sexta-feira, 31 de julho de 2015

Clima, desmatamento e colapso: a Ilha de Páscoa é você amanhã?


Observatório do Clima* - 28/07/15

*Por Heloisa e Vilfredo Schurmann
29112011-easter-islandIlha de Páscoa, Região de Valparaíso, Chile. Foto: Arian Zwegers
O que aconteceu com as árvores da Ilha de Páscoa? Há 17 anos, quando chegamos à ilha pela primeira vez, ficamos impressionados pela quase ausência de árvores. Já não havia árvores nativas, apenas reflorestamentos. Felizmente, na segunda visita, notamos um aumento na vegetação, mas mesmo assim o número de lugares descampados ainda é grande.
Um conjunto de fatores pode explicar o desmatamento da ilha que, segundo vestígios arqueológicos, era lar da maior palmeira do mundo. Para Sebastián Paolla, pesquisador e guia turístico, muito se atribui à ação do homem.
Grandes áreas foram desmatadas para utilização do solo para agricultura, durante o auge populacional da ilha, que chegou a ter por volta de 15 mil habitantes. Por ambição, competição ou mesmo falta de conhecimento, os nativos, conhecidos como rapa nui, não souberam administrar seus recursos de maneira sustentável.
Alguns arqueólogos e especialistas também argumentam que durante a construção dos moai – as gigantes e impressionantes esculturas de pedra vulcânica, a partir do ano 1000 – foram consumidos boa parte dos recursos naturais da ilha. Tanto para alimentação, pois exigiram um enorme esforço, quanto para movimentações das esculturas megalíticas sobre troncos de madeira.
Além disso, um estudo mostrou que houve uma praga de ratos na Ilha de Páscoa, trazidos em suas canoas pelos primeiros polinésios. Sem predadores, comiam as raízes, os frutos e as árvores jovens.
Sem árvores, logo os ilhéus ficaram sem material de construção, sem lenha para queimar e impossibilitados de construir canoas e anzóis para pesca. A sociedade entrou em colapso, cujo primeiro sinal foi a interrupção da construção de moais. Logo, a falta de vegetação nativa levou à erosão dos solos agrícolas. A comida diminuiu, e com ela a população. Páscoa entrou num declínio populacional que foi completado pela chegada dos europeus com suas doenças, no século 18. Em 1872, a ilha tinha apenas 111 habitantes nativos.
Os rapa nui também nos falaram que sentem cada vez que a ilha está mais fria e seca. Maeha, uma artesã local, nos disse que no passado, quando criança, era inconcebível a ideia de andar na Ilha de Páscoa de meia, calças e casacos. Hoje, sente frio mesmo nos dias mais ventosos da primavera e outono.
Para Sebastian: “o que passou na Ilha de Páscoa é o que está passando no resto do mundo.”
Este texto e este vídeo foram produzidos pela família Schurmann numa parceria com o Observatório do Clima durante a Expedição Oriente, a terceira viagem de volta ao mundo dos exploradores brasileiros. Desde 2014 os Schurmann estão refazendo os caminhos que teriam trazido os chineses à América em 1421 e procurando respostas que podem estar escondidas no Oriente há quase 600 anos. No caminho, têm visitado e revisitado lugares e populações atingidos pela mudança climática e outros problemas ambientais. Veja o primeiro vídeo do projeto aqui.

Fonte:  http://www.oeco.org.br/reportagens/29254-clima-desmatamento-e-colapso-a-ilha-de-pascoa-e-voce-amanha

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Dentista americano é acusado de matar leão mais famoso do Zimbábue


  • Paula French/AP
    ONG do Zimbábue afirma que Cecil foi alvejado por arco e flecha e depois, alvo de tiros
    ONG do Zimbábue afirma que Cecil foi alvejado por arco e flecha e depois, alvo de tiros
Ambientalistas do Zimbábue afirmam que o homem que pagou US$ 50 mil (cerca de R$ 170 mil) para matar o leão mais famoso do país é um dentista norte-americano.
A Força de Preservação do Zimbábue (ZCTF, na sigla em inglês) identificou o turista como sendo Walter Palmer, do Estado de Minnesota, e afirmou que ele alvejou o animal com arco e flecha e um rifle.

Em declaração divulgada nesta terça-feira (28), Palmer admitiu participação na caçada, mas disse que pensava que tudo estava legalizado.

