sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Dentro da floresta, a Vale tem pressa

“Você tem um morro, coberto de floresta, depois um platô – que é onde aflora o minério de ferro – e, na vertente do platô, um vale, também coberto de floresta. Para abrir a mina, você vai desmatar esse platô – que parece pelado, mas está coberto pela canga, a savana metalófila de Carajás –, fazer uma cava, e, da terra que você tira, desmata esse vale todinho, faz uma pilha. Então, onde era vale, vira montanha, e onde era platô, vira um buraco”, explica o biólogo mineiro Frederico Drumond Martins, funcionário do Instituto Chico Mendes (ICMBio) e há cinco anos gestor da Floresta Nacional (Flona) de Carajás. A paisagem que serve de exemplo para a rápida lição sobre o impacto da mineração na serra de Carajás se avista da estrada asfaltada que vai da cidade de Parauapebas à área das minas da Vale S/A dentro da floresta. Nesses 411.949 hectares de terras federais – distribuídos entre os municípios de Parauapebas e Canãa dos Carajás – convivem o maior complexo mineral do mundo, com reservas estimadas em 18 bilhões de toneladas de minério de ferro de alta qualidade, além de jazidas de manganês, cobre, níquel, ouro e outros minerais, e uma unidade de conservação “de extrema importância para a conservação da biodiversidade brasileira”, de acordo com o Mapa de Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente. A riqueza de espécies reflete a transição entre os biomas da Amazônia e do Cerrado nessa variedade de relevos e solos cortados por igarapés e cobertos pelas florestas tropicais úmidas (ombrófilas) da Amazônia – que ali abrigam castanheiras de 50 metros de altura, maçarandubas e outras madeiras de lei e são entremeadas por florestas secas e palmeirais nas encostas dos morros. Nos platôs, que chegam a 900 metros de altitude, abrem-se as clareiras de savana metalófila (canga hematítica), uma vegetação que cresce sobre as jazidas de ferro e que, na região amazônica, só existe ali. Um levantamento recente da fauna da Flona Carajás, feito pela Vale e o ICMBio, encontrou 945 espécies de vertebrados, sem contar os peixes, e uma das avifaunas mais ricas do país, com 545 espécies, diversas ameaçadas de extinção. O principal objetivo do decreto que criou a unidade de conservação em 1998, porém, era garantir à recém-privatizada Vale “o uso de todas as terras da União com portarias de lavra registradas desde 1969”, ou seja, a concessão de todas as jazidas de minério de ferro e de lavras de manganês, minério de cobre, níquel e ouro dentro da Flona Carajás. De acordo com o Plano de Manejo de 2003, um quarto da unidade – 104 mil hectares – é zona de mineração, incluindo toda a área de canga, que ocupa 5% do total da área ainda preservada. O melhor minério do mundo extraído de Carajás. Em contrapartida pela exploração das jazidas dentro da unidade de conservação federal, administrada pelo ICM-Bio desde 2007, a companhia assumiu a responsabilidade de preservar todo o cinturão de áreas protegidas que compõem os 8.073 km² do Mosaico de Carajás – metade disso ocupada pela Flona de Carajás e a outra metade pelas Flonas Itacaiúnas e Tapirapé-Aquiri (onde a Vale pesquisa tântalo, cobre, estanho, ouro, minério de ferro e níquel e ainda extrai cobre das minas de Salobo, no município de Marabá), além da Reserva Biológica de Tapirapé e da Área de Proteção Ambiental do Igarapé Gelado. Entre 2005 e 2009, de acordo com dados obtidos pela Lei de Acesso à Informação, a Vale foi autuada nove vezes pelo Ibama por infrações ambientais cometidas dentro da área que deveria ajudar a proteger. Às vésperas de a Vale implantar o seu maior projeto em Carajás, a convivência entre ambiente e mineração ali está longe de estar bem resolvida. Em junho deste ano, depois de oito anos de negociações com os órgãos ambientais, a Vale conseguiu obter a licença prévia do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para o projeto S11D, a primeira mina de ferro na Serra Sul da Floresta Nacional de Carajás, planejada para entrar em operação em 2016. Em quatro anos, a produção anual de minério de ferro de Carajás vai passar dos atuais 110 milhões de toneladas para 230 milhões de toneladas de minério de ferro. O projeto – com investimento de US$ 8 bilhões para a abertura da mina e US$11,4 bilhões para obras de logística para escoar a nova produção – ainda depende de outras licenças (de Instalação e Operação) para ser implantado. Minerando na floresta: uma cratera é uma cratera Percorremos 140 quilômetros de estradas dentro da Flona no jipe Mitsubishi 4×4 do ICMBio, observando três das quatro minas em operação na Serra Norte, a partir dos mirantes suspensos sobre as cavas, e passeando pela natureza quase intocada da Serra Sul. A Vale não estava disposta a mostrar sua área de produção aos jornalistas da Pública: embora nossa visita tivesse programada com antecedência de um mês, a assessora de imprensa que nos recebeu disse que a ida às minas estava cancelada por “falta de escolta” e nos levou para ver as antas, araras, macacos e onças que vivem nos recintos do Parque Zoobotânico – o zoológico, como é conhecido pela população de Parauapebas, que abriga 260 animais resgatados pela fiscalização dos órgãos ambientais. Atualmente a companhia ocupa menos de 4% do território (13 mil hectares), principalmente na porção norte da Serra de Carajás, onde ficam as três minas de ferro – N4E, N4W e N5, abertas em 1984, 1994 e 1998, respectivamente. No ano passado, as três minas produziram 109,8 milhões de toneladas de minério de ferro, um terço de toda a produção brasileira, equivalentes a cerca de US$ 13 bilhões. Vista da floresta a partir da canga. Você pode ampliar a imagem acima usando os botões no canto inferior direito. A operação funciona 24 horas por dia e, na virada dos turnos (são três), as estradas ficam tomadas pelos ônibus que trazem os operários de Parauapebas. A Vale não informa o número de trabalhadores das minas – estimados entre 10 mil e 20 mil (incluindo os que atuam para 35 empresas terceirizadas) pela Justiça do Trabalho de Parauapebas. Em 2010, por sinal, a companhia foi condenada a pagar aos operários R$ 100 milhões de reais de indenização por danos morais e R$ 200 milhões por dumping social pelas horas perdidas no itinerário, que não eram computadas nas jornadas de oito horas diárias – a companhia recorreu do valor, e um acordo está sendo negociado. As estradas com trânsito pesado e as linhas de energia que servem ao complexo minerador são os impactos ambientais mais visíveis antes de chegar às cavas de onde se extrai o minério, cercadas por pilhas de estéril (a terra que sobra da extração de minério) que transformam platôs em buracos e vales em montanhas, como descreveu o gestor da Flona. Do mirante da N5, uma estrutura de madeira suspensa na imensa cratera cor de chocolate – a mais nova e mais produtiva –, parecem de brinquedo as escavadeiras de 80 toneladas de peso e as pás carregadeiras que trabalham dentro da cava, assim como os caminhões de 8 metros de altura com capacidade para transportar 400 toneladas de terra. No fundo do vale fica a barragem de resíduos da mineração em um dos braços do rio Parauapebas; embora esses resíduos não sejam tóxicos (como ocorre no caso da mineração do cobre), assoreiam o rio. A barragem reduz a sedimentação, mas provoca uma interferência significativa nos cursos d’agua e em seu entorno, principalmente na época das chuvas. “A mineração tem um grande efeito no sistema hídrico, porque, além de usar muita água no beneficiamento do minério (que depois será bombeada para o rio e contida pela barragem), para minerar você tem que drenar as jazidas, que são um aquífero poderoso”, destaca o gestor da Flona. Comunidades rurais visitadas pela Pública, como a Vila Bom Jesus e a Vila Planalto, queixam-se de enchentes que inundam as casas e matam os animais desde a implantação de uma mina de cobre – a Mina do Sossego – em 2004, do lado de Canãa dos Carajás. Canga de Carajás. Passamos pelas estruturas de suporte operacional das minas – oficina, central de resíduos, refeitórios para empregados, estação de tratamento de água, central de inteligência – e avistamos a usina de beneficiamento, onde o minério é lavado, classificado de acordo com o tamanho, britado e peneirado. Nesse estado quase bruto, é transportado pela Estrada de Ferro Carajás por 892 quilômetros até o porto de Ponta de Madeira, o terminal marítimo da Vale em São Luís do Maranhão, de onde é exportado para a China e outros países da Ásia, principalmente. A cava N4E, que visitamos a seguir, é a mais antiga de Carajás e impressiona pela profundidade vertiginosa e pelo movimento bem menor de máquinas e caminhões – conforme a extração avança, vai entrando mais fundo atrás do corpo do minério, o que torna a exploração menos lucrativa. Quando o Projeto Grande Carajás foi instalado, nos anos 80, os militares falavam em 500 anos de recursos minerais ali. Ao ritmo de 100 milhões de toneladas por ano, crescendo para 230 milhões a partir de 2016, as reservas devem se exaurir antes no final do século, segundo calcula o jornalista paraense Lúcio Flávio Pinto, que há mais de 30 anos pesquisa a mineração em seu estado. “Carajás levou 15 anos para produzir os primeiros 500 milhões de toneladas de minério de ferro. Outros 500 milhões foram alcançados nos sete anos seguintes — em menos da metade do período anterior, portanto. Esse mesmo volume foi registrado nos últimos cinco anos. E, com a entrada em operação da nova mina, ao sul da atual, a produção de 500 milhões de toneladas será batida a cada três anos. Significa dizer que a produção acumulada de Carajás chegará a dois bilhões de toneladas em quatro anos, e os 18 bilhões de reservas terminarão 80 anos depois”, explica. A canga de Carajás: o obstáculo para explorar a Serra Sul Dizem que foi ao avistar as manchas de canga no topo dos morros, em 1967, a bordo de um helicóptero da US Steel – a sócia norte-americana da então estatal Companhia Vale do Rio Doce –, que o geólogo Breno Santos descobriu a presença de ferro na Serra de Carajás, a maior província mineral do mundo. Vista como uma cobertura vegetal rala que só tinha importância por sinalizar a presença de minério, a canga de Carajás começou a ter seu valor para a biodiversidade reconhecido a partir de 2004, quando a Vale passou a realizar estudos sistemáticos sobre o ecossistema a partir de uma exigência do Ibama na renovação da concessão das minas da Serra Norte. Desde então, a subestimada vegetação vem revelando alto grau de endemismo (espécies que só existem ali) de seus habitats únicos – os campos brejosos de arroz selvagem, rodeados de babaçus e uma profusão de cavernas entre lagoas doliniformes permanentes (depressões rochosas que acumulam água de chuva). A lagoa da Dina corre risco. Você pode ampliar a imagem acima usando os botões no canto inferior direito. Os estudos sobre “a área mínima de canga”, como são chamados, estão sendo concluídos agora, o que retardou a abertura da mineração na intocada Serra Sul – com reservas de 10 bilhões de toneladas de minério de ferro. A ideia inicial da Vale era obter o licenciamento ambiental para explorar toda a jazida, mas, depois de quatro anos de negociações infrutíferas com os órgãos ambientais, a companhia apresentou ao Ibama, em 2008, a versão atual do que será “o maior projeto da companhia”, segundo seu material promocional: a exploração de um dos quatro blocos – o “D” – do corpo mineral 11, na Serra Sul (daí a denominação dada pelos geólogos, S-11-D). Até obter a licença prévia do Ibama, em junho deste ano, o projeto passou por mais cinco anos de alterações – incluindo o desenvolvimento de um novo sistema de lavra e beneficiamento do minério para reduzir o impacto ambiental. Embora a produção da multinacional brasileira em Minas Gerais, estado onde a empresa nasceu ainda seja maior do que a do Pará, Carajás é o polo em expansão porque tem maior potencial de reservas e oferece minério com teor de ferro acima de 66% (o de Minas tem pureza em torno de 53%). “Sempre vai ter mercado para Carajás, a nossa vantagem competitiva é a qualidade do minério”, afirma Jamil Sebe, o diretor do Projeto Ferrosos Norte da Vale, quando questionado sobre a conveniência de investir US$ 19,4 bilhões no projeto S11D em um momento de baixa dos preços e crise da indústria siderúrgica internacional. Para o diretor, o projeto S11D merece o “aval da sociedade” pelas inovações tecnológicas que apresenta: o sistema de lavra truckless, que substitui os caminhões por correias transportadoras e equipamentos modulares para levar o minério da mina à usina – localizada fora da Floresta Nacional de Carajás, em área de pastagem, onde também serão despejadas pilhas de estéril –, e um processo de beneficiamento do minério com uso da umidade natural, que promete economizar 93% da quantidade de água utilizada. “Adotamos um sistema de peneiras, fruto de dois anos de pesquisa, que permite a lavagem do minério a seco. Mas isso não pode ser usado em todas as minas. É a granometria do minério da Serra Sul que permite que ele passe na tela”, explica, contabilizando uma redução de 77% de combustível e 50% dos gases estufa com o novo sistema de lavra. Frederico João Martins, gestor da Flona, mostra a barragem de resíduos. Apesar do entusiasmo do porta-voz da Vale, os documentos do processo de licenciamento ambiental da S11D mostram que as mudanças não foram espontâneas. Segundo os estudos de impactos ambientais (EIA-Rima) apresentados em 2010, o sistema de lavra era o mesmo da Serra Norte, e sacrificaria 2.591 hectares de vegetação – entre floresta e canga – e dezenas de cavernas, além de destruir as lagoas do Violão e do Amendoim – que representam 45% das superfícies lacustres da Serra Sul, desempenham função ecológica importante para a fauna e apresentam “grande beleza cênica, com potencial turístico”, outro atributo para ser considerada área de preservação, segundo o Plano de Manejo. Em parecer técnico de julho de 2011, o Ibama considerou que os cinco volumes do EIA-Rima não forneciam “subsídios para avaliar a viabilidade ambiental do projeto” e solicitou novos estudos. Três meses depois, a Vale protocolou quatro volumes de informações complementares, incluindo um capítulo “Melhorias/Meio Físico”, em que propunha o sistema de lavra truckless e a locação de pilhas de estéril fora da Flona, poupando “207 hectares de savana metalófila, 63 hectares de floresta estacional decidual (floresta seca) e 806 hectares de floresta ombrófila, uma redução da interferência em ambientes naturais da ordem de 43%”, segundo parecer do Ibama. A cava também foi redesenhada para respeitar o perímetro de 250 metros das cavidades de “máxima relevância” (cavernas protegidas por lei por sua importância espeleológica, arqueológica e/ou biológica), e preservar as lagoas do Violão e do Amendoim. O mesmo parecer do Ibama, porém, considerou o projeto insuficiente para preservar as lagoas do Violão e do Amendoim, por impactar o entorno, alterando a absorção das águas da chuva e reforça a importância de preservar “espécies novas para a ciência, registradas exclusivamente no Corpo S11D e localizadas nas margens das lagoas perenes, ao alcance das áreas que sofrerão o chamado efeito de borda (até 500 metros)”. A disputa entre as exigências ambientais e os interesses da Vale atingiu o impasse em maio deste ano, um mês antes da Licença Prévia do Ibama, quando a Vale apresentou sua resposta ao parecer técnico do Ibama. No item “Abordagem aos Aspectos da Viabilidade Econômica do Projeto Ferro Carajás S11D”, a empresa afirmou: “As perdas de reserva de minério de ferro, em decorrência da obrigatória manutenção dos perímetros de proteção das cavidades de relevância máxima e as áreas de contribuição das Lagoas do Violão e do Amendoim, representariam uma redução das reservas da ordem de 1,85 bilhão de toneladas de minério de ferro explotáveis, resultado que corresponde a 52% de toda a reserva. Tal fato representaria o comprometimento da viabilidade econômica do Projeto S11D”. Quanto valem as Lagoas da Serra Sul? “Aqui onde vocês veem essas palmeirinhas é um buritizal, um terço de todos os buritizais da Flona estão aqui, no bloco D”, explica o gestor da Flona, quando descemos do jipe para conhecer uma parte da área ameaçada pelo S11D. O buritizal ficam em torno de um brejo, na verdade um campo de arroz nativo, “de grande relevância alimentar para aves e pequenos roedores”, como descreve um dos pareceres técnicos do ICM-Bio. “As consultorias contratadas pela Vale para fazer os levantamentos de flora já encontraram dez espécies novas na Serra Sul, oito no corpo S11, e três que só existem aqui, no bloco D. E ainda há coisas a descobrir”, conta Frederico Drumond, enquanto caminhamos pela canga, povoada de bromélias e cactos. Um quarto da Flona é zona de mineração. Passamos pela Cachoeira do Peladão, uma formação rochosa de altura impressionante, completamente seca no verão amazônico, e, alguns metros adiante, avistamos as águas azuis perenes – que chegam a 14 metros de profundidade – na lagoa de pedra, batizada de Cachoeira do Violão, por causa do desenho de seu contorno. Os moradores dos sítios e povoados próximos preferem chamá-la de Lagoa da Dina, em homenagem a uma das mais carismáticas guerrilheiras do Araguaia. Nos anos 70, a guerrilha ocorreu na mesma mesorregião de Carajás, o Bico do Papagaio. Bem perto da lagoa, já está montada uma pequena infraestrutura para dar início ao projeto: torre de energia elétrica, alojamentos de madeira para os funcionários terceirizados responsáveis pelas sondagens minerais. “Tudo isso vai ter que sair daqui”, diz o gestor da Flona Carajás, referindo-se à distância obrigatória de 500 metros entre a área de produção e a lagoa que consta da autorização do ICM-Bio, emitida junto com a Licença Prévia do Ibama. As exigências expressas nos dois documentos têm de ser cumpridas até o requerimento da Licença da Instalação. A reportagem da Pública apurou, porém, que a Vale não terá necessariamente que respeitar essa distância. Depois da alegada “inviabilidade econômica do projeto” por conta das restrições ambientais, uma série de reuniões entre os órgãos ambientais, representantes do governo federal e mineradora resultou em um acordo expresso na Licença Prévia do Ibama: a companhia poderá apresentar estudos concluindo que a proteção de 500 metros no entorno das lagoas não é imprescindível para preservar sua integridade e funcionalidade ecológica. Sem admitir o acordo, ICMBio e Ibama afirmam que é aparente a divergência entre os documentos da licença prévia emitidos pelos dois órgãos. Ambos aguardam as análises da companhia para decidir quanto ao seguimento do processo de licenciamento ambiental. “As lagoas serão preservadas, o que está em estudo é a necessidade da preservação do seu entorno em 500 metros”, explicita mensagem enviada pela assessoria de imprensa do Ibama. Espécies endêmicas da Serra Sul. “Nós vamos cumprir todas as condições do Ibama, mas ainda não completamos os estudos”, diz o porta-voz da Vale, Jamil Sebe, ressalvando não acreditar na “inviabilidade econômica do projeto”. Questionado sobre o que fará a companhia se for obrigada a reduzi-lo, respondeu: “Nesse caso ainda temos o bloco A, B, C. A Serra Sul tem 120 quilômetros, o bloco D tem 9 quilômetros”. O que significaria, porém, o início de um novo processo de licenciamento e um atraso dos planos – que aparentemente não interessa também ao governo brasileiro, que luta para retomar o crescimento econômico diante da crise mundial? O minério de ferro é o principal produto de nossa balança comercial, hoje, e responde por cerca de 10% das exportações do país. Que futuro aguarda as minas de Carajás? De acordo com o relatório da Vale para a Bolsa de Nova York – chamado de F-20 –, em 2021, a mina N4E estará esgotada. As outras duas minas da Serra Norte – N5 e N4W– têm datas de exaustão previstas para 2027 e 2037, respectivamente. Para o projeto S11D, na Serra Sul, a previsão de exaustão é de 39 anos, segundo Sebe – 2055, portanto, se se mantiver o cronograma da empresa. As antigas cavas terão de ser fechadas, e o ambiente, recuperado, segundo a legislação brasileira. Não há, contudo, precedentes para que se saiba o que vai acontecer com a área degradada. Em Minas Gerais, onde atua desde seu início, há 70 anos, a Vale anuncia um projeto de recuperação da mina de Cauê, no Complexo Itabira, que estaria sendo feito “em sinergia” com as demais minas do complexo – Conceição e Minas do Meio – aproveitando-se a pilha de estéril e os rejeitos da unidade de tratamento de minério para preencher a antiga cava. O processo de fechamento teria que ser acompanhado pelo Departamento Nacional de Produção Mineral a partir de comunicações da companhia que, segundo o órgão, nunca foram feitas. Ou não estão sendo fiscalizadas, como se percebe pela resposta obtida pela Pública por meio da Lei de Acesso à Informação: “Prezada Senhora Marina, até onde temos conhecimento a Vale nunca nos apresentou um ‘comunicado de fechamento de mina’, mas para ter certeza desta informação teríamos que ler integralmente as centenas de processos que a Vale possui no DNPM/MG, o que é totalmente inviável na prática, isto é, impossível de ser realizado. Aproveito para dizer que, de acordo com a Portaria 201/2006 do Diretor Geral do DNPM, os processos do DNPM são sigilosos, tendo acesso aos mesmos apenas os titulares e seus procuradores e eventualmente pessoas que comprovem serem interessadas, devendo ser comprovada esta condição de acordo com art. 3º da citada Portaria. Atenciosamente, Geól. Paulo Ribeiro de Santana”. * Esse artigo é publicado em parceria com a Pública, onde foi originalmente publicado. Fonte: http://www.oeco.com.br/reportagens/26684-dentro-da-floresta-a-vale-tem-pressa

