quinta-feira, 30 de abril de 2015

Pesca da piracatinga: o boto-rosa não pode ser isca


Adriano Gambarini - 29/04/15

21102014-gambarini-piracatingaRibeirinho exibe piracatinga 'pescada' com uma bacia, logo após a produção do experimento registrado no vídeo. Foto: Adriano Gambarini
Não é de hoje que a pesca do peixe piracatinga (Calophysus macropterus) causa preocupação. A razão é a matança indiscriminada do boto-cor-de-rosa para ser usado como isca para a piracatinga em muitos rios da Amazônia.
Publicado recentemente na revista científica Journal of Applied Ichthyology, especializada no estudo de peixes, o artigo "Uso de golfinhos e jacarés como isca para Calophysus macropterus [nome científico da piracatinga] na Amazônia" detalha as características desta pesca nas regiões do baixo rio Purus e Médio Solimões.
Os pesquisadores responsáveis pelo trabalho são: Felipe Rossoni e Sannie Brum, do Instituto Piagaçu; Leandro Castello, da Virginia Polytechnic Institute and State University, (que fazem parte da equipe do projeto Peixes da Floresta, patrocinado pelo Programa Petrobras Socioambiental); e Vera da Silva, pesquisadora do INPA e da Associação Amigos do Peixe Boi (AMPA). Eles abordam as técnicas pesqueiras, principalmente quanto ao uso de dois aparelhos: a "caixa", amplamente conhecida e utilizada na região do médio Rio Solimões, e o "curral", descrito pela primeira vez e utilizado na região dos rios Purus e Manacapuru. Como o curral é portátil, permite que barcos pesqueiros realizem a pesca da piracatinga em rios sem nenhuma fiscalização.
09102014-gambarini-piracatinga1Cardume de piracatinga (Calophysus macropterus) no Rio Purus, AM. Foto: Adriano Gambarini
A piracatinga é vendida aos frigoríficos da região, que processam o produto e podem tanto comercializá-lo nas cidades próximas quanto exportá-lo à Colômbia.
Os pesquisadores identificaram um aumento da produção de piracatinga de mais de 400% por ano e também, infelizmente, confirmaram a utilização de jacarés e dos golfinhos da Amazônia (boto-rosa e tucuxi) como as iscas principais. Os impactos causados nas populações destas espécies em decorrência da pesca indiscriminada ainda estão sob investigação. Ressalte-se que o boto-rosa já é considerado "em perigo" na última lista de espécies brasileiras ameaçadas, e um dos principais problemas advém da sua utilização como isca na pesca da piracatinga. Matar o boto para usá-lo como isca é uma característica ilegal desta pescaria. Por isso, desde janeiro deste ano, está proibida por cinco anos a pesca da piracatinga em todo o território brasileiro.
Agora, o setor pesqueiro amazônico, junto com o Ministério Público Federal, instituições conservacionistas e universidades buscam soluções para o impasse: a rentável pesca da piracatinga só pode prosseguir se houver alternativas de isca para os pescadores, que não prejudiquem as populações dos botos amazônicos.
27072014-gambarini-piracatingaBoto-rosa no Rio Tapajós, PA. Foto: Adriano Gambarini

Video do experimento
 Fonte: http://www.oeco.org.br/adriano-gambarini/29095-pesca-da-piracatinga-o-boto-rosa-nao-pode-ser-isca

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Sobrevoos confirmam: as toninhas estão desaparecendo.


Em março de 2014, o Projeto Toninhas realizou um grande esforço para conhecer a situação das toninhas no sul do Brasil. O trabalho foi realizado por meio de sobrevoos entre Florianópolis/SC e Chuí/RS. As novas análises comprovam que a situação é alarmante e a estimativa é que apenas 9.500 animais vivem atualmente nesta região, considerada a de maior abundância da espécie no Brasil.


