com Araucária do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul... Foto: Fábio Olmos
... Grimpeirinhos Leptasthenura striolata, que só existem na região dos Campos Sulinos e Florestas com Araucária do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul... Foto: Fábio Olmos

Apesar de ter apenas cerca de 2,5 mil habitantes, Urupema tem acesso fácil e agradáveis pousada. A culinária, sabendo onde, tem joias que degustamos durante o jantar oferecido pela organização. Parabéns aos mestres jedi e padawans dos cursos de gastronomia e enologia do IFSC.
E, last but not least, a cidade está em uma região que produz vinhos de qualidade surpreendente e que já mereceriam um tour próprio. Ou um tour como os já feitos no Chile, Argentina e Califórnia, que combinam observação de aves com visitas e degustações nas vinícolas.
Festivais como esse também são momentos para encontrar velhos amigos e fazer novos, trocar experiências, contar e ouvir “causos”, pegar dicas de viagem e equipamento, e fazer planos para novas aventuras. E em uma cidade pequena e fora da temporada turística, o evento ajuda a economia local.

É claro que um lugar com araucárias tem que ter Gralhas-azuis Cyanocorax caeruleus... Foto: Fábio Olmos
É claro que um lugar com araucárias tem que ter Gralhas-azuis Cyanocorax caeruleus... Foto: Fábio Olmos

... que também comem pinhões. Foto: Elsie Rotenberg
... que também comem pinhões. Foto: Elsie Rotenberg

Reservas privadas
Aproveitei a oportunidade para conhecer a nova reserva particular do patrimônio natural, a RPPN Papagaios de Altitude, adquirida pelo Projeto Charão através da Associação Amigos do Meio Ambiente com fundos da IUCN NetherlandsRainforest Trust e apoio da Fundação Grupo Boticário.
Essa pequena propriedade de 46,8 hectares é o núcleo do que esperamos se tornar uma área manejada para a natureza que inclua não só RPPNs – do Projeto e seus vizinhos - mas também terras onde as araucárias, os papagaios e seus acompanhantes sejam conservados porque seu verdadeiro valor foi descoberto.
E aí vale lembrar que enquanto um quilo de maças produzidas na região é vendido a R$ 2,50, o quilo do pinhão já passou de R$ 8, o que deveria fazer algumas fichas caírem. Nessa linha, iniciativas muito interessantes foram lançadas pelo programa Araucária+, parceria da Fundação CERTI e da Fundação Grupo Boticário.
Visitando a RPPN Papagaios de Altitude também descobri que há outras iniciativas privadas para conservar o que sobrou da Floresta com Araucária, como as RPPNs Grande Floresta das AraucáriasSerra da Farofa e Emilio Einsfeld Filho, todas com mais de 4 mil hectares.

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O Pedreiro <i>Cinclodes pabsti</i> ocorre apenas na região dos campos do alto da serra de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Foto: Fábio OlmosOutras espécies campestres são o Sabiá-do-banhado <i>Embernagra platensis</i>... Foto: Rita Souza
... a estilosa Seriema Cariama cristata... Foto: Rita Souza...o Chopim-do-brejo <i>Pseudoleistes guirahuro</i>... Foto: Fábio Olmos
O Veste-amarela Xanthopsar flavus vive em grandes bandos. É uma espécie ameaçada de extinção porque nidifica em banhados... Foto: Fábio Olmos
... que são destruídos pelos fazendeiros. Como este, no Morro do Combate, transformado em plantação de batatas. Foto: Rita Souza

Mas nem tudo são flores na região de Urupema.
O Morro do Combate, onde há campos, banhados e florestas, é um dos locais mais fabulosos para avistamento de aves. Ali era um ponto clássico para observar os Vestes-amarelas, espécie endêmica do Pampa e dos Campos Sulinos. Ela depende dos prados para sua alimentação e, como outras aves do bioma, depende como área de reprodução dos banhados nos fundos dos vales e das depressões.
Infelizmente o banhado usado pelos Vestes no Morro do Combate foi drenado para se transformar em uma plantação de batatas. Encontramos alguns Vestes ainda por lá, depois de muitos os terem procurado sem sucesso. Por quanto tempo resistirão?
Risco politicamente correto
Pior ainda. Há o projeto, já em licenciamento, para instalar um parque eólico com mais de uma centena de aerogeradores. Embora a energia eólica seja considerada limpa em termos de emissões de CO2, isso está longe de significar que seja sempre “verde”.

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A Noivinha-de-rabo-preto <i>Xolmis dominicanus</i> é outra espécie ameaçada endêmica dos Campos Sulinos. Foto: Elsie RotenbergA espetacular Águia-cinzenta Urubitinga coronatus é o grande predador alado dos Campos Sulinos e do Cerrado, e colonizou áreas desmatadas como o Vale do Paraíba. Entre outros predadores, como os Pumas (ou Leões-baios), seria comum não fosse a tradição primitiva dos fazendeiros de gastar dinheiro com balas ao invés de cães pastores, currais e chiqueiros adequados.

Na realidade, em algumas regiões,  parques eólicos instalados em áreas utilizadas por aves e morcegos têm causado níveis de mortalidade inaceitáveis, que em alguns casos levou ao declínio de espécies ameaçadas. Um parque já implantado na região desrespeitou as recomendações dos biólogos e suas estradas de acesso destruíram banhados preciosos. Coisa de engenheiro.
E eis que algum gênio agora deseja colocar estes moedores de carne em uma região sujeita a neblina onde circulam bandos com centenas de papagaios, além de aves de rapina. Não requer brilhantismo para ver que isso é pedir para uma desgraça acontecer.
E vale lembrar que isso destruiria um dos maiores atrativos de Urupema - seu cenário – em troca de um mínimo de empregos locais. Como Belo Monte e Tapajós, essa é uma daquelas ideias tão infelizes que nem deveria ter sido cogitada.
Veremos o que o futuro reserva para os Papagaios de Altitude e o que os licenciadores da FATMA resolverão. A vida não tem sido fácil para os highlanders, papagaios e outros, que estão longe de serem imortais.
 Fonte: http://www.oeco.org.br/blogs/olhar-naturalista/as-araucarias-e-o-grande-festival-dos-papagaios-de-urupema/