A viagem dos grandes machos para as terras altas

Manaus, AM – Em junho, quando a estação seca e fria chega ao arquipélago de Galápagos, no Oceano Pacífico, grandes tartarugas da Ilha de Santa Cruz, algumas com mais de 250 quilos, inciam uma lenta e tediosa jornada em direção a terras mais altas. Elas se deslocam até 10 quilômetros, através de encostas do vulcão, para atingir altitudes acima dos 400 metros, onde passam meses. Lá em cima, uma névoa característica desta época do ano permite que a vegetação continue a se desenvolver, enquanto as áreas mais baixas sofrem com a estiagem. O comportamento migratório das tartarugas-gigantes-de-galápagos (Chelonoidis nigra) foi descrito por pesquisadores do Instituto Max Planck para Ornitologia e da Fundação Charles Darwin. Para monitorar as tartarugas, os cientistas utilizaram localizadores GPS, que foram presos a 17 indivíduos. Além disso, em caminhadas realizadas mensalmente, eram anotados dados como sexo, tamanho e localização das tartarugas encontradas. Os dados do GPS foram combinados com informações sobre temperatura e disponibilidade de vegetação. O estudo durou dois anos. O que surpreende os cientistas é o comportamento das gigantes de Galápagos ser diferente ao de outras tartarugas, em que os machos dominantes, capazes de enfrentar os concorrentes na disputa por alimento, permanecem no local de origem, enquanto os jovens se aventuram em busca de novas áreas. No caso das tartarugas-gigantes-de-galápagos, por alguma razão ainda desconhecida, são os machos maiores e mais desenvolvidos que se deslocam. As fêmeas também migram, mas só após a postura dos ovos. "Ou o gasto energético dessa caminhada árdua é muito alto ou ainda há comida suficiente disponível, mas só para os animais menores", suspeita Stephen Blake, pesquisador o Instituto Max Planck. “Talvez os animais mais jovens não possam tolerar o clima frio e úmido das regiões mais altas”. Outro dado que intriga os cientistas é que essas tartarugas podem passar até um ano sem se alimentar, portanto, poderiam sobreviver à carência de comida durante a estação seca. Os cientistas continuam os estudos e vão incluir tanto variáveis ecológicas, quanto informações sobre idade, sexo e morfologia na coleta e análise dos dados. Eles destacam a tenacidade por trás desse comportamento. A migração continua, apesar de todas as ameaçam sofridas pelas tartarugas, como a perda de habitat, a caça e a chegada de espécies invasivas, como ratos e cabras. Os pesquisadores destacam que conhecer melhor o comportamento migratório pode ajudar a estabelecer corredores para as tartarugas se deslocarem, preservando seus ambientes importantes e tomando medidas para reduzir os impactos de rodovias e do crescimento das cidades. Essa migração tem um outro importante papel ecológico na ilha: durante o deslocamento, as tartarugas dispersam sementes. Fonte: Vandré Fonseca O ECO - http://www.oeco.com.br/noticias/26689-a-viagem-dos-grandes-machos-para-as-terras-altas

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Piruetas da Baleia Azul!