O leão, chamado Cecil, foi depois degolado e teve a pele arrancada, segundo a ZCTF.

Dois cidadãos do Zimbábue que se envolveram no episódio foram acusados de caça ilegal, porque o grupo não tinha permissão para a atividade.

Os homens --um caçador profissional e um fazendeiro-- podem pegar até 15 anos de prisão no Zimbábue caso sejam condenados. Eles deverão se apresentar a um tribunal nesta quarta-feira.

A polícia do Zimbábue confirmou que Palmer também poderá responder por caça ilegal.

"Prendemos duas pessoas e agora estamos procurando por Palmer por envolvimento no mesmo caso", afirmou a porta-voz da polícia Charity Charamba.

O jornal "Star Tribune", de Minnesota, divulgou uma declaração do dentista em que ele reconhece ter abatido o leão, mas afirma que desconhecia o caráter ilegal da empreitada.

Palmer afirma ter pensado que "tudo estava legal e devidamente gerenciado" e disse que confiou na experiência de guias profissionais para "garantir uma caça legal".

"Eu não tinha ideia até o final da caçada que o leão que abati era conhecido e estimado localmente e que usava um colar como parte de um estudo", afirma.

"Eu me arrependo profundamente que minha busca por uma atividade que amo e pratico de forma responsável e legal tenha resultado no abate desse leão."

As autoridades locais inicialmente haviam dito que um turista espanhol era o provável responsável pelo crime.

Reação furiosa

O consultório de Palmer estava fechado nesta terça, e um aviso na porta direcionava os visitantes a uma empresa de relações públicas, segundo a imprensa local. A página do dentista no Facebook foi apagada após ser alvo de comentários raivosos, e o site do consultório também saiu do ar.

O Zimbábue, como muitos países africanos, luta para coibir a caça ilegal que ameaça a vida selvagem da região. O leão Cecil, de 13 anos, era uma grande atração turística do parque nacional Hwange, o principal do país.

Estima-se que ele tenha sido morto no último dia 1º, mas a carcaça só foi descoberta dias depois.

A ZCTF afirmou que o grupo usou iscas para atrair o leão para fora do parque, durante uma perseguição noturna. Palmer teria atingido Cecil com flechas, ferindo o animal. O grupo só teria encontrado o animal 40 horas depois, quando Cecil foi morto com disparo de arma de fogo.

O felino tinha um colar GPS como parte de um projeto de pesquisa da Universidade de Oxford, que permitia mapear sua movimentação. Os caçadores tentaram destruir o aparelho, mas sem sucesso, segundo a ZCTF.

Na última segunda-feira, o chefe da ZCTF afirmou à BBC que Cecil "nunca incomodou ninguém".

"Ele era um dos animais mais belos de se observar", disse Johnny Rodrigues.

Os seis filhotes de Cecil agora deverão ser mortos pelo novo macho do grupo, disse Rodrigues, para estimular as fêmeas a cruzar com ele.

"Isso é como a coisa funciona na natureza selvagem. É a natureza tomando seu rumo", afirmou.
Amy Forliti/AP
Fachada do consultório do dentista Walter James Palmer, em Bloomington, Minnesota
Fonte: http://noticias.uol.com.br/ciencia/ultimas-noticias/bbc/2015/07/28/dentista-americano-e-acusado-de-matar-leao-mais-famoso-do-zimbabue.htm

Morre em zoo tcheco um dos últimos cinco rinocerontes brancos do mundo


Um cisto rompido causou a morte de Nabire, de 31 anos, na segunda (27).
Espécie tem apenas um exemplar nos EUA e três em reserva queniana.

Da AP
Nabire, uma fêmea de rinoceronte branco que nasceu e viveu 31 anos no zoológico de Dvur Kralove, na República Tcheca, em foto de 8 de julho de 2011 (Foto: AP Photo/Petr David Josek)Nabire, uma fêmea de rinoceronte branco que nasceu e viveu 31 anos no zoológico de Dvur Kralove, na República Tcheca, em foto de 8 de julho de 2011 (Foto: AP Photo/Petr David Josek)
Um dos últimos cinco rinocerontes brancos do mundo morreu na segunda-feira (27). De acordo com o zoológico de Dvur Kralove, na República Tcheca, a fêmea Nabire, de 31 anos, morreu na tarde de segunda por causa de um cisto rompido.

