terça-feira, 19 de maio de 2015

O Projeto Cetáceos da Costa Azul em prol da conservação marinha


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Por Rodrigo H. Tar din, Israel Sá Maciel, Thamires Mello- Neto, Sheila M. Simão e Mar ia Alice S. Alves - fotos Rodrigo H. Tardin
A costa brasileira possui cerca de 10.800km de extensão. A ocupação humana em áreas costeiras tem aumentado exponencialmente e como consequência diversos produtos resultantes das atividades humanas acabam tendo o mar como destino final.
Tal interação pode mexer com todo ecossistema marinho, alterando níveis de salinidade, oxigênio, temperatura da água, dentre outros. Por modificar a propriedades físicas da água, ocorre uma alteração também em toda a fauna marinha, desde invertebrados como as estrelas-do-mar aos vertebrados de grande porte como as baleias. As baleias e os golfinhos, mamíferos aquáticos da classe Cetacea, são animais carismáticos que têm enfrentado cada vez mais os impactos gerados pelas atividades humanas.
A maioria das espécies de cetáceos é considerada chave para o ecossistema marinho, porque o seu desaparecimento pode levar a um desequilíbrio ambiental e consequente ao desaparecimento de outras espécies desse ambiente. Além disso, por serem carismáticas, são consideradas espécies guarda- chuva, já que a sua conservação pode beneficiar outras espécies e muitas vezes o ecossistema onde ocorrem. Entretanto, o número de casos de baleias e golfinhos encontrados mortos por redes de pesca ou atingidos por embarcações têm aumentado ao redor do mundo.
A crescente busca por recursos marinhos tem colocado em perigo diversas espécies de cetáceos que se são capturados acidentalmente nos artefatos de pesca, como a toninha (Pontoporia blainvillei) na costa brasileira e os golfinhos pintados pan-tropicais, Stenella attenuatta, no Peru.
A pesca intensiva de décadas tem levado à redução dos recursos pesqueiros e,consequentemente, muitos pescadores estão migrando para o turismo náutico como atividade principal. Como resultado, há um crescente númerode embarcações no mar, o que resulta em aumento na interação desta com os cetáceos, o que muitas vezes ocorre de forma não-regulada e afeta direta e indiretamente baleias e golfinhos.
Dentre as principais consequências diretas das interações entre embarcações e cetáceos estão osatropelamentos (comumente reportados entre barcos de grande porte) e as mutilações. As consequências indiretas são mais difíceis de serem mensuradas, mas, em geral, envolvem a perda do hábitat adequado para a vida dessas espécies. Essa perda do habitat pode ocorrer devido ao excesso de poluição sonora no ambiente aquático, má qualidade da água ou estresse causado pelas embarcações, ocasionando, por exemplo, o deslocamento desses animais no ambiente.
Em lugares de águas cristalinas e belas praias, que também servem de moradia para baleias e golfinhos, a interação com embarcações pode ocorrer mais intensamente, devido ao grande número de visitantes e à fácil visualização desses animais. Esse é o caso da costa de Cabo Frio, Arraial do Cabo e Búzios, localizados na porção leste do estado do Rio de Janeiro. Essa região é considerada de elevada importância biológica, de acordo com o Ministério do Meio Ambiente, principalmente por ser uma região de alta produtividade, resultante do fenômeno conhecido como ressurgência.
De modo a monitorar a sobreposição das áreas usadas pelos cetáceos na região com as áreas utilizadas pelas embarcações de turismo e mergulho, o Laboratório de Bioacústica e Ecologia de táceos (UFRuralRJ) em parceria com o Laboratório de Ecologia de Aves (Depto. de Ecologia, UERJ), Instituto Biomas e a Duke University (EUA), patrocinados pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, têm monitorado as interações entre cetáceos e seres humanos.
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A região de Cabo Frio e Arraial do Cabo faz parte da rota migratória das baleias-jubartes, Megaptera novaeangliae, para ás águas do nordeste do Brasil durante o inverno. Muitas vezes, é possível avistar filhotes acompanhando suas mães nesse comportamento
Os resultados do projeto, batizado de CETÁCEOS DA COSTA AZUL, têm mostrado que as áreas utilizadas para turismo e mergulho são também as usadas principalmente pelos golfinhos, mas em baixa proporção. As baleias tendem a ocorrer mais afastadas da costa e, portanto, são potencialmente menos suscetíveis que os golfinhos às interações com embarcações. Entretanto, apesar da interação direta com os barcos não ser muito evidente, dados dos nossos estudos sugerem que as populações de golfinhos da região podem estar evitando algumas áreas, teoricamente adequadas para sua ocorrência, devido à massiva presença de embarcações.
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Durante o verão, principalmente, há um aumento nos números de embarcações na água, que se não manejado corretamente pode impactar negativamente as baleias e os golfinhos
Essas regiões possuem águas rasas, claras e calmas, ideais para o cuidado com os filhotes, que nessa idade são pouco desenvolvidos em termos de musculatura e fisiologia. Entretanto, estas mesmas águas são de grande beleza e alvo principal das embarcações de turismo e mergulho. Logo, as mães e filhotes das diferentes espécies de golfinhos da região, que poderiam estar usando estes locais como um berçário natural, podem estar evitando a área.
As interações entre o homem e as demais espécies devem ser feitas de modo responsável e sustentável. Entretanto, as pressões atuais têm diminuído cada vez a harmonia dessas interações.
É nossa responsabilidade, enquanto seres humanos, garantir que os ecossistemas possam existir de forma saudável e cobrar das instituições competentes que essas interações entre seres humanos e demais espécies, sejam reguladas e fiscalizadas.
O Projeto Cetáceos da Costa Azul continuará a trabalhar em prol da conservaçãob das baleias e golfinhos, assim como do ecossistema aquático como um todo, subsidiando os órgãos ambientais com informações científicas para a tomada de decisões em prol da conservação desses cetáceos.

Fonte: http://revista.rebia.org.br/2015/81/667-o-projeto-cetaceos-da-costa-azul-em-prol-da-conservacao-marinha

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