Pesquisa na Biology Letters mostra que os maiores animais do mundo conseguem girar seus corpos 360º para investir contra grupos de krill. Nunca essa acrobacia havia sido observada em um animal tão grande. As baleias azuis (Balaenoptera musculus), que podem ter até impressionantes 30 metros de comprimento, são os maiores animais existentes na Terra. Mesmo com nadadeiras relativamente pequenas para o seu tamanho, os cientistas acabam de descobrir que esses mamíferos marinhos são capazes de dar impressionantes piruetas de 360º para abocanhar aglomerados de krill (um pequeno crustáceo que mede menos de 4 centímetros de comprimento, principal alimento das baleias azul – veja quadro) e outras presas. “Nossa análise mostrou manobras e investidas por alimento que reorientaram a baleia, posicionando-a de modo que o enxame de krills possa ser engolido com o corpo invertido”, escrevem os autores em uma publicada nesta terça-feira na revista científica Biology Letters. Saiba mais KRILL É um crustáceo com menos de 4 centímetros de comprimento. Vive em grupos parecidos com enxames e chegam a atingir densidades de 50.000 indivíduos por metro cúbico. O principal predador do krill é a baleia-azul, que em um único dia consegue comer cinco toneladas do crustáceo. Uma equipe liderada pelo zoologista Jeremy Goldbogen, do Cascadia Research Collective, em Washington, nos Estados Unidos, realizou imagens a partir de micro-câmeras e sensores de movimento acoplados a 22 baleias azuis. No vídeo abaixo, divulgado com a pesquisa – e nas tomadas separadas na imagem –, pode-se observar o enxame de krill sendo abocanhado pelo animal gigante. Um texto da revista Nature sobre a pesquisa explica que outros animais são conhecidos por malabarismos semelhantes. É o caso de golfinhos-rotadores (Stenella longirostris), que saltam da água em parafuso para se livrarem de pestes em seu corpo. Um pouco mais agressivos, os jacarés também rodopiam em 360º depois de abocanhar suas presas, para desmembrá-las em instantes. Nunca, no entanto, essa acrobacia havia sido observada em um animal tão grande. Outras espécies de baleia, como a jubarte, também reorientam seus corpos na busca por alimentos. Só que seus giros na maioria das vezes ficam em 90º e não excedem os 150º. Visão panorâmica – No artigo da Biology Letters, Goldbogen escreve que as piruetas também foram observadas instantes antes de uma baleia iniciar uma investida contra um enxame de krills. Isso pode ser explicado, dizem os pesquisadores, pelo fato de os cetáceos (a ordem dos animais marinhos pertencentes à classe dos mamíferos) terem os olhos nas partes laterais da cabeça. “Girar o corpo deve melhorar a visão panorâmica em múltiplas dimensões”, afirmam os autores. “O resultado sugere que esse comportamento pode também ser importante para observar a distribuição das presas em um determinado campo.” No estudo, apenas 10% das investidas das baleias azuis em busca de alimento envolveram uma pirueta de 360º, o que indica que a manobra, que demanda bastante energia, pode ser reservada para um tipo específico de aglomerado de presa. “Para um enxame de krill difícil de atacar, as baleias azuis podem ser motivadas a empreender essas acrobacias extraordinárias para maximizar a eficiência da busca por alimentos. Sem a manobra, as baleias azuis poderiam perder completamente o rastro dos krills, levando a um mau uso do tempo de mergulho, que é limitado, e a perda de eficiência na procura por presas”, concluem. Bibliografia: Goldbogen, Calambokidis, Friedlaender, Francis, DeRuiter, Stimpert, Falcone e Southall. Underwater acrobatics by the world’s largest predator: 360° rolling manoeuvres by lunge-feeding blue whales. Biol Lett 2012 9: 20120986 Fonte: Boainformacao.com.br http://www.boainformacao.com.br/2012/11/cientistas-filmam-baleia-azul-dando-piruetas-na-agua/

Campinas inaugura maior usina de energia solar do Brasil

Na última terça-feira (27), a CPFL Energia inaugurou a Usina Tanquinho, primeira a usar painéis solares fotovoltaicos em São Paulo. Instalada em Campinas, a maior usina fotovoltaica do Brasil tem capacidade para abastecer 657 residências. Começou a funcionar em Campinas a maior usina de energia solar do Brasil. Instalada em um espaço de 13.700 m², a Usina Tanquinho foi inaugurada pela CPFL Renováveis, subsidiária da concessionária de energia elétrica que atua no interior paulista. A usina, que também é a primeira fotovoltaica instalada no estado de São Paulo, tem capacidade para produzir 1,6 GWh por ano, o suficiente para abastecer 657 residências com consumo médio de 200 KWh por mês. Segundo a CPFL Energia, Tanquinho poderá iluminar, pelo menos, 70% das residências de Campinas. Os gastos totais da obra chegaram a R$ 13,8 milhões, investidos em pesquisa e desenvolvimento. A fase de estudos levou oito meses para ser concluída, enquanto o período de obras durou apenas quatro meses. O projeto, aprovado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), foi desenvolvido pela CPFL Renováveis em parceria com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e empresas parceiras da instituição de ensino. A energia produzida pela Usina Tanquinho só poderá ser utilizada a partir do ano que vem. Entretanto, as pesquisas de geração ainda não estão concluídas, já que, em 2015, a CPFL vai fazer os ajustes necessários com a Aneel para a participação da geração solar na matriz energética brasileira. Atualmente, o Brasil possui duas usinas de geração solar – a recém-inaugurada Tanquinho e a Usina MPX Tauá, localizada no sertão cearense. Desenvolvida pela EBX, do empresário Eike Batista, a usina cearense iniciou suas operações em agosto do ano passado. Com informações do Terra. Fonte: Redação CicloVivo - http://www.ciclovivo.com.br/noticia.php/5891/campinas_inaugura_maior_usina_de_energia_solar_do_brasil/

Baleia-Jubarte albina é vista na costa da Noruega

Uma rara baleia branca foi vista nadando na costa da Noruega. O mamífero ganhou um apelido dos passageiros do barco que a flagraram: a Moby Dick da vida real. As imagens, feitas pelo engenheiro marítimo inglês, Dan Fisher, de 32 anos, se tornaram hit na internet. Fisher disse que viu uma corcunda branca aparecendo na água. E logo percebeu estar diante de um raro fenômeno da natureza. Como a baleia é toda branca, o engenheiro marítimo - que passou 10 anos trabalhando no mar - acredita que ela sofra de uma doença que provoca a descoloração da pele. Veja o vídeo: http://tvig.ig.com.br/id/8a49800e3ae073ce013b3e4d87110c08.html Fonte: IG - http://tvig.ig.com.br/id/8a49800e3ae073ce013b3e4d87110c08.html

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Transgênicos sim, transgênicos não

por Busani Bafana, da IPS O ACB pediu proibição do cultivo, importação e exportação de milho transgênico. Johannesburgo, África do Sul, 28/11/2012 – O agricultor sul-africano Motlasi Musi não está contente com o pedido do Centro Africano para a Biossegurança (ACB) para que sejam proibidos o cultivo, a importação e a exportação do milho transgênico. “Consumo milho geneticamente modificado, que cultivo em minha terra, há mais de sete anos, e ainda estou vivo”, afirmou. Musi, de 57 anos, é agricultor do Vale de Fun, na área de Olifantsvlei, nos arredores de Johannesburgo, e abraçou com entusiasmo a biotecnologia por meio do Programa para a Redistribuição de Terras e o Desenvolvimento Agrícola da África do Sul. “Só o que mudou foram meus rendimentos e minha renda”, disse à IPS, explicando que ganha cerca de US$ 225 a mais por hectare com o milho transgênico do que com o comum. O cultivo e a venda de milho geneticamente modificado ajudam a reduzir a insegurança alimentar na África do Sul, garantiu. “A biotecnologia tem um grande papel na segurança alimentar. O clima mudou, e eu sei que com sementes tolerantes às secas tenho uma ferramenta para lutar contra o aquecimento global”, acrescentou Musi. Um informe de abril deste ano do Instituto de Emergência Climática, intitulado O Impacto da Mudança Climática na África do Sul, diz que este país experimenta um gradual aumento das temperaturas há 60 anos. E a previsão é de que as temperaturas nas regiões costeiras aumentarão entre um e dois graus até 2050. Porém, o ACB não acredita que os transgênicos possam garantir a segurança alimentar no continente, e menos na África do Sul. A organização apoia uma declaração de grupos da sociedade civil africana que pedem a proibição do milho transgênico em todo o continente, e que será entregue aos governos dos respectivos países. Até agora, a declaração conseguiu 656 assinaturas de apoio via internet, incluindo as de 160 organizações africanas. “Enviamos uma carta aberta ao nosso ministro da Agricultura em outubro, pedindo que proibisse o milho transgênico na África do Sul”, contou Haidee Swanby, do ACB, em conversa com a IPS. “Plantamos, importamos e exportamos cultivos transgênicos há 14 anos sem nenhum impacto positivo na segurança alimentar. Na verdade, um saco de farinha de milho está 84% mais caro hoje do que há quatro anos”, destacou. Segundo Swanby, é necessário melhorar o acesso aos alimentos, enfrentando temas como pobreza, desemprego, posse de terras, serviços, infraestrutura, acesso aos mercados e práticas de comércio desleal. “Os alimentos geneticamente modificados nunca foram rotulados na África do Sul, por isso não há como saber se estão causando problemas de saúde” disse Swanby, que pediu a realização de um estudo rigoroso sobre as possíveis consequências do consumo de transgênicos. “Se alguém adoece, como seguir o rastro dos transgênicos se não sabem se o estão consumindo? Queremos mais ciência, não menos”, pontuou. O ACB tem apoio da organização Amigos da Terra internacional, que pressiona para que a África seja um continente livre de produtos geneticamente modificados. Além do milho, a África do Sul também cultiva soja transgênica tolerante a ervas daninhas e algodão resistente a insetos. Este país é um dos três na África, junto com Burkina Faso e Egito, que cultivam e comercializam produtos geneticamente modificados. Por sua vez, Nigéria, Quênia e Uganda realizam atualmente testes de campo, enquanto outras seis nações do continente adotaram leis de biossegurança permitindo o desenvolvimento controlado e a comercialização de transgênicos. O coordenador da Amigos da Terra, Nnimmo Bassey, disse à IPS que os produtos modificados não cumprem as promessas feitas pela indústria da biotecnologia, e afirmou que a fome na África é usada como desculpa para contaminar e prejudicar a diversidade genética do continente. Bassey afirmou que os cultivos transgênicos não são mais nutritivos nem proporcionam melhores colheitas. Também não reduzem o uso de pesticidas e herbicidas, pelo contrário, são perigosos para a saúde humana e para o meio ambiente, ressaltou. “Tudo não passa de uma colonização do mercado”, disse Bassey à IPS. “Os cultivos transgênicos não geram segurança alimentar nem cobrem o déficit de nutrição. O caminho é a soberania alimentar. Os africanos devem determinar quais colheitas são adequadas cultural e ambientalmente”, acrescentou. Mais de 80% das necessidades alimentares deste continente são cobertas pela pequena agricultura. A Amigos da Terra citou experiências negativas com o algodão Bt (variedade que tem a bactéria Bacillus thuringiensis inserida em seu código genético) em Burkina Faso e África do Sul, onde foi promovido como um cultivo que poderia tirar muitas pessoas da pobreza. Por outro lado, a empresa internacional de citogenética DuPont Pioneer defendeu a utilização de sementes híbridas, ou seja, as que surgem do cruzamento de plantas da mesma espécie. Outro tipo de sementes melhoradas é a transgênica, nas quais são enxertados genes de outras espécies vegetais ou animais. O vice-presidente da companhia para África, Ásia e China, Daniel Jacobi, disse à IPS que cerca de um terço dos 24 milhões de hectares de milho plantados por ano na África subsaariana têm sementes híbridas. Os agricultores obtêm boas colheitas com essas sementes usando fertilizantes e melhores práticas agrícolas, destacou. “Podemos ganhar muita produtividade na África subsaariana fazendo todas estas coisas sem jamais introduzir transgênicos”, enfatizou. “Creio que a tendência é nos envolvermos no debate sobre os transgênicos e sobre como as multinacionais obrigam os agricultores locais a usá-los. Creio que devemos nos concentrar em ajudar esses camponeses a fazerem melhor seu trabalho usando sementes híbridas e não deixar que essas prioridades se percam no grande debate filosófico sobre os transgênicos”, acrescentou Jacobi. Por sua vez, a AfricaBio, associação que promove o desenvolvimento da biotecnologia, declarou que a vasta maioria da população sul-africana tem dificuldades para cobrir suas necessidades diárias de alimentos, e que os transgênicos demonstraram ser uma solução. “Por 14 temporadas consecutivas, os sul-africanos plantaram e consumiram produtos derivados de cultivos transgênicos como parte de sua dieta, e não há registro de casos confirmados de danos” à saúde, ressaltou à IPS o chefe-executivo da AfricaBio, Nompumelelo Obokoh. Envolverde/IPS Fonte: http://envolverde.com.br/sociedade/transgenicos-sim-transgenicos-nao/