Nabire nasceu no zoológico em 15 de novembro de 1983, e era um caso raro de um exemplar da espécie nascida em cativeiro.

O diretor do zoo, Premysl Rabas, chamou a morte de “uma perda difícil de descrever”. Ele disse que “a morte de Nabire levou outra espécie animal a se aproximar da extinção completa”.

Apenas outros quatro rinocerontes brancos ainda estão vivos: um no zoológico de San Diego, nos Estados Unidos, e três na reserva Ol Pejeta Conservancy, no Quênia.

Em 2009, o zoológico tcheco levou quatro rinocerontes ao Quênia, esperando que o ambiente natural os ajudasse a se reproduzirem, mas o plano falhou.

Fonte: http://g1.globo.com/natureza/noticia/2015/07/morre-em-zoo-tcheco-um-dos-ultimos-cinco-rinocerontes-brancos-do-mundo.html?utm_source=facebook&utm_medium=social&utm_campaign=g1

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Direto da Nasa: satélites vão proteger as baleias azuis




Por Ethevaldo Siqueira


A baleia azul (balaenoptera musculus) é um animal fascinante. Mas ela está ameaçada de extinção. Uma notícia divulgada pela Nasa neste fim de semana nos dá novas esperanças de salvar ou, pelo menos, de trazer maior proteção a esse mamífero marinho, que é o maior animal que já existiu em toda a história da Terra.

Os números são assustadores e mostram o que está ocorrendo com as baleias azuis. No começo do século XX, a população mundial desses animais era de cerca de 240.000 baleias azuis. Hoje, não passam de 12.000 na melhor das hipóteses. Até 1910, sua caça era relativamente pequena. Ao longo de muitas décadas, mais de 80% da população mundial de baleias de todas as espécies e subespécies foram eliminadas pela caça predatória.

Bruce Mate, diretor do Instituto de Mamíferos Marinhos, da Universidade do Estado do Oregon, lembra que a baleia azul mede mais de 30 metros de comprimento e seu peso ultrapassa 100 toneladas. A cor de seu corpo é uma espécie de azul iridescente. Esse cientista tem catalogado e etiquetado baleias azuis desde 1979. Depois de 35 anos, ele ainda fala com paixão desses animais maravilhosos. Mas o ser humano – maior predador do planeta – é a maior ameaça à sua existência.
A maior parte das baleias azuis vive nos oceanos Pacífico, Antártico e Índico. Mesmo com proibições determinadas por acordos internacionais, alguns países, como o Japão, continuam a dizimar todas as espécies de baleias, inclusive as azuis.

Até o final deste ano, entretanto, uma nova ferramenta online desenvolvida pela Nasa ajudará a proteger espécies ameaçadas de extinção em colaboração com a Administração Norte-Americana Atmosférica e Oceânica ou, na sigla em inglês, NOAA (de National Oceanic and Atmospheric Administration). Essa ferramenta tem o nome de WhaleWatch (“observador das baleias”), que poderá ajudar na redução da mortalidade desses animais, em especial nos casos de colisão com barcos ou de baleias enroscadas em apetrechos de pesca.

Das 12.000 baleias azuis que ainda restam no planeta, um quarto delas vivem no Oceano Pacífico. A maioria delas, como acontece com outras espécies de baleias ameaçadas de extinção, migra ao longo do litoral da Califórnia, na rota de grandes navios de pesca e de tráfego entre os grandes portos de Los Angeles e São Francisco.

Essas baleias correm o risco de serem feridas por colidirem com esses navios maiores, além de se enroscar em armadilhas de pesca e que as impedem de alimentar-se ou mesmo de subir à superfície para respirar.

Como funciona a proteção

Num resumo extremo do projeto WhaleWatch, o artigo lembra que as baleias não são detectadas pelos satélites em escala global. Mas os cientistas sabem que elas se reúnem em determinadas áreas para deliciar-se com seu alimento predileto e quase exclusivo: os minúsculos camarões das águas frias conhecidos pelo nome de “krill”.

Mas os krills também não são detectáveis pelo satélite. A solução para localizar as baleias azuis é buscar onde estão as águas ricas em seus nutrientes, que permitem a procriação dos krills, nos momentos mais adequados. A melhor hora para isso é quando as águas frias profundas ricas de matéria orgânica afloram à superfície do oceano banhada pelo sol. Agindo como fertilizante, essa matéria orgânica cheia de nutrientes faz explodir a flora do fitoplâncton, cuja clorofila é visível do espaço.

