Tornar uma cidade sustentável já é muito difícil. O conjunto delas, então, pode parecer impossível. Mas não é. Quer dizer, não será, se governos, sociedade civil e empresas realmente quiserem. A sustentabilidade tem uma dimensão de oportunidade raras vezes compreendida, e exige uma determinação que vai além da vontade política convencional. É uma questão de visão, de profundo entendimento das mudanças que estão emergindo no mercado, na tecnologia, nos valores e no sentido do desenvolvimento.
Ninguém mais discute se o desenvolvimento sustentável é o caminho. A discussão é de como trilhá-lo. Como mitigar as perdas da economia tradicional? Como adotar medidas restritivas de forma não autoritária? Como avançar o marco regulatório sem ser impopular? Essas são algumas das perguntas mais frequentes.
Existem, porém, outras, menos usuais, mas chaves para este novo caminho. Como os problemas da escassez podem se tornar oportunidades? Como as mudanças de hábito podem sugerir novos produtos? Como a reciclagem pode produzir uma nova indústria? Como os serviços da natureza vão mudar a concepção de serviços e da economia? Como políticas públicas podem melhorar a qualidade de vida e avançar a cidadania? Como a mancha urbana pode induzir a criação de ecossistemas saudáveis?
São infindáveis as perguntas que precisam ser feitas. A boa noticia é que não só sua frequência está aumentando como também o escopo amplia-se.
O mundo tem se debruçado sobre o tema das cidades sustentáveis e inteligentes. Desde o Compromisso de Alborg, em 1994, passando pelas iniciativas da UN-Habitat e da C-40, na Rio+20, às do setor privado, não se pensa mais as cidades como antes.
A concepção tradicional de aglomerados urbanos – concentradores de serviços públicos, de atividades econômicas, de habitação e empregos – criou verdadeiros “buracos negros” que a tudo absorvem. Sua força gravitacional impacta centenas de quilômetros em seu entorno, consome a biodiversidade, todos os serviços da natureza e não devolve nada ao ecossistema. Para não se falar na qualidade de vida medíocre, principalmente nos países em desenvolvimento.
O desafio de transformar as cidades em polos irradiadores de serviços ao ecossistema, ao mesmo tempo em que se avance a qualidade de vida e a justiça social, é a chave desta nova concepção de desenvolvimento que arrebata urbanistas, políticos e empresários neste inicio de século.
Muito se tem avançado e temos visto os benefícios. A Rede das Cidades Sustentáveis, ao disseminar a Plataforma das Cidades Sustentáveis nas últimas eleições, conseguiu que, de todos os candidatos signatários do compromisso, 205 prefeitos fossem eleitos, sendo 42 em cidades de mais de 200 mil habitantes. Eles governarão cerca de 25% da população brasileira, sendo 19 capitais.
Essa é uma demonstração do que os movimentos sociais junto com os governos podem fazer pela agenda da sustentabilidade. As empresas também estão contribuindo em múltiplas frentes. No setor da construção civil, firmam-se novos protocolos de construção verde. Os supermercados se reinventam ao incorporar serviços públicos de coleta seletiva. E, na cidade de São Paulo, a votação do Plano Diretor acontecerá com fortíssima influência da Plataforma das Cidades Sustentáveis, inclusive com a formação de uma bancada da sustentabilidade na Câmara de Vereadores.
Muitas empresas perceberam que seu futuro será determinado pela capacidade de absorver novas tecnologias sustentáveis. Os exemplos se multiplicam: do plástico verde aos modernos aterros sanitários produtores de energia; da indústria do saneamento à certificação da madeira; da eficiência energética na linha branca à eficiência motriz da indústria automobilística. A lista é enorme e gradativamente empresas e poder público trabalham para que a agenda da sustentabilidade seja a das cidades para os próximos anos.
As empresas devem traduzir o imperativo da sustentabilidade em produtos e serviços com potencial de induzir a mudança. O poder público deve tornar políticas públicas indutoras e incentivadoras da nova economia, a começar com as licitações e compras públicas. Deve usar também todos os instrumentos de política fiscal e outros disponíveis para acelerar a inovação e as mudanças de hábitos necessárias, incluindo políticas educacionais e de cidadania.
A colaboração intersetorial, pluridimenional e sistêmica está no coração da gestão para a sustentabilidade, seja pública ou privada. Dai decorre também a necessidade de otimizar o uso dos conselhos municipais e estaduais como espaços privilegiados para esse debate.
* Ricardo Young é militante pioneiro da causa da sustentabilidade no movimento empresarial e vereador eleito da cidade de São Paulo.
** Publicado originalmente no site Ideia Sustentável.

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