Belo Monte. Um depoimento

por Patricia Fachin, Graziela Wolfart e Luana Nyland* Ao descrever os bastidores da construção da hidrelétrica no rio Xingu, a religiosa Ignez Wenzel lamenta ao reconhecer que “não existe lei, não existe Constituição. O político nos domina e não temos ação contra ele”. Saída de Porto Alegre há 35 anos, a irmã Ignez Wenzel deixou as atividades que desenvolvia no Colégio São João para abraçar a causa dos colonos que migraram para o Pará em função da construção da Rodovia Transamazônica (BR-230). Hoje vive em Altamira-PA, e está engajada com o Movimento Xingu Vivo para Sempre na luta contra a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte. Em visita ao Rio Grande do Sul, irmã Ignez recebeu a IHU On-Line, onde concedeu a entrevista a seguir. Ela percebe que “no Sul nem sempre chegam as notícias verdadeiras acerca do que acontece no Pará, porque elas ficam ‘blindadas’ em Belém. Até em Altamira as notícias não são publicadas em todos os meios de comunicação, porque alguns veículos estão conchavados com a empresa Norte Energia. Temos mais respaldo da mídia internacional”. Ao relatar o conturbado cenário que envolve o Consórcio Norte Energia, grupo formado por diversas empresas envolvidas na construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, no Pará, irmã Ignez, visivelmente emocionada e sensibilizada com a situação, afirma que a Norte Energia prometeu casas para todos que seriam atingidos pela obra, mas agora avisaram que os atingidos não receberão novas casas, mas sim pré-moldadas. “Isso é horrível por causa do clima; dentro das casas fará 40º”. E continua: “eles também prometeram construir escolas, hospitais, infraestrutura para a cidade, investimento em saneamento básico, etc. Se vocês forem à cidade, não verão nenhum investimento. Além disso, a energia da região é destinada à obra de Belo Monte, e a cidade muitas vezes fica no escuro. Não costumava faltar energia na cidade, mas há alguns meses falta energia toda semana. O que nós tínhamos acabamos perdendo, até o espaço na rua. Tem até engarrafamento em uma cidade que é tão pequena. Nós éramos 90 mil e agora são 140 mil pessoas. Tem muito roubo, muita morte por acidente de moto, tudo acompanhado pelo desespero, pelo nervosismo, pois muitos crimes acontecem”. Irmã Ignez também confirma casos de extração de minérios na Volta Grande do Xingu, onde cerca de 200 garimpeiros extraem ouro manualmente. “Está comprovado que lá tem uma jazida de 50 mil toneladas de ouro, além de diamantes e outros minérios preciosos. (…) Trabalhadores falaram para mim que eles já viram nas explosões pedaços de ouro, mas ninguém sabe para onde vão e eles não podem tocar, nem falar sobre o assunto”, relata. Há quase quarenta anos atuando na região junto às comunidades populares e indígenas, lamenta a atual situação e comportamento dos indígenas diante da construção da hidrelétrica. “Eles estão ‘amarrados’. Dizem que, se não ‘entrarem no jogo’, passarão fome. Eles sabem que estão sendo objeto de jogo, mas não veem possibilidades de mudar a situação. Eles sabem que se contam conosco ficam debilitados, porque a Justiça está de olho no nosso trabalho. Mas isso prejudica nossa atuação, e por isso tivemos de recuar um pouco fisicamente, mas intensificamos o apoio e a logística a eles”. Ignez Wenzel (foto abaixo) é graduada em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS e em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS. É religiosa consagrada da Congregação das Irmãs Franciscanas da Penitência e Caridade Cristã. Confira a entrevista. IHU On-Line – Qual a atual situação da construção da usina hidrelétrica de Belo Monte? Ignez Wenzel – A Norte Energia está com toda a pompa, avançando na construção da usina hidrelétrica de Belo Monte. Atualmente estão construindo as ensecadeiras [1], porque o rio Xingu é muito largo e é composto por muitas ilhas. Então, estão ligando uma ilha a outra. Estamos constantemente organizando manifestações contra a obra. No Xingu+23, na ocasião da Rio+20, abriram uma ensecadeira durante a madrugada e, com corpos humanos, escreveram “Pare Belo Monte”. Esta cena foi fotografada e a imagem foi divulgada no mundo todo e isso foi bastante importante para nossa luta. Os indígenas mundurucus do Alto Tapajós foram para o Xingu porque queriam ver o que estava acontecendo em Belo Monte. Eles dizem que não aceitarão a construção de hidrelétricas no rio Tapajós, o qual cerca a região onde vivem. IHU On-Line – Os mundurucus estão mais articulados? Ignez Wenzel – Eles são mais articulados porque são uma única tribo, enquanto que na região do Xingu tem oito tribos indígenas diferentes, e sempre há uma rivalidade entre eles. Os indígenas “derrubaram” um escritório e nós fomos culpabilizados. Onze pessoas do nosso grupo receberam um aviso de prisão; fomos enquadrados em cinco crimes, e o processo continua em andamento. IHU On-Line – As manifestações de protesto ainda ocorrem com frequência? Ignez Wenzel – Ocorrem, mas depois dessa situação, em que recebemos um mandado de prisão, os indígenas disseram que não queriam mais a nossa interferência, e sim queriam a nossa ajuda para fazer ações. Mas as últimas iniciativas estão sendo feitas pelos pescadores. Eles acamparam nas ensecadeiras durante um mês, impedindo o trabalho da Norte Energia. Nós não temos infraestrutura econômica; somos voluntários e ajudamos através do apoio que recebemos de outras instituições. Fornecemos alimentação, lonas, água, porque a água do rio já está contaminada. Semana passada teve outra ação dos trabalhadores, porque desde o início da construção da obra eles estão lutando para ter o direito de visitarem as suas famílias de três em três meses. Hoje eles visitam suas famílias de seis em seis meses. Como eles não conseguiam negociar, se revoltaram e queimaram um caminhão. Cinco deles foram presos, e outra turma foi expulsa do canteiro de obras. O que existe lá é um trabalho desumano. Pela manhã eles ganham um copinho de café com leite e um pão. Aí eles trabalham até o meio dia. Como são 14 mil funcionários, a comida é preparada com antecedência, mas às vezes chega estragada e azeda por causa do calor. Muitos trabalhadores ficam doentes e descontentes com essa situação. IHU On-Line – Quantos canteiros de obra existem na região? Ignez Wenzel – São três ou quatro canteiros de obras. Um é responsável pelas ensacadeiras, outro está preparando o canal, outros estão envolvidos com a infraestrutura. Eles jogam dinamites de seis em seis horas nos canteiros de obras. Então, as pessoas que moram na redondeza sofrem impactos à meia-noite, às 6h da manhã… Os peixes estão morrendo e os pescadores não são considerados impactados. Mas a empresa oferece melhorias e as pessoas carentes, diante de qualquer benefício, cedem, porque esperam sempre novas possibilidades, as quais não chegam. Os indígenas usam outra tática. Eles querem melhoramento, e depois que acaba o beneficio recebido, promovem uma nova ação para conseguirem outros benefícios. E ficam nesse impasse. Eu já disse que eles têm a força que nós brancos não temos, que eles têm a possibilidade de mudar algo, porque o mundo inteiro está de olho neles, que devem tomar uma decisão final. Eles respondem que não, e que quando a situação piorar promoverão outra ação. Eles “caíram” nessa de ganhar 30 mil reais por aldeia e cesta básica. Quando eles perceberam que ganhavam dinheiro por aldeias, passaram a multiplicá-las para cada uma ganhar 30 mil reais. Então, muitas comunidades indígenas se dividiram, se esfacelaram e se enfraqueceram. IHU On-Line – Que povos são esses? Ignez Wenzel – Os arara, os juruna, principalmente as comunidades que vivem na Volta Grande do Xingu. Dizem que os caiapó também já receberam benefícios, mas não tenho certeza. Sei que já venderam a madeira que tinham anos atrás. Os índios mais jovens gostam de receber dinheiro e entraram no jogo da sociedade não indígena. Eles deixaram de caçar, de pescar, e isso contamina a mística deles, de luta pela sobrevivência através do esforço. IHU On-Line – Mas algumas lideranças ainda estão preocupadas com a situação das comunidades? Ignez Wenzel – Sim, mas são poucas. Eles também fazem o jogo. Ora você pode contar com um deles, ora não pode. Há uma fragilidade muito grande em torno dessa questão. Mas nós, do grupo Xingu Vivo, nos sentimos fortificados. Vários jornalistas estrangeiros nos procuram para saber qual é a situação de Belo Monte. Percebo que aqui no Sul nem sempre chegam as notícias verdadeiras acerca do que acontece no Pará, porque elas ficam “blindadas” em Belém. Até em Altamira as notícias não são publicadas em todos os meios de comunicação, porque alguns veículos estão conchavados com a Norte Energia. Temos mais respaldo da mídia internacional. IHU On-Line – Religiosos, antropólogos e pesquisadores estão mais preocupados e engajados com a questão indígena do que os índios? Ignez Wenzel – Não dá para responder sim ou não, porque em 2008 realizamos um grande encontro a pedido dos indígenas e dos caciques. Eles queriam uma manifestação para acabar de vez com Belo Monte. IHU On-Line – O que acontece então? Ignez Wenzel – Eles estão “amarrados”. Dizem que, se não “entrarem no jogo”, passarão fome. Eles sabem que estão sendo objeto de jogo, mas não veem possibilidades de mudar a situação. Eles sabem que se contam conosco ficam debilitados, porque a Justiça está de olho no nosso trabalho. Mas isso prejudica nossa atuação, e por isso tivemos de recuar um pouco fisicamente, mas intensificamos o apoio e a logística a eles. IHU On-Line – Como está a atuação da Força Nacional de Segurança Pública nos canteiros de obra de Belo Monte? Ignez Wenzel – A Força Nacional de Segurança Pública está lá, sim, e uma turma de policiais mora próximo de minha residência. Eles estão na região há muito tempo, mas agora a ação foi intensificada porque, diante de qualquer situação de imprevisto, a Norte Energia recorre à Força Nacional de Segurança Pública. Este ano, quando fizemos uma manifestação junto do Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB, na frente de um escritório estava cheio de policiais armados. A posição do Movimento Xingu Vivo não é de depredar ou invadir, embora tenhamos sido acusados de depredar o patrimônio público. Muitas das pessoas que nos apoiavam trabalham hoje para o governo. O MAB, por exemplo, é sustentado pelo governo. É um movimento dos atingidos e não um movimento dos pré-atingidos. Então, eles não querem que a barragem deixe de existir, porque terão benefícios depois. O MAB é isto: Movimento dos Atingidos por Barragens; se não tem barragem, o movimento não pode continuar. Portanto, o movimento não se enfrenta com o governo. IHU On-Line – Mas eles terão embates posteriores com o governo. Ignez Wenzel – Não sei o que vai acontecer, mas o que adianta fazer algo depois? Quando estiver no sarcófago, podem cantar as cantigas que quiserem. A pior notícia é de que a Norte Energia prometeu casas para todos que seriam atingidos, e agora avisaram que os atingidos não receberão novas casas, mas sim pré-moldadas. Isso é horrível por causa do clima; dentro das casas fará 40º. Eles também prometeram construir escolas, hospitais, infraestrutura para a cidade, investimento em saneamento básico etc. Se vocês forem à cidade, não verão nenhum investimento. Além disso, a energia da região é destinada à obra de Belo Monte, e a cidade muitas vezes fica no escuro. Não costumava faltar energia na cidade, mas há alguns meses falta energia toda semana. O que nós tínhamos acabamos perdendo, até o espaço na rua. Tem até engarrafamento em uma cidade que é tão pequena. Nós éramos 90 mil e agora são 140 mil pessoas. Tem muito roubo, muita morte por acidente de moto, tudo acompanhado pelo desespero, pelo nervosismo, pois muitos crimes acontecem. O que não falta são prostíbulos. Na Vila Belo Monte, que fica na balsa, há cerca de 23 prostíbulos. Então, tiram-se as conclusões de quantas mulheres, jovens, meninas e crianças têm lá. Aumentou muito o número de estupros, de violência sexual na cidade e de crianças que são molestadas, tanto meninas quanto meninos. IHU On-Line – E o que pode ser dito sobre a exploração do ouro na volta do Xingu? Dizem que há uma relação entre a construção de Belo Monte e extração de minérios. Ignez Wenzel – Mais ou menos na direção da margem direita da Volta Grande tem uma considerável jazida de ouro. Quando a irmã Dorothy Stang estava viva, ela esteve no Canadá, onde pediram que ela participasse de uma reunião sobre assuntos da América Latina. Lá foi falado sobre uma grande jazida de minério na Volta Grande. Ela não aguentou e se manifestou, o que os deixaram nervosos, encerrando o assunto. Quem está lá hoje é uma empresa canadense. Há cerca de 200 garimpeiros que extraem ouro manualmente, obtendo 1.000, 2.000, às vezes 3.000 mil mensais para sustentar a família, cada um deles. E está comprovado que lá tem uma jazida de 50 mil toneladas de ouro, além de diamantes e outros minérios preciosos. A Vale também já está lá. Isso tem uma explicação, porque o rio não vai produzir muita energia. Dizem que é um compromisso do Brasil secar esse pedaço de rio para favorecer a exploração do minério. Trabalhadores falaram para mim que eles já viram nas explosões pedaços de ouro, mas ninguém sabe para onde vão e eles não podem tocar, nem falar sobre o assunto. IHU On-Line – Essa empresa canadense é a Belo Sun? Ignez Wenzel – Sim, a Belo Sun. IHU On-Line – Além dela e da Vale, outras empresas atuam na região? Ignez Wenzel – Que eu saiba não. Ofereceram para os garimpeiros uma indenização de 1,5 milhão de reais para eles se retirarem. Mas eles não abriram mão, porque sabem que têm ouro não só para um dia, mas para o resto da vida. Então, a nossa luta e a nossa preocupação é ver como é que vamos conseguir que eles tenham o direito ao benefício depois, ou seja, uma porcentagem sobre a extração. Porque no Alto Xingu, na região de Ourilândia, eles conseguiram benefícios junto aos direitos humanos. Foi exigido que o povo todo saísse, porque estavam assentados em cima de uma mina de ouro. Então, com a ajuda de advogados conseguiram que o povo tivesse acesso aos benefícios dos recursos extraídos. Será mais uma luta nossa, mas precisaremos de auxílio, porque nós não temos competência legal para isso. IHU On-Line – A extração é ilegal? Ignez Wenzel – Certamente o Brasil já concedeu a licença. Há muitos anos um rapaz da Comissão Pastoral da Terra – CPT nos apresentou um mapa mostrando que os Estados Unidos têm sobre o Brasil. Eles sabem de todos os minérios existentes no país, assim como ou outros países como o Peru. Eles também estão lá para extrair. Afinal, eles “são donos” porque descobriram. Nós não podemos entrar onde eles estão trabalhando. A terra é nossa, mas nós não podemos entrar. Tem um aviso de longe informando que ninguém pode se aproximar. IHU On-Line – O Ministério Público acompanha o caso? Ignez Wenzel – Eles trabalham muito conosco. Em relação a Belo Monte, temos quinze ações no Supremo Tribunal Federal que deveriam ser julgadas. Todas elas provam a ilegalidade do projeto. Essas ações não foram julgadas ainda porque o Judiciário, o alto escalão, também é do governo. Inclusive, muitas vezes falamos que estamos em uma ditadura democrática, porque não existe lei, não existe Constituição. O político nos domina e não temos ação contra ele. Os prefeitos são comprados com migalhas, os governadores também, porque todo mundo quer um pedacinho. IHU On-Line – Quem é o prefeito eleito em Altamira? Ignez Wenzel – Foi péssimo o resultado. Um velho cacique do tempo da ditadura voltou a reinar. Domingos Juvenil é do PMDB, mas o partido aqui (no sul) é diferente de lá. Basta dizer que em um município ganhou um do DEM coligado com um petista, o que seria impossível, mas lá é tudo diferente. Lá o que temos são conchavos. O nosso município não é governado pela prefeita (Odileida Maria Sousa Sampaio), mas pela Norte Energia. Ela não tem poder nenhum. Só se faz lá o que a Norte Energia aceitar. IHU On-Line – Qual o discurso dele em relação à atuação da Norte Energia na cidade? Ignez Wenzel – Diz ele que a partir do dia 1º de janeiro quem vai governar a cidade é ele, e não a Norte Energia. Isso é discurso aberto. Agora, vamos ver depois, com o discurso fechado, como vai ser. Até lá tem muitos dias. IHU On-Line – A senhora tem expectativa de mudança? Ignez Wenzel – Com esse homem, que era da ditadura, não. Por causa dessas empresas que estão lá, pode entrar quem quiser que ficará manchado, porque a estrutura das empresas energéticas são muito pesadas em cima do povo e dos governos. Os vereadores são comprados, todos eles. Foi eleito um vereador que é um menino de luta. Ele é do PT (aí já é da Dilma Rousseff). Ele era contra Belo Monte, mas não sei se vai continuar sendo agora. Tudo muda muito. IHU On-Line – Como a senhora vê a atuação da Igreja local? Ignez Wenzel – Desde o início do ano para cá não mudou muita coisa. Em si, o povo tem medo. Não é que o povo seja a favor da barragem. Eles dizem: “Que bom que a senhora vai lá! Continua lá! Eu também sou contra, mas tenho medo de falar. Não posso ir até o acampamento”. É assim a população. Mas nós, irmãs, continuamos firmes. No dia, por exemplo, em que eu tive que depor, vieram irmãs nossas lá de Anapu, para me dar apoio e para os demais. Então, mantemos a unidade. Mas o restante das pessoas não consegue. Mesmo assim, nós continuamos na luta e nos manifestamos. No dia 7 de setembro, a prefeitura fez uma grande passeata com fogos. Do outro lado estávamos nós, com faixas e cartazes. Éramos um grupinho pequeno, mas todo mundo olhou para nós e não para eles. Então, são gestos que nós fazemos. Mas não é em tudo que podemos ajudar. Lembro agora de um caso triste: um senhor que comprou 200 hectares de terra através do cartório de Vitória, e nessa terra ele plantou cacau. Ele tem quatro filhos, sendo que três são menores de idade. Aí disseram para ele que ali passaria o canal e a família teria que sair, o que o fez responder: “Daqui eu não saio, isso aqui é meu, tenho que cuidar dos meus filhos!”. Ele já é um senhor de idade, tem 60 anos. Pois foram lá e derrubaram a casa dele. Aí, a mulher pegou os filhos e foi para a cidade. Ele pegou uma lona, colocou por cima de um pé de cacau e ficou morando lá embaixo, afinal já tinham 13 mil pés produzidos e mais sete mil em crescimento. A polícia ficou ameaçando que ele tinha que sair de lá. Um belo dia, ele viu que estavam chegando dez tratores derrubando no chão todo o cacau dele, inclusive os 13 mil em produção. Ele se desesperou e fugiu. Agora nós estamos lutando para que ele seja indenizado. Mas a Norte Energia diz que ele abandonou o lote. Dá vontade de chorar! Hoje, essa família está morando de favor, pois ele não consegue emprego, porque só sabe trabalhar na roça. Eu não aguento (a irmã chora). IHU On-Line – E pretende continuar morando lá? Ignez Wenzel – Sim, porque, se a gente sai, quem vai ajudar esse povo? É preciso ir para lá. Enquanto eu aguentar, fico lá. Enquanto a Congregação me deixar, eu fico. Dom Erwin (Kräutler, bispo de Altamira) está decepcionado. Ele achava que ia conseguir. Os poderes econômicos e políticos são pesados demais. Só eles têm razão. Entrei em contato com uma menina que conheço há muito tempo, que trabalhava no Conselho Indigenista Missionário – CIMI. Ela foi convidada para trabalhar com os índios visando deixá-los do lado da Norte Energia. Ela ia ganhar 8.000 reais mensais. Ela disse: “O quê? Toda a minha vida trabalhando para defender os índios e agora vocês querem que eu faça o contrário?”. Ela tem uma sobrinha que é assistente social lá dentro (Norte Energia) e quis saber quantas mortes acontecem, porque a gente não fica sabendo de mortes. Na média, eles dizem que se morrer até 10 mil pessoas é normal. Só que não aparece nenhum cadáver. O que eles estão fazendo com os cadáveres? Quem é que está morrendo lá? A gente fala com os funcionários, com os trabalhadores, e ninguém sabe de nada. Para mim, eles não podem falar, porque ninguém nunca viu nada. IHU On-Line – Mas foi constatada a morte de alguém por causa da construção da usina hidrelétrica? Ignez Wenzel – Eles dizem que morrer tanta gente assim (10 mil pessoas) é normal. Então, deve estar morrendo gente. Só se ficou sabendo do caso de um senhor – e isso foi publicado aos quatro ventos – que morreu embaixo de um pau, que caiu para uma direção não esperada. Agora, aquelas pessoas que estão lá, que estão colocando dinamite, quantas será que já foram para o ar? IHU On-Line – Vocês não têm acesso às informações? Ignez Wenzel – Não. É segredo absoluto. Por isso que ninguém entra lá. E se você entra para trabalhar, a primeira coisa que tem que fazer é colocar esparadrapo na boca e vendas nos olhos, porque não pode ver, nem ouvir nada. Por isso que eu digo que é uma ditadura democrática. IHU On-Line – Dom Erwin pretende continuar em Altamira? Ignez Wenzel – Por lei, ficará até 2014. Depois, terá que pedir dispensa, porque é a norma da Igreja: aos 75 anos ele tem que se retirar do bispado. Talvez ele tenha que ficar mais tempo, talvez não. Ele também está cansado. E a gente nota que ele também não está muito bem de saúde. Imagine o estresse que esse homem viveu todos esses anos? E sendo sempre escoltado por policiais. Isso não é vida. Quando ele sai da cidade, vai para outro estado, não tem polícia nas costas. Então, acho que é por isso que ele aceita tanto trabalho fora. Ele se desliga um pouco. Mas é uma luta muito grande. IHU On-Line – As novas irmãs têm interesse em ir para o Pará e ajudar no desenvolvimento desse trabalho? Ignez Wenzel – Elas até têm esse interesse. Mas nós estamos em uma época muito difícil, temos muitas irmãs idosas e poucas na ação. Então, quem está em ação também tem que cumprir as necessidades urgentes daqui. Há esse problema também. E a juventude, por enquanto, está com outras dinâmicas. Infelizmente, a sociedade chegou a este ponto. Mas vai ter que surgir algo novo. O que vai ser ainda não sabemos. NOTA [1] Ensecadeiras são dispositivos utilizados para a contenção temporária da ação das águas em superfícies escavadas, normalmente onde se pretende executar obras sem a interferência da água. São usadas, por exemplo, para viabilizar a construção de barragens. * Publicado originalmente no site IHU-Online. Fonte: http://envolverde.com.br/sociedade/entrevista-sociedade/belo-monte-um-depoimento/