Resultado: onde há clorofila no mar, deve haver nutrientes dos krills. E onde houver krills, as baleias azuis se reunirão em busca desse alimento. E isso ocorre, de fato, pois as baleias se reúnem em certos momentos do ano, nesses locais mais apropriados para seu banquete.
Saiba mais
Baleia azul está ameaçada de extinção (Crédito: Craig Hayslip/Oregon State University)Baleia azul está ameaçada de extinção
(Crédito: Craig Hayslip/Oregon State University)


Leia mais: http://cbn.globoradio.globo.com/comentaristas/ethevaldo-siqueira/2015/07/26/DIRETO-DA-NASA-SATELITES-VAO-PROTEGER-AS-BALEIAS-AZUIS.htm#ixzz3h7htfnle


fonte: http://cbn.globoradio.globo.com/comentaristas/ethevaldo-siqueira/2015/07/26/DIRETO-DA-NASA-SATELITES-VAO-PROTEGER-AS-BALEIAS-AZUIS.htm

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Cientistas observam duas espécies de golfinho que convivem juntas

Golfinhos pintado-do-atlântico e nariz-de-garrafa passam 15% do tempo juntos em grupo nas Bahamas

RIO - Os golfinhos são conhecidos pela sociabilidade, mesmo entre espécies diferentes, mas pesquisadores do Centro de Pesquisa de Mamíferos do Pacífico, em Washington, observaram um grupo nas Bahamas com nível de interação considerado "sem precedentes". Golfinhos nariz-de-garrafa e pintado-do-atlântico passam até 15% do tempo juntos e mantém uma comunidade estável.
- Essas interações parecem ter evoluído para permitir que as espécies compartilhem espaço e recursos - explicou Cindy Elliser, do Centro de Pesquisa de Mamíferos do Pacífico, à revista "New Scientist". - Eles brincam e caçam juntos. Até cuidam dos filhotes.
A maior parte dos encontros envolve comportamentos "amigáveis". Em ao menos duas ocasiões, fêmeas pintado-do-atlântico foram vistas cuidando de filhotes nariz-de-garrafa. Os pesquisadores também flagraram três fêmeas pintado-do-atlântico e duas nariz-de-garrafa, todas grávidas, nadando juntas.
Para Cindy, as razões para esse comportamento ainda são um mistério, mas está claro que não se restringe a alguns indivíduos com senso de identidade confuso:
- Eu acho que o comportamento amigável é uma parte importante da manutenção das relações.
Os machos também se unem e formam alianças entre as espécies para lutar contra inimigos em comum. Em um dos encontros, por exemplo, dois machos, sendo um de cada espécie, se juntaram para confrontar e perseguir um golfinho nariz-de-garrafa invasor.
Outras interações entre espécies de golfinho já foram observadas antes. Na Austrália, machos de diferentes grupos formam pequenas "gangues", com dois ou três animais de cada grupo nadando juntos, mas as alianças observadas nas Bahamas são consideradas únicas. Richard Connor, pesquisador da Universidade de Massachusetts, explica que alianças tão complexas, com ao menos três graus (família, grupo e entre as espécies) são vistas apenas em humanos.
Segundo o pesquisador, não é coincidência que humanos e golfinhos compartilhem essa sofisticada habilidade de cooperar, já que as duas espécies são as que possuem o maior cérebro em relação ao tamanho do corpo.
Entretanto, nem todas as interações entre as duas espécies são amigáveis. Machos nariz-de-garrafa são cerca de duas vezes maiores e, por vezes, foram observados invadindo grupos de pintado-do-atlântico para cruzar com as fêmeas. O sexo entre as espécies pode ser uma forma de machos nariz-de-garrafa jovens aprenderem a competir com adultos da própria espécie, sugere Cindy.

Fonte: https://br.noticias.yahoo.com/cientistas-observam-duas-esp%C3%A9cies-golfinho-convivem-juntas-133104277.html

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Dois filhotes semi-albinos são registrados

APA Baleia Franca


No total 37 indivíduos foram avistados entre Laguna e Palhoça.


Com o objetivo de verificar a ocorrência das baleias e a incidência de enredamento na Área de Proteção Ambiental (APA) da Baleia Franca, foi realizada uma saída embarcada ao longo da porção centro-norte da unidade de conservação, entre Laguna e Palhoça. Foram registrados 15 pares de mãe e filhote, seis adultos e um subadulto, no total de 37 baleias.