“Embora o governo brasileiro tenha produzido um Plano de Ação Nacional para a Conservação da Toninha, poucas ações práticas, voltadas a redução das ameaças, foram realizadas, o que levou a espécie a se aproximar ainda mais da extinção.”
Marta Cremer - coordenadora do Projeto Toninhas


Fonte: http://novo.univille.edu.br/noticias/Abril-2015/toninhas/676840

sexta-feira, 24 de abril de 2015

Biólogo usa drones para investigar a floresta amazônica


InfoAmazônia - 22/04/15

*Texto originalmente publicado no Blog do Infoamazonia, por Gustavo Faleiros.
22042015-floresta-droneVista aérea da torre de observação da Estação de Pesquisa Tiputini.
Aeronaves não pilotadas, mais conhecidas como drones, não são apenas armas de guerra ou brinquedos de hobistas endinheirados. Cresce o número de pesquisadores utilizando a tecnologia para ampliar a capacidade de investigação. Na África, por exemplo, drones têm sido utilizados para monitorar a migração de grandes mamíferos e para o combate à caça ilegal. Na Amazônia, já existem pesquisas utilizando drones em busca de antigas civilizações e povos indígenas os empregam para proteger seus terrritórios.
22042015-diego-mosqueraBiólogo equatoriano Diego Mosquera está empregando drones para expandir sua pesquisa. Foto: arquivo pessoalDiego Mosquera é o coordenador da estação de pesquisa Tiputini localizada no Equador. Como biólogo, tem o privilégio de estar dentro do local que ainda hoje é considerado como um dos maiores repositórios de vida em todo planeta, o Parque Nacional do Yasuní. Em 2010, convidado pela Universidade São Francisco de Quito, que coordena a estação, fiz uma visita ao Tiputini. Foi uma das experiências mais fortes que já tive na Amazônia. No local existem torres de observação de 50 metros de altura que nos levam a uma posição acima do dossel. Dali, se tem a impressão de estar contemplando uma selva infinita.
Na ocasião da visita, Diego já trabalhava no Tiputini e nos contou sobre seu trabalho com as armadilhas fotográficas, que monitoram a incrível fauna que vive no Yasuní. Seguindo seus passos no Facebook, notei que postava fotos de uma perspectiva diferente e descobri que tem utilizado um drone para observar a diversidade amazônica em uma escala ainda maior.
"A floresta amazônica é muito diversificada na composição de plantas e imagens aéreas podem 'mapear' a floresta em grande detalhe para localizar determinados habitats de interesse", ele explica.
A seleção das fotos neste artigo são imagens coletadas pelo drone do biólogo. Na pequena entrevista a seguir, ele conta quais são suas expectativas sobre como o equipamento pode ajudar na conservação.
Como começou a trabalhar na estação de Tiputini? O que você investiga?
Estudei ecologia na universidade e trabalhei em vários projetos na Amazônia quando me formei. Desde 2005, eu tive a oportunidade de trabalhar no Tiputini, pois os diretores foram meus professores. Eu coordeno um projeto que visa documentar a diversidade de mamíferos terrestres e aves através de armadilhas fotográficas, com a ideia de padrões de diversidade, circulação e utilização de recursos e ver como esses padrões mudam com o tempo.
Clique nas imagens para ampliá-las e ler as legendas
22042015-drone-tecnologia
22042015-parque-yasuni22042015-drone-amazonia
22042015-parque-yasuni-drone          
Como começou a usar drones?
Comecei a usar drones há 4 meses atrás. Os drones são muito populares nos dias de hoje e seu uso têm um grande potencial para muitas atividades. Eles têm sido usados ​​em todo o mundo para monitorar o desmatamento e caça ilegal e pesca entre muitos usos. Recentemente, tive a oportunidade de comprar um drone e estou particularmente interessado em seu uso para monitoramento da fauna e para mapeamento dos ecossistemas aquáticos e terrestres.
Já encontrou o uso para sua pesquisa científica?
Ambos os drones como armadilhas fotográficas são ferramentas de monitoramento. Nosso projeto é colocar armadilha para as câmeras do nível do solo, de modo que, em teoria, não existe uma relação direta com o uso de drones. No entanto, queremos expandir a nossa investigação para locais mais distantes e para isso os drones são muito úteis. Podemos identificar potenciais locais, avaliar a sua condição, acessibilidade e até mesmo a sua diversidade. A combinação de drones e armadilhas fotográficas nos ajuda a ter uma visão muito mais ampla da floresta e sua dinâmica. Ao usar drones salvo muito tempo e esforço e, acima de tudo causamos menos impacto, porque, como armadilhas fotográficas, drones são uma técnica não-invasiva. Ao mesmo tempo, o uso de drones em combinação com fotografia aérea nos fornece detalhes da floresta que, por vezes, não conseguem obter imagens de satélite é devido à presença de nuvens. Isso nos ajuda também a tarefas de monitoramento ambiental, como o monitoramento do desmatamento, o avanço da agricultura, a abertura de canais de acesso ilegal ou caça.
Fonte: http://www.oeco.org.br/reportagens/29080-biologo-usa-drones-para-investigar-a-floresta-amazonica