6 plantas que melhoram a qualidade do ar em residências

Quem mora nas grandes cidades sofre muito com a poluição urbana. O ar poluído pode afetar até mesmo os que passam mais tempo em casa do que nas ruas. Isso acontece porque o ar que circula nos ambientes internos também pode ser prejudicial à saúde humana. Neste sentido, não só como item de decoração, cultivar plantas em casa é um grande benefício para seus moradores. Algumas plantas, em especial, podem desempenhar seu papel de forma mais eficaz. Conheça seis delas que melhoram a qualidade do ar. - Azaléia Eficiente para combater poluentes como COVs (Compostos orgânicos voláteis) e amoníacos (um composto presente em diversos produtos de limpeza). Essa planta é indicada para cozinhas e banheiros. Precisa de rega apenas uma vez por semana e de cinco horas de sol diariamente. - Bromélia Ajuda na absorção de fumaça, por isso é indicada para cozinha. Para manter essa planta, basta fazer uma rega a cada três dias. Ao contrário da Azaléia que precisa de muito sol, a Bromélia necessita apenas de luz solar indireta. - Cacto Muito útil para barrar as ondas eletromagnéticas. É indicado ter um cacto na sala próximo ao aparelho de TV ou na cozinha, junto ao micro-ondas. Para os supersticiosos, a planta ajuda a tirar o mau olhado nos ambientes. - Gérbera, begônia e crisântemo São indicadas para as residências onde há fumantes. As três podem atuar com eficiência contra a fumaça de cigarro. A Gérbera gosta de luz, já a Begônia tem que ser protegida da luz solar direta, assim como a Crisântemo que, apesar de precisar de muita luz, não suporta sol direto. Elas devem ser expostas nas salas e quartos. Com informações de Revista Crescer e M de Mulher. Fonte: http://www.ciclovivo.com.br/noticia.php/5887/6_plantas_que_melhoram_a_qualidade_do_ar_em_residencias/ Redação CicloVivo

Desmatamento na Amazônia Legal cai, mas ONG alerta para deslocamento de crime ambiental