A maior concentração estava na enseada da praia da Ribanceira, em Imbituba. Dentre as baleias registradas, os especialistas foram surpreendidos pela avistagem de dois filhotes semi-albinos, recém-nascidos, acompanhados de suas mães. Em média, um único filhote com essas características é observado a cada duas temporadas reprodutivas da espécie na costa brasileira.

O número total de baleais avistado é considerado alto para esta época, que representa o início da temporada reprodutiva das baleias francas no sul do Brasil. No entanto, este é um ano atípico, uma vez que as baleias começaram a chegar mais cedo na região. As primeiras baleias foram registradas em meados de maio, o que há muitos anos não ocorria.

A saída embarcada foi realizada com apoio da Policia Militar Ambiental de Laguna, e contou com participação de especialistas da APA da Baleia Franca/ICMBio, Projeto Baleia Franca e Laboratório de Zoologia – Udesc/Laguna. No final deste mês será realizado o primeiro sobrevoo de Monitoramento Aéreo do Programa de Monitoramento das Baleias Franca no Porto de Imbituba e Adjacências, com o objetivo de verificar a ocorrência e distribuição das baleias no litoral centro sul de Santa Catarina e norte do Rio Grande do Sul. 

Fonte: http://www.notisul.com.br/n/geral/dois_filhotes_semi_albinos_sao_registrados-53517

Os quinze anos do SNUC nos exigem redobrar os esforços


Maria Tereza Jorge Pádua - 18/07/15

15102010-pedra-furadaParque Nacional Serra da Capivara corre riscos de fechar por falta de investimentos e infraestrutura. Só mais um caso de descaso com as unidades de conservação. Foto: Vagner Carvalheiro/Flickr
A Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação ou SNUC, como é conhecida, Lei número 9.985 de 18 de julho de 2000, embora complete agora seus quinze anos -- e há que se fazer a festa de comemoração -- foi concebida muito antes de 2000, por dois documentos públicos principais. A primeira proposta do “ Plano do Sistema de Unidades de Conservação do Brasil” foi publicada em 1979 e aprovada pelo Executivo. Apresentava, junto com a segunda proposta de 1982, várias categorias de manejo de unidades de conservação, com seus objetivos e justificativas. Além do mais, dentro destes planejamentos foram indicadas várias unidades de conservação, em especial na Amazônia, que realmente foram estabelecidas de 1979 a 1982, ou algumas depois. No total, criou-se mais de 9 milhões de hectares de Parques Nacionais e Reservas Biológicas e começou-se o estabelecimento de unidades de conservação marinhas, além de algumas na Caatinga. Foi um salto propiciado pelo então Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal e também pela então Secretária Especial de Meio Ambiente (SEMA).
Mas nosso assunto hoje é sobre a Lei do SNUC que era e é fundamental ao estabelecimento e bom manejo e uso de áreas protegidas para o país, pois as especifica, define e, especialmente, fornece com clareza a definição e os objetivos de manejo de cada categoria, e até mecanismos legais de obtenção de recursos para algumas categorias, através de seu artigo 36.
Não falarei nesta coluna de erros que, a meu ver, existem nesta lei, pois, não obstante, é indubitavelmente tão necessária como importante.
O que quero enfatizar é que aconteceu e acontece com a Lei do SNUC exatamente o que ocorre com a grande maioria das leis no Brasil. São ótimas, mas caem em descaso ou quase não se aplicam na prática. Não há a necessária disciplina política e social para cumpri-las e, assim, outros artigos de outras leis vão derrubando algumas das suas conquistas fundamentais.
"Assim o Brasil, mesmo sob a égide da Lei 9.985, assistiu e assiste, com grande consternação, a progressiva derrocada de seu Sistema Nacional de Unidades de Conservação."
Assim o Brasil, mesmo sob a égide da Lei 9.985, assistiu e assiste, com grande consternação, a progressiva derrocada de seu Sistema Nacional de Unidades de Conservação. As terras das unidades estabelecidas segundo a Lei não são regularizadas. Na prática, mais de 50% da terra delas estão em mãos de particulares. Assim, por exemplo, o Poder Público não pode criar e implantar projetos de infraestrutura em Parques Nacionais, cujas terras não estejam regularizadas. O que fazem então? Mudam as categorias e extinguem UCs, pois, segundo trabalhos publicados, já perdemos mais de 5 milhões de hectares de unidades de conservação nos últimos 15 anos. Não há funcionários suficientes, equipamentos ou materiais. Não há apoio político e deixa-se quase tudo a Deus dará.
O Sistema de Áreas Protegidas tem áreas lindas, magníficas como podem ser as garotas de quinze anos, mas seus pais as abandonaram e até a regra de receber como compensação ambiental 0,5% dos grandes empreendimentos, que poderia ajudar na implementação do Sistema, sofreu modificações por outras normas ou por interpretações legais esdrúxulas.
E, justamente, ás vésperas das comemorações do aniversário da Lei tão esperada, vemos o desabafo publicado na imprensa pela grande cientista e humanista Niède Guidon, responsável em grande parte pelo estabelecimento e progresso do Parque Nacional da Serra da Capivara e também pelo da Serra das Confusões no Piauí e, igualmente, pelo desenvolvimento econômico e social da região. Ela sai dizendo “ Cansei, vou-me embora". O que ela fez por lá foi maravilhoso. Conseguiu sustentar seu projeto desde fins de 79. Agora, entrega os pontos. Outros já disseram o mesmo, ou seja, falhamos. Com ou sem Lei prevaleceu e prevalece o uso abusivo dos recursos naturais, a destruição dos ecossistemas naturais, da nossa biodiversidade. Prevalece o desinteresse e a falta de responsabilidade dos políticos que nos governam, pois eles raramente passam de fazer discursos.
O que podemos e devemos fazer é parar com isto. Gritar bem alto que queremos o nosso Sistema de Unidades de Conservação implantado, não obstante aquelas atividades que o querem engolir em uma só talagada, em especial a agricultura e a mineração. Isso é o último suspiro da natureza de nosso país.
Vamos dar os parabéns à Lei e redobrar os esforços para implementá-la com responsabilidade, gritando nas ruas, dançando, participando em movimentos voluntários.
Vamos nos fazer ouvir pelos ouvidos moucos, ou vamos entregar tudo de mão beijada, desde Aparados da Serra a Iguaçu?  Vamos lutar ou vamos ceder desde Serra da Capivara até o Raso da Catarina? Desde Pacaás Novos até Brasília, ou até o Pantanal Matogrossense até Noronha?
Acordem amigos e colegas que queiram a manutenção de nossa biodiversidade, pois até a área de turismo está querendo carregá-la, graças a sua enorme beleza. Vamos pelo menos dizer que muitos se importam pela destruição que avança sobre o SNUC.