O Ministério do Meio Ambiente (MMA) anunciou na última terça-feira (27) os dados do Projeto de Monitoramento do Desflorestamento na Amazônia Legal(Prodes), que mede o desmatamento da Amazônia, parao período de agosto de 2011 a julho de 2012. Foram desmatados neste período 4.656 quilômetros quadrados – a menor taxa registrada desde que o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) começou este trabalho, em 1988. O número indica uma redução de 27% em relação aos dados registrados entre agosto de 2010 e julho de 2011. Esses resultados confirmam a tese de queda dos números do desmatamento, verificada desde 2005. A meta do governo federal é que o índice de desmatamento anual da Amazônia continue caindo até atingir 3.925 quilômetros quadrados em 2020 - uma redução de 80% em relação àquilo que foi registrado em 2005. O superintendente de conservação do WWF-Brasil, Mauro Armelin, afirmou que os resultados divulgados são bons, porém é nítida a ocorrência de infrações em novas áreas, o que é preocupante, pois indica que além de estarem desmatando em áreas de menor metragem a fim de driblar a fiscalização, novas frentes estão sendo abertas, apontando o deslocamento dos criminosos ambientais. “Essa constatação de desobediência à legislação ambiental exige uma resposta rápida e eficaz do governo federal e o cumprimento à risca da lei, sob pena de as metas voluntárias para redução das emissões de gases de efeito estufa até 2020 não serem cumpridas”, disse Armelin. Tendência de redução O Projeto de Monitoramento do Desflorestamento na Amazônia Legal (Prodes) é operacionalizado pelo Inpe e registracomo desmatamento o chamado “corte raso”, que é a remoção completa da cobertura florestal, quando ele ocorre em áreas com tamanho maior que 6,25 hectares. Os dados divulgados hoje foram obtidos por meio de satélites, durante o monitoramento de 43 municípios amazônicos considerados prioritários no combate ao desmatamento. O Estado que mais desmatou foi o Pará, com 1.699 quilômetros quadrados de desflorestamento. O Amapá registrou o menor índice – apenas 31 quilômetros quadrados desmatados. Dos nove estados amazônicos – Acre, Amazonas, Amapá, Pará, Tocantins, Roraima, Rondônia, Mato Grosso e Maranhão –apenas três apresentaram aumento nas taxas de desmatamento: Tocantins (aumento de 33%), Amazonas (de 29%) e Acre (incremento de 10%). Agosto, setembro e outubro Embora os dados desta terça-feira tenham sido anunciados de forma positiva, é importante lembrar que informações recentes do Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) – que realiza um monitoramento autônomo do desmatamento, por meio do Boletim do Desmatamento (SAD) –mostram que o desmatamento amazônico teve um aumento a partir de agosto de 2012 – e os números do Prodes divulgados nesta terça-feira vão apenas até julho de 2012. Para o Imazon, o desmatamento apresentou taxas crescentes em agosto, setembro e outubro. Neste ultimo mês, o desmatamento chegou a preocupantes 377% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo relatório divulgado pela instituição há quase duas semanas. O Deter, sistema de alerta de desmatamentos também gerenciado pelo Inpe, que traz os números considerados “oficiais” pelo governo, apontou um aumento de 220% no desmatamento em agosto, também fora do período divulgado hoje pelo governo. Foram 522 quilômetros quadrados de desmatamento em agosto de 2012, contra 163 quilômetros quadrados desmatados em agosto de 2011. Os números do Deter de setembro e outubro ainda não foram divulgados. Jorge Dantas Oliveira, WWF Fonte: http://www.ciclovivo.com.br/noticia.php/5889/desmatamento_na_amazonia_legal_cai_mas_ong_alerta_para_deslocamento_de_crime_ambiental/

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Atrasos quase dobram custo da obra de transposição do Rio São Francisco

Pela previsão inicial, transposição do Rio São Francisco já deveria estar pronta, mas avançou apenas 43%. Custo seria de R$ 4,5 bilhões, mas há dois anos o valor subiu para R$ 6,8 bilhões e agora está em R$ 8,2 bilhões. Ao longo das últimas semanas, o Jornal Nacional tem mostrado os efeitos da pior seca dos últimos 30 anos na região Nordeste. Ironicamente, isso acontece em um ano em que deveria estar pronta uma obra gigantesca para amenizar esse problema. Ela não só não terminou, como ainda teve o custo praticamente dobrado. A transposição do Rio São Francisco foi uma ideia defendida pelo então ministro da Integração Nacional Ciro Gomes e acolhida pelo presidente Lula, no primeiro mandato. A obra começou em 2007. Dois anos depois, eles visitaram os canteiros, acompanhados da então ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. A transposição livraria dos efeitos da seca cerca de 12 milhões de sertanejos. Levaria água do Rio São Francisco a quase 400 municípios de quatro estados. Pela previsão inicial, a obra já deveria estar pronta, mas avançou apenas 43%, de acordo com o Ministério da Integração Nacional. Menos de um mês antes de deixar o cargo, o então presidente Lula falou sobre o prazo de conclusão da obra. “Está previsto a gente inaugurar definitivamente a obra até 2012, o que será a redenção da região mais sofrida do nordeste brasileiro. E o povo do Nordeste vai poder decidir a utilização dessa água", declarou Lula. Operários se empenharam para retirar a mata. Outros tantos cavaram o canal. A esperança se espalhou pelo sertão. A água escorreria por entre paredes de concreto. Só que a obra parou e o serviço já feito vai precisar ser novamente executado. No Lote 11, em Custódia, as placas de concreto estão sendo refeitas, enquanto centenas de quilômetros de terra escavada esperam pelo acabamento. “Os gastos, evidentemente, vão crescendo, porque as obras vão sendo refeitas, os projetos vão sendo refeitos, e tudo isso significa custos adicionais”, explica Gil Castello Branco, secretário-geral do Contas Abertas. Inicialmente, a obra custaria R$ 4,5 bilhões. Há dois anos, o valor subiu para R$ 6,8 bilhões. Agora, está em R$ 8,2 bilhões. Hoje, as obras de construção civil estão paradas em seis dos 14 lotes da transposição. Em quatro deles, os contratos com o governo foram rompidos. Os consórcios alegam que o valor da licitação é menor do que o custo real. “A transposição passou de ser uma esperança, e hoje está sendo um grande problema”, revela Marcelo Manuel dos Santos, da Comissão Pastoral da Terra. O Tribunal de Contas da União investiga os gastos. “Irregularidade tem muitas, porque desde o início desse projeto, 2003 para cá, ele vem se debatendo com dificuldades exatamente porque falta o projeto, obra que se inicia sem projeto. Você sabe como começa, mas não vai saber como termina”, avalia Raimundo Carreiro, ministro do TCU. O TCU determinou a abertura de um processo para fiscalizar o que aconteceu em cada trecho e punir os eventuais responsáveis pelas irregularidades. O Ministério da Integração Nacional admite problemas de gestão e está revisando os contratos com as construtoras. “Existe problema de gestão no ministério, existe, claro que existe”, diz Robson Botelho, diretor do departamento do Proj. Estrat. do Ministério da Integração Nacional. “Passamos o ano de 2011 praticamente todo negociando com as empresas a continuidade delas nas obras. Parte delas ficou. Outras querem sair.” O ministério afirma também que as construtoras que abandonaram os trabalhos foram multadas em 2% do valor do contrato, e que elas ainda estão obrigadas a entregar o serviço pronto sem ônus para os cofres públicos. A ministra do Planejamento, Miriam Belchior, deu um novo prazo para a conclusão da obra. “A obra foi iniciada com um projeto básico, e durante a execução de uma parte das atividades se desenvolveu o projeto executivo. Nesse momento, se percebeu uma diferença entre o projeto natural e o projeto executivo, e estamos fazendo todo o aditamento dos contratos dentro da lei, dos 25% que a lei permite, mas que as pessoas não percam a confiança. Aquele pessoal tem fé. A água vai chegar, sim, em 2015”, declarou a ministra. Por meio da assessoria, o ex-presidente Lula declarou que não vai comentar questões administrativas do atual governo. Fonte: http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2012/11/obra-que-poderia-aliviar-efeitos-da-seca-no-ne-esta-atrasada-e-mais-cara.html

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Bahia é o segundo estado com maior número de encalhes de baleia jubarte

A temporada reprodutiva das baleias jubarte no Brasil, que termina em novembro, registra, até agora, um número de encalhes maior do que em 2011. Segundo levantamento do Projeto Baleia Jubarte, 44 baleias da espécie jubarte encalharam no Brasil neste ano, enquanto no ano passado ocorreram 39 registros. Os estados com maior incidência são Espírito Santo e Bahia, com 17 e 16 ocorrências, respectivamente. Apesar do aumento em comparação ao ano anterior, o saldo é considerado dentro do esperado por pesquisadores do projeto. Outros encalhes de baleias jubarte foram registrados em estados como Rio de Janeiro (2), Alagoas (2), Santa Catarina (2), Rio Grande do Norte (2), Pernambuco (2) e Sergipe (1). O diretor de pesquisa do Projeto Baleia Jubarte, Milton Marcondes, destaca que entre os fatores que podem ocasionar os encalhes estão o emalhamento em redes de pesca, o filhote que se separa de sua mãe e, enfraquecido, encalha, o atropelamento acidental por embarcações e as possíveis doenças que podem deixar o animal mais vulnerável. A Bahia e o Espírito Santo recebem, todos os anos, aproximadamente 90% das cerca de 11 mil baleias jubarte que chegam para se reproduzir no Brasil, entre os meses de julho e novembro. “O Banco dos Abrolhos, que corta os dois estados, é o maior berço reprodutivo da espécie em todo o Atlântico Sul ocidental, o que explica o fato de ambos estarem à frente no ranking de encalhes de baleias jubarte”, explica Marcondes. Apesar de a temporada reprodutiva da espécie terminar oficialmente no fim de novembro, ainda podem ser registradas novas ocorrências até dezembro. Outros animais também são socorridos, vivos ou mortos, pelo Programa de Resgate do Projeto Baleia Jubarte – em parceria com o Instituto Orca, o Instituto Mámíferos Aquáticos, o Centro de Mamíferos Aquáticos e o PAT Ecosmar–, como outras espécies de baleias, golfinhos, focas ou lobos-marinhos. Para procurar ajuda basta ligar para os telefones de emergência, que funcionam 24 horas por dia (no caso de celulares). Ligações a cobrar também são recebidas. Praia do Forte: 71-3676-1463 e 71-8154-2131 / Caravelas: 73-3297-1340 e 73-8802-187 Fonte: http://www.tribunadabahia.com.br/2012/11/26/bahia-o-segundo-estado-com-maior-numero-de-encalhes-de-baleia-jubarte

Os materiais da "arquitetura vegetariana"

Simón Veléz, arquiteto colombiano, é um especialista em construir obras de grande porte com bambu. Com projetos em mais de 10 países, ele utiliza o chamado “aço vegetal” para erguer teatros, pontes, igrejas e até terminais rodoviários, que se distinguem pela aparência de leveza das suas estruturas. Na sabedoria do Oriente, o bambu é tido como um material que acalma quando usado para revestir interiores. Por qualidades como estas, Veléz defende sua inclusão como um recurso que, brinca, pode levar a uma "dieta mais balanceada" no menu de materiais arquitetônicos. Durante o Encontro de BioArquitetura (EBA 2012), realizado entre 8 e 10 de novembro em Nova Friburgo, ele discorreu sobre as técnicas que utiliza e que o tornaram uma referência no assunto. Em seguida, os Xavantes presentes mostraram como se constrói uma oca. Técnica sem improviso O uso do bambu pode soar como uma prática artesanal, mas, ao contrário, trata-se de refinada técnica. Veléz é meticuloso e trabalha em parceria com engenheiros para garantir a robustez dos seus projetos. No Expo Shangai 2010, ele projetou e construiu o pavilhão da Índia, uma metáfora do mercado e do templo, o último coberto por um grande domo, claro, todo construído de bambu. Para aguentar estruturas com pesos de até 250 kg por m2, como foi o caso desse projeto, o segredo de Veléz é injetar cimento diluído com água, dentro dos colmos (nome dado aos segmentos ocos do caule do bambu) antes das perfurações com parafusos. Dessa forma, evitam-se rupturas de conexões, sem diminuir a flexibilidade do material. Outra peculiaridade é utilizar os rizomas do bambu - parte mais forte da planta e geralmente encurvada - para obter “figuras primitivas” no acabamento de tetos e paredes. Veléz trabalhou essa solução em sedes de fazendas, casas particulares e lobbys de hotéis. Para afastar os fungos que levariam à decadência das estruturas, sua equipe aplica injeções de cipermetrina, um inseticida biodegradável, nos entrenós das centenas ou até milhares de ripas utilizadas. Para impedir a transmissão da humidade do solo, a ponta dessas ripas é isolada por suportes de aço inox. O contato com a terra reduziria a vida útil do bambu. Além do visual orgânico, suas obras evitam materiais não renováveis. O bambu cresce rápido e, por isso, é fácil de repor. Essa velocidade o transforma em um bom sequestrador de carbono da atmosfera. Há espécies de bambu que crescem em média 23 centímetros por dia. Durante a conferência, Veléz disse: “Incentivo uma dose mais vegetariana a essa arquitetura mineral que apenas usa cimento, aço, vidro e ladrilho. É como na culinária, que se vêm incentivando o consumo de mais proteína vegetal, em vez da animal". Oficina de Oca No último dia do Encontro de BioArquitetura, no município de Bom Jardim, 4 índios Xavantes se uniram a monitores do Tibá (Centro de Tecnologia Intuitiva e BioConstrução) para construir uma oca. Peter van Lengen, curador do evento, explicou aos cerca de 50 participantes que houve uma mistura de métodos na preparação do protótipo. “Fizemos uma fundação de pedras, técnica típica de 'não-índios', para reforçar a base da casa e impedir que o revestimento entre em contato com a umidade do chão, garantindo durabilidade.” As paredes da oca foram feitas de pau-a-pique de bambu, amarrado com fibras internas do caule de árvores, cobertas com uma inusitada mistura de terra, água e esterco de equinos. Lengen explicou que os 25% de esterco contidos no material das paredes produz uma reação química com a argila da terra, transformando-se em um concreto natural bastante resistente à erosão. Eco-lodge Crosswaters, na China. Foto: Acervo Simón Velez Arquitetura ritual O formato circular adotado na construção foi uma referência à cultura indígena. Um dos Xavantes explicou que em suas aldeias as ocas também estão dispostas em círculo, de forma que o espaço entre elas se torne um local de encontros e comemorações. No centro da oca, um tronco de pau-canela fez o papel de coluna estrutural. A distância dali até as paredes foi medida da maneira mais simples e funcional: igual ao comprimento de uma rede de dormir. A forragem do teto com fardos de folhas de palmeira foi uma novidade que os índios apresentaram aos “Tibanos” – como são chamados os aprendizes do centro. Segundo Lengen, funcionou como inversor térmico, mantendo o ambiente mais fresco em dias quentes. “O que fizemos aqui foi um brinquedo. Com mais tempo e material poderíamos fazer uma ótima casa ou restaurante”, disse. Reconstrução Thiago Mello, diretor do Instituto Serrano de Economia Criativa (ISEC), um dos parceiros do evento, acredita que casas bioconstruídas seriam soluções mais inteligentes para pessoas desalojadas pela enxurrada de 2011, ocorrida em Nova Friburgo. “Fomos vítimas da maior catástrofe natural do Brasil e podemos nos tornar paradigmáticos reconstruindo áreas da cidade segundo princípios da permacultura, que são conscientes ecologicamente e estimulam princípios de economia localizada.” Mello conta que o ISEC fez um acordo com o Sindicato de Construtores de Nova Friburgo (Sinduscon) para promover à diminuição de resíduos, através da capacitação dos construtores, e, também, para ajudá-los a obter certificações ambientais para as novas construções. “Empreiteiros da cidade estão assistindo as palestras. Fomentar a assimilação desses novos conceitos é um resultado positivo desse encontro”. Apesar dos esforços, Mello declara que a resistência a mudanças pode estar próxima: “Estou em vias de construir minha casa e abraço essas propostas, já minha esposa, nem tanto”. Fonte: ) ECo - http://www.oeco.com.br/reportagens/26668-os-materiais-da-qarquitetura-vegetarianaq

A hora de pagar a conta – Entrevista com Beto Borges sobre pagamento por serviços ambientais

“A compensação precisa ser imediata”. Nesta entrevista, o diretor da organização internacional Forest Trends fala das iniciativas de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) que estão dando certo e as perspectivas de crescimento destas ações. Remunerar pessoas, empresas, organizações sociais e órgãos públicos pelos serviços prestados em prol da preservação ambiental. Esta é uma ideia que vem ganhando peso na última década e recebeu o nome de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA). Na prática significa pagar ou dar incentivos, como isenção fiscal, às pessoas que mantenham parte de suas propriedades preservadas ou que atuem de outras maneiras para manter as florestas em pé. Nesta entrevista, Beto Borges, diretor da Forest Trends, fala sobre as práticas já existentes e do panorama de crescimento das iniciativas de PSA no Brasil e no mundo. Beto trabalha, há mais de 25 anos, com comunidades indígenas na Amazônia. Na organização internacional Forest Trends, atua na gestão do programa de comunidades. Confira a íntegra da conversa. Você pode definir o conceito de Pagamento por Serviços Ambientais? Eu prefiro o conceito de incentivo à conservação por serviços ambientais. Os incentivos podem ser feitos na forma de pagamento, com recursos financeiros, na forma de subsídios, com redução de impostos, ou na forma de assistência técnica, facilitando, por exemplo, o acesso a mercados diferenciados. A definição mais abrangente de compensação por serviços ambientais é aquela que provê incentivos para a manutenção dos serviços ambientais. Onde e como surgiu a ideia de remunerar os serviços prestados em prol da conservação? Esta é uma questão que já vem sendo discutida há muito tempo. Há dez anos, esse assunto já era debatido na área de economia ambiental. Alguns países estão avançados nesse tema. O Brasil já criou ideias interessantes, como são os casos do ICMS ecológico (imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual, intermunicipal e de comunicação) e da lei Chico Mendes, que é uma iniciativa pioneira. Além disso, o sistema de compensação brasileiro determina que 5% dos investimentos em infraestrutura precisam ser destinados para a compensação dos impactos sobre o meio ambiente. Estas iniciativas utilizam recursos públicos. Existem também empresas trabalhando com esse tipo de incentivo. O que você acredita que é mais efetivo: a utilização de recursos públicos ou privados? Os dois são importantes. Depende da implementação. Usar o dinheiro público para fomentar a prática de compensação por serviços ambientais facilita o crescimento desse mercado. Assim, não será mais um setor sujeito a oscilações da vontade política. Um exemplo é que o Brasil até hoje não tem um sistema efetivo de REDD (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação). O governo continua em cima do muro. Está esperando uma decisão internacional, para poder se posicionar, quando seria muito mais inteligente se antecipar à decisão internacional e definir as regras do jogo para o seu próprio país. Por outro lado, se depender apenas de incentivos públicos, o potencial dos sistemas de compensação por serviços ambientais fica limitado. Além disso, você isenta o setor empresarial da sua responsabilidade de levar essa preocupação para dentro da questão econômica da geração de produtos e serviços. Precisa haver um equilíbrio nos recursos públicos e privados. Sobre o uso do dinheiro público, na sua opinião, o Brasil possui ferramentas de monitoramento para que esses gastos sejam transparentes, para que as verbas não sejam aplicadas indevidamente? O monitoramento dessas e de qualquer outra política pública é muito importante. Os incentivos de Pagamento por Serviços Ambientais precisam estar apoiados em mecanismos de acompanhamento, mecanismos de transparência, para que seja possível acompanhar o processo. No caso de investimentos públicos, isso interessa para a sociedade civil, porque a fonte é o dinheiro da tributação. Infelizmente, o Brasil tem um histórico de corrupção, portanto é imprescindível que as iniciativas sejam bem monitoradas. Podem existir, inclusive, ferramentas independentes de monitoramento. O Brasil já tem uma experiência desse tipo. O Observatório do REDD é uma iniciativa da sociedade civil, que acompanha o processo de discussão das políticas públicas para o REDD no Brasil. É uma iniciativa de monitoramento de políticas e projetos para o REDD no país. É importante que existam outros mecanismos de monitoramento e apuração desse tipo de incentivo. A Procuradoria Geral da União também deveria acompanhar a aplicação destas verbas. Qual o melhor caminho para o Brasil evoluir na questão de PSA: fomentar os investimentos públicos ou privados? O melhor caminho é uma combinação dos dois. O Brasil é um país imenso, com um sistema democrático estável, com agências públicas de várias setores e que, em comparação com outros países, estão bem posicionadas e bem formadas. Tudo isto está associado a um setor privado extremamente robusto. Diante de um quadro como este, por que nos limitarmos a utilizar somente iniciativas públicas, quando é possível também estimular o setor privado? Os dois setores se complementam. O setor privado pode alcançar áreas onde ainda não é possível o setor público chegar e vice-versa. Um sistema público-privado, referenciado de acordo com as necessidades locais, é o ideal. O fato é que essas medidas precisam evoluir com urgência. Não podemos deixar essa conta para as gerações seguintes. Nós já herdamos essa fatura da falta de visão dos dirigentes passados, da falta de compreensão da sociedade passada. A compensação precisa ser imediata. Ela é fundamental para que sejam criadas novas formas de operação, novos paradigmas de desenvolvimento verdadeiramente sustentável, para nós vivermos em uma economia verdadeiramente verde. Fonte: Envolverde - http://envolverde.com.br/ambiente/entrevistas-ambiente/a-hora-de-pagar-a-conta-entrevista-com-beto-borges-sobre-pagamento-por-servicos-ambientais-2/

sábado, 24 de novembro de 2012

Pontes vivas - Meghalayas Living Bridge

Em Meghalaya, Índia, as pontes não são construídas, mas cultivadas. É um local onde chove muito, e uma ponte "convencional" não duraria muito tempo. > Estas pontes vivas, por outro lado, ficam mais fortes à medida que o tempo passa. Podem demorar de 10 a 15 anos para se tornarem funcionais, mas algumas suportam 50 ou mais homens ao mesmo tempo. São feitas de raízes de figueiras, que são conduzidas de uma margem à outra do rio. Uma vez que elas alcançam a outra margem, permite-se que enraizem. Para mais info: http://www.dailymail.co.uk/news/article-2035520/Meghalaya-villagers-create-living-bridges-training-roots-river.html

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Elefantes banguelas e ecossistemas mutilados

Com seu clima mediterrâneo, o extremo sul da África foi uma das poucas partes do continente onde colonos europeus se estabeleceram com sucesso*. A chegada dos colonizadores significou a extinção de povos nativos (mas não seus genes), o que acontece sempre que uma nova onda humana chega a uma área já ocupada. Essa costuma ser a regra, de Cro- Magnons substituindo Neandertais a Tupis substituindo construtores de sambaquis,. Os colonizadores também extinguiram parte da fauna nativa. Entre as perdas estão o Quagga, o Bluebuck e o Cape Warthog. Duas outras espécies, a Mountain Zebra e o Black Wildbeest sobreviveram apenas porque alguns fazendeiros protegeram em suas terras um punhado de rebanhos. Dentre as extinções locais, foram-se leões, rinocerontes e elefantes. Valiosos devido a seu marfim, elefantes foram exterminados sem piedade até que, em 1931, os últimos 16 indivíduos foram protegidos pela criação do Parque Nacional Addo Elephant, próximo a Port Elizabeth. Hoje, este parque cobre 180 mil hectares em terra e outros 120 mil no mar e mantém mais de 500 elefantes. Ali, foram reintroduzidas espécies antes eliminadas, como leões, rinocerontes e leopardos (reintroduções são rotina em parques na África do Sul, enquanto aqui no Brasil são controversas). Clique para ampliar“Seleção artificial” Nos elefantes de Addo, as marcas da perseguição humana se expressam na grande porcentagem de indivíduos que não desenvolvem presas. Sob intensa pressão de caçadores de marfim, a seleção poupou os elefantes com genes que resultam em banguelas. Afinal, mesmo que a ausência de presas traga desvantagens, significava uma vida mais longa. Agora, isso está mudando com a translocação de elefantes com presas vindos de outros parques para aumentar a diversidade genética da população do parque. Elefantes banguelas são um dos exemplos da seleção negativa causada pela exploração humana, visível também em espécies que vão de baleias a bacalhaus. Elas já não atingem os tamanhos históricos registrados e passaram a se reproduzir mais cedo. Frente à pilhagem humana do seu ecossistema, o melhor é viver rápido e ter filhos o quanto antes, pois você morrerá jovem. Melhor também não ter atrativos que te tornam um alvo, como presas de marfim. Por isso, elas se tornaram raras e, nesses dias, apenas alguns machos de elefantes asiáticos têm presas. Humanos são uma má notícia para elefantes e a guerra de extermínio continua, dessa vez, alimentada por novos ricos. Na maior parte são chineses, que querem pavonear itens de luxo, mas entram na lista carolas cristãos, muçulmanos e budistas que acham que imagens de marfim glorificam seus deuses. A perda dos elefantes é nociva aos ecossistemas. Megaherbívoros, eles são engenheiros que moldam seus ambientes de uma maneira profunda, da estrutura da vegetação à sua hidrologia, da ciclagem de nutrientes à frequência e intensidade de incêndios. A perda de espécies de elefante causa extinções em dominó de plantas, insetos e mamíferos. Isto é observado nas reservas africanas atuais, onde a extinção de elefantes e rinocerontes é seguida pela de antílopes que dependem do mosaico de habitats criado pelos pesos-pesado. Hoje restam três (talvez quatro) espécies de elefantes (Proboscidae), quando há apenas 10 ou 12 mil anos existiam talvez 20 espécies. Elas incluíam espécies anãs vivendo em ilhas, mamutes, stegodons, o mastodonte verdadeiro e os “mastodontes” sul-americanos. Essa diversidade foi eliminada nos últimos milhares de anos graças à ação humana, em alguns casos combinada a momentos de stress climático. Os restos de pelo menos uma espécie de elefante, Stegomastodon (ou Haplomastodon) waringi são encontrados em quase todo o Brasil, e há “cemitérios” desses animais, como o de Águas de Araxá. Esses elefantes foram generalistas, como seus primos atuais, capazes de viver em diferentes habitats e com dieta variada, e desapareceram da América do Sul a apenas 6-7 mil anos atrás. A perda da megafauna deixou para trás ecossistemas mancos, alterados de forma negativa. Além da perda de dispersores de sementes, uma consequência provável é o aumento na frequência de incêndios intensos devido ao maior acúmulo de biomassa seca, que antes seria consumida por aqueles animais. Por isso, há pesquisadores que defendem a introdução de “análogos ecológicos” de espécies extintas em “parques do Pleistoceno”, como forma de restaurar esses processos ecológicos danificados. A ideia é no mínimo controversa, mas já foi executada em parte com a reintrodução do cavalo (um nativo americano) nas Américas. Poucos se dão conta de que a apenas alguns milhares de anos o Cerrado, Caatinga, Pantanal ou Pampa eram ecossistemas mais ricos e, hoje, são uma sombra do passado. Podemos apenas imaginar como seriam nossas savanas se nossos elefantes e o resto da megafauna ainda estivessem por aqui. *Para entender mais sobre o sucesso da colonização no sul da África leia o livro “Armas, germes e aço”, de Jared Diamond Fonte: Fabio Olmos - ECO - http://www.oeco.com.br/olhar-naturalista/26674-elefantes-banguelas-e-ecossistemas-mutilados