Fonte: http://www.oeco.org.br/maria-tereza-jorge-padua/29239-os-quinze-anos-do-snuc-nos-exigem-redobrar-os-esforcos

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Vídeo: Imagens capturadas no Havaí mostram golfinho "passeando" na cabeça de baleia


Publicadas na página do facebook de um projeto de proteção aos mamíferos marinhos, as fotografias exibem as espécies em um momento inusitado
Luana Lopes
luana.lopes@jornaldebrasilia.com.br

Não é nenhuma novidade que golfinhos e baleias jubartes fazem parte de um grupo de animais providos de inteligência. Mesmo com a aparência selvagem - no caso das baleias - ambas espécies são conhecidas, também, pelo instinto brincalhão. Uma prova disso são imagens feitas pela fotógrafa e bióloga Lori Mazzuca. Publicadas na página do facebook de um projeto de proteção aos mamíferos marinhos (The Whale And Dolphin People Project), as fotos mostram que golfinhos e baleias jubarte do Havaí formaram um vínculo especial. 
Nas fotografias, os animais fazem uma brincadeira no mínimo inusitada: o golfinho testa quanto tempo ele pode ficar equilibrado na cabeça da baleia. Depois de um tempo, o golfinho desliza para baixo, mas isso não é um empecilho para que ele faça o caminho de volta ao topo para outro passeio.
O momento foi registrado em 2012. No entanto, a brincadeira entre os mamíferos não deixa de ser novidade, como sugere uma publicação recente na página do projeto: “Divulgamos isso há muito tempo e virou notícia outra vez”. 
Assista ao vídeo:
Fonte: Da redação do Jornal de Brasília

Fonte: http://www.jornaldebrasilia.com.br/noticias/mundo/630763/imagens-mostram-golfinho-na-cabeca-de-baleia-no-havai/

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Rio Madeira: Depois da cheia

Trabalho de campo da perícia nas usinas do Madeira está parado por falta de recursos. Os peritos, todos especialistas renomados, deveriam analisar e coletar dados do reestudo do impacto socioambiental das barragens.