Justiça congela licença para a usina São Luiz do Tapajós

Antes mesmo de qualquer licença, a usina São Luiz do Tapajós deverá realizar consulta prévia aos índios afetados e uma avaliação ambiental integrada dos impactos de todas as usinas planejadas para a bacia do rio Tapajós. A determinação veio da Justiça Federal em Santarém, a pedido do Ministério Público Federal. Estão planejadas para a região 5 usinas que afetarão 10 mil indígenas que vivem no local, além de unidades de conservação como o Parque Nacional da Amazônia. Os réus – União, Ibama, Aneel, Eletrobrás e Eletronorte – terão que cumprir esses requisitos antes de prosseguir com o licenciamento. O juiz federal José Airton de Aguiar Portela fixou multa diária de R$ 100 mil em caso de desobediência à proibição. No sua decisão, ele diz: “O poder público não pode negligenciar regras que ele próprio instituiu, por mais urgentes que sejam as demandas energéticas do país, pois não surgiram da vontade caprichosa de algum burocrata, mas como reclamo da própria realidade da exploração dos potenciais hidrelétricos no Brasil que, registre-se, revelou-se desastrosa por não tomar em consideração os diversos elementos presentes em uma bacia hidrográfica”. A consulta aos índios Munduruku deverá ser dirigida às comunidades Andirá-Macau, Praia do Mangue, Praia do Índio, Pimental, Km 43, São Luiz do Tapajós e outras que ainda não tenham sido localizadas. Segundo a decisão, a avaliação ambiental deverá considerar também “a necessidade de mitigações e compensações no que diz respeito à infraestrutura urbana, rodoviária, portuária e aeroportuária, além de investimentos em saúde e educação nos municípios de Santarém, Jacarecanga, Itaituba, Novo Progresso, Trairão, Rurópolis, Aveiro e Belterra.” Os critérios para exigir a chamada Avaliação Ambiental Integrada foram baseados em portaria do próprio Ministério de Minas e Energia, cujo conteúdo determina: “(...) a escolha da melhor alternativa de divisão de quedas para o aproveitamento do potencial hidráulico é determinada a partir de critérios técnicos, econômicos e socioambientais, levando-se em conta um cenário de utilização múltipla da água”. O complexo hidrelétrico dos Tapajós prevê até agora 5 usinas. O pontapé inicial para viabilizá-lo foi a publicação da Medida Provisória 558, que alterou a área de 7 unidades de conservação. Ao tramitar pela Câmara, a MP aumentou para 8 o número de unidades de conservação atingidas. A Medida Provisória 558, editada no dia 6 de janeiro, foi a primeira do ano de 2012 assinada por Dilma. No dia 26 de junho, foi aprovada por votação maciça no Senado com 68 votos a favor e 3 contra. Em seguida, menos de uma semana após o término da Rio+20, foi transformada na lei nº 12.678 e devidamente publicada no Diário Oficial. Fonte: http://www.oeco.com.br/noticias/26675-justica-congela-licenca-para-a-usina-sao-luiz-do-tapajos

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Clima – ceticismo ou esperança?

por Washington Novaes* É significativo que, ainda com os escombros da passagem da supertempestade Sandy à vista, em suas primeiras palavras após a reeleição o presidente Barack Obama tenha dito: “Queremos que nossos filhos vivam num país que não seja enfraquecido por desigualdades e que não seja destruído pelo aquecimento global”. Poucas horas antes, ainda na campanha eleitoral, seu adversário, o republicano Mitt Romney, havia dito não saber o que provoca mudanças climáticas. Já Obama dissera que “negar as mudanças climáticas não as fará deixar de acontecer”. É importante porque estamos a poucos dias de se iniciar a 18.ª reunião da Convenção do Clima (a COP-18), que reunirá quase 200 países em Doha, no Catar. E numa hora em que, segundo a secretária da convenção, Christiana Figueres, as promessas atuais de redução de emissões de gases de efeito estufa no mundo não são suficientes para atingir o objetivo de conter em 2 graus Celsius, até 2050, o aumento da temperatura da Terra – limite além do qual as consequências serão muito dramáticas (a Blue Planet, instituição que reúne os Prêmios Nobel alternativos do meio ambiente, acha que o aumento ficará em 3 graus, no mínimo, e poderá chegar a 5 graus até o fim do século; outras instituições mencionam 6 graus ou mais). Mas continua tudo muito difícil. Há quem pense que China e Índia já recuaram da decisão de aceitar, até 2015, um compromisso “vinculante” de todos os países de reduzir suas emissões a partir de 2020. Representantes norte-americanos chegam a dizer que é preciso haver uma declaração “criativamente ambígua”, “flexível e dinâmica” (sem objetivos específicos), e um deles opinou que melhor seria “cada país decidir por si mesmo o caminho a tomar”. Já a Agência Internacional de Energia entende que o caminho mais curto e eficaz será dobrar a produção de energia elétrica e outras fontes não poluentes até 2050 (hoje a primeira está em pouco mais de 16% do total, ante 67% das energias fósseis, 12,8% da nuclear e 3,6% de outros formatos). Mas China e Índia, principalmente, embora venham avançando na implantação de formatos não poluentes, também vêm ampliando a produção de energia a partir do carvão, sua principal fonte, diante da necessidade de ampliar o fornecimento – na Índia 600 milhões de pessoas ainda não dispõem de energia elétrica. Para complicar mais, continua a discussão entre países “emergentes” e industrializados, com os primeiros entendendo que a responsabilidade de redução de emissões deve caber aos segundos, que emitem poluentes há mais tempo, desde o início da Revolução Industrial, e estes retrucando que hoje os não industrializados já emitem mais que eles – e sem uma redução correspondente nesse “novo mundo” não haverá uma queda suficiente nas emissões globais (pouco menos de 40 bilhões de toneladas anuais de dióxido de carbono). E ainda há outros complicadores em cena: que se fará, por exemplo, para reduzir as emissões na cadeia que envolve a agricultura e a produção de alimentos (29% do total), na hora em que será preciso alimentar mais 2 bilhões de pessoas e eliminar a fome de 1,3 bilhão? O Banco Mundial mostra que os ângulos econômicos da questão têm forte peso nas decisões: as emissões aumentam 0,73% para cada 1% de alta no PIB, mas só diminuem 0,47% a cada queda de 1% (Nature Climate Change, 8/10). E como a expansão econômica neste século pode levar o PIB mundial a pelo menos US$ 235 trilhões, podendo chegar até a US$ 550 trilhões (está por volta de US$ 70 trilhões), não se tem como excluir um panorama preocupante, que leve a temperatura planetária a aumentar até 6,4 graus Celsius. Hoje os subsídios a energias renováveis estão em apenas US$ 70 bilhões anuais, muitas vezes menos que os subsídios para os combustíveis fósseis, principalmente petróleo. “Vivemos uma emergência planetária”, diz o conceituado cientista James Hansen, da Nasa. E ganha logo apoios, diante das notícias de que o gelo do Ártico se reduziu à menor área de todos os tempos (3,4 milhões de quilômetros quadrados). Há quem pense – como o cientista Peter Wadhams, da Universidade de Cambridge (The Guardian, 17/9) que ele poderá “desaparecer” em quatro anos. Mas sob o gelo há uma quantidade gigantesca de metano que poderá ser liberada (e o metano é pelo menos 21 vezes mais prejudicial na atmosfera que o carbono). Já há uma corrida de empresas norte-americanas, russas, chinesas e outras para explorar ali o petróleo e o gás antes inacessíveis. Entretanto, mesmo diante de fatores dramáticos, há quem continue a duvidar de perspectivas tão ameaçadoras. Mas os “céticos do clima” perderam há pouco uma de suas vozes mais fortes, Richard Muller, físico da Universidade de Berkeley, segundo quem “há fortes evidências de que os humanos tenham mudado o clima planetário”. Com tudo isso, Yvo de Boer, ex-secretário-geral da Convenção do Clima, pensa que “um acordo agora parece impossível”, ainda que já se saiba que o próximo relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, a ser divulgado em 2013, “será chocante” (Watoday, 7/11). Por isso é importante que cada país defina sua metas de redução de emissões, independentemente das negociações em Doha. Até porque estas terão um complicador: as negociações sobre prorrogar (ou não) o Protocolo de Kyoto, de 1997, que expira este ano e é o único acordo internacional que define metas obrigatórias de redução (5,2%) de emissões para os países industrializados. Os Estados Unidos já não o ratificaram e agora Rússia, China e Canadá dizem que não aceitam a prorrogação (o Brasil quer, pois é o terceiro país em volume de recursos recebidos para financiamento de projetos que reduzam emissões, e estes já movimentaram dezenas de bilhões de dólares no mundo). Neste panorama mundial de desastres, e com o Brasil enfrentando inundações, calor e secas inéditos em muitas décadas, vamos ver que posição tomaremos em Doha. * Washington Novaes é jornalista. ** Publicado originalmente no site O Estado de S. Paulo. Fonte: http://envolverde.com.br/sociedade/artigo-sociedade/clima-ceticismo-ou-esperanca/

Espécie que não precisa de água para viver pode revolucionar a ciência

Pesquisadores da Universidade da Califórnia descobriram que um estranho animal microscópico pode ser o mais resistente do planeta. Suas características levam a crer que novas linhas de pesquisas podem surgir a favor da saúde dos seres humanos. Chamado de tardigrado, o animal é popularmente conhecido como urso d’água. Apesar de possuir uma aparência realmente estranha, o que mais interessa aos cientistas é sua capacidade em se manter vivo, mesmo em um ambiente sem água, uma característica considerada impossível até então. Além disso, eles são resistentes e conseguem sobreviver a temperaturas baixas e altas, assim como podem viver no vácuo do espaço por pelo menos dez dias. O animal pode ser encontrado em vários locais do planeta, de abismos marinhos até às montanhas mais altas. Apesar de serem um dos animais mais resistentes, eles são muito pequenos. De acordo com o Jornal Ciência, ele possui oito patas, sendo que cada uma tem de quatro a oito pequenas garras e seu corpo varia de 0,05 a 1,25 milímetros. A maior parte deles se alimenta do conteúdo celular de bactérias ou de algas, e vive entre os musgos e liquens. Boa parte desses animais, que pode viver até 120 anos, está no Ártico e na Antártida. Através das descobertas recentes, os cientistas acreditam que podem surgir novos caminhos no estudo e na conservação de vacinas, do DNA humano, e das células tronco. Com informações do G1. Fonte: Redação CicloVivo - http://www.ciclovivo.com.br/noticia.php/5851/especie_que_nao_precisa_de_agua_para_viver_pode_revolucionar_a_ciencia/