Crianças ficaram sem escola no Distrito de Nazaré. Foto: Marcela Bonfim/AmReal
Crianças ficaram sem escola no Distrito de Nazaré. Foto: Marcela Bonfim/AmReal
Por Ana Aranda, especial para a agência Amazônia Real –
Porto Velho (RO) –  As cheias recorrentes do rio Madeira e o aumento do volume de chuvas  –  que se prolongaram neste ano até o mês de junho, quando antes cessavam em março –  provocaram nas populações ribeirinhas de Rondônia um medo constante de que suas casas e bens voltem para debaixo d´água na próxima enchente e, assim por diante.
Um ano depois da maior enchente em 100 anos, registrada em 2014, os efeitos das inundações permanecem presentes na vida e no sentimento do povo com uma certeza: além das mudanças climáticas, a instalação das hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau alterou a rota migratória dos peixes e aumentou o assoreamento do leito do rio Madeira.
Os pescadores reclamam do sumiço dos peixes tanto acima quanto abaixo das barragens, diz o ecólogo Philip Fearnside, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), um dos especialistas que deveria estar analisando em campo, por meio de uma perícia técnica independente, o reestudo do EIA-Rima (Estudo e Relatório de Impacto Ambiental) das usinas que determinado por uma liminar da Justiça Federal, em março do ano passado.
A usina da Santo Antônio foi instalada a 7 km acima de Porto Velho a jusante de Jirau (ESBR), que foi construída a 120 km (a montante) da capital de Rondônia, distante a 100 km da fronteira de Rondônia com a Bolívia.
Philip Fearnside disse à Amazônia Real que ele e mais dois especialistas – Célio Bermann, do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (USP) e Edna Maria Ramos de Castro, do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA) – viajaram apenas uma vez para acompanhar o reestudo do EIA-Rima em campo, em Rondônia. A comissão é formada por oito peritos, todos indicados pelo Ministério Público Federal. Sem recursos, eles analisam os dados dos impactos ambientais por documentos elaborados pelos consórcios e enviados ao Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis).
Philip Fearnside em visita ao canteiro de JJirau com membros da Justiça. Foto: ESBR
Philip Fearnside em visita ao canteiro de JJirau com membros da Justiça. Foto: ESBR
Com exceção de uma viagem inicial às duas barragens e um evento em Porto Velho, o grupo tem ficado basicamente parado. Está parado! Parece que um juiz acima do Raphael (procurador) não apoia a iniciativa, e tem bloqueado recursos e formalização do processo”, disse o maior especialista nos estudos de impactos de construções de barragens na Amazônia, citando o juiz Herculano Martins Nacif e o procurador da República, Raphael Bevilaqua.
O procurador Raphael Bevilaqua é um dos autores da ação civil pública com pedido de indenização por dano moral às famílias afetadas. A ação foijulgada pelo juiz Herculano Nacif, da 5ª. Vara Federal de Porto Velho. A decisão obrigou os consórcios Energia Sustentável do Brasil, que construiu e opera a usina de Jirau, e Santo Antônio Energia, responsável pela usina de Santo Antônio, a custearem a perícia técnica. O juiz também determinou que os peritos analisassem o reestudo dos impactos socioambientais, supervisionado pelo Ibama.
Em outra ação, o juiz Herculano Nacif revogou a sua própria decisão que obrigava os consórcios a pagarem o trabalho dos peritos. O Ministério Público Federal entrou com um recurso contestando, mas perdeu. Segundo o procurador Raphael Bevilaqua, os peritos indicados trabalham voluntariamente, mas faltam recursos para os deslocamentos da equipe e das viagens de campo, entre outras despesas, o que inviabiliza a análise independente.
Além de Philip Fearnside, Célio Bermann e Edna Maria Ramos de Castro fazem parte da comissão de peritos Carlos Bernardo Vainer, do Laboratório Estado, Trabalho, Território e Natureza (ETTERN); Alfredo Wagner Berno de Almeida, da Universidade Estadual do Amazonas (UEA); Sônia Maria Simões Magalhães, do NUMA (Núcleo de Meio Ambiente), Jorge Molina, do Instituto de Hidráulica e Hidrologia (IHH) da Bolívia; e Paulo Andreas Buckup, do Conselho Deliberativo da Sociedade Brasileira de Ictiologia.
Na decisão que obrigou os consórcios a refazer o EIA-Rima, juiz Herculano Martins Nacif pediu que fossem considerados no reestudo todos os impactos decorrentes da vazão histórica do rio Madeira em relação aos aspectos mais relevantes como a ictiofauna, tamanho dos reservatórios, população afetadas e reservas ambientais atingidas, entre outros. Ele também obrigou os consórcios das usinas a atender as necessidades das famílias atingidas pela enchente, como moradia, alimentação, transporte, educação e saúde sob pena de multa diária de R$ 100 mil e perda da licença de operação.
Na decisão, o juiz Herculano Nacif afirmou que apesar das usinas de Santo Antônio e Jirau serem construídas a “fio d´água” (sem armazenamento) “o modelo criou reservatórios que ampliaram a área alagada à montante (nascente) das barragens”. “O dano é o alagamento suportado pelos moradores da região à margem dos reservatórios. Já o nexo casual entre a conduto e dano é o fato de que áreas que nunca antes seriam alagadas — mesmo com a cheia extraordinária do rio Madeira — agora passam a ser”, disse o magistrado.
Em entrevista à agência Amazônia Real, o juiz Herculano Nacif afirmou que revogou o pagamento da perícia técnica dos especialistas pelos consórcios porque o trabalho deles não é uma perícia judicial determinada pela Justiça, que tem previsão de despesas com honorários.
Não nomeei essa comissão de peritos. O Ministério Público foi quem indicou a comissão para acompanhar o reestudo. As despesas têm que sair do Ministério Público”, disse o magistrado Herculano Nacif.
Sobre a declaração do cientista Philip Fearnside de que o magistrado não apoia a perícia técnica independente e tem bloqueado recursos, Herculano Nacif reagiu: “Não cabe a mim apoiar ‘a’ ou ‘b’. Não cabe a mim apoiar ninguém. Os réus da ação (os consórcios) não são obrigados a custear essa ação, não é devida. Se o Ministério Público Federal ou quem quer que seja interessado no processo não concordar, que busque a reformar a decisão, e não fazer um juízo de valor de que a Justiça não está apoiando, isso é irrelevante”, afirmou o juiz.
Para o procurador do MPF, Raphael Bevilaqua, o juiz Herculano Martins Nacif “mudou de opinião” quanto ao pagamento da perícia pelos consórcios. (Leia entrevista exclusiva aqui)
Moradores d0 Distrito de Nazaré reclamam da escassez do pescado depois da cheia. Foto: Marcela Bonfim/AmReal
Moradores d0 Distrito de Nazaré reclamam da escassez do pescado depois da cheia. Foto: Marcela Bonfim/AmReal
Peixes sumiram e subsistência foi comprometida
Passados 16 meses da decisão que formou a comissão da perícia técnica independente para analisar o reestudo EIA-Rima das usinas de Santo Antônio e Jirau, o ecólogo Philip Fearnside afirma que as análises já comprovam o que as pesquisas anteriores confirmavam sobre os impactos socioambientais das duas barragens no Madeira. Segundo ele, “os impactos são muitos” e enumera cada um:
1) O bloqueio da migração dos bagres é inegável.
2) Sumiço dos peixes tanto acima quanto abaixo das barragens.
3) O deslocamento da população.
4) Destruição dos meios de subsistência da população de pescadores, representando graves problemas sociais.
5) Erosão da orla de Porto Velho.
6) O isolamento do Estado do Acre durante meses na ocasião da enchente de 2014, ambos com um papel das barragens.
Com as barragens, assoreamento aumentou
O físico, professor e pesquisador da Universidade Federal de Rondônia (Unir), Artur Moret, não faz parte da comissão de peritos que analisa o reestudo do EIA-Rima das usinas. Em entrevista à Amazônia Real sobre a relação das enchentes com a construção das hidrétricas de Santo Antônio e Jirau, ele disse que em intervalos de 18 a 20 anos ocorria uma cheia excepcional no rio Madeira. Foi o que aconteceu em 1950, quando as águas tomaram ruas do centro de Porto Velho. Em 1997, quando o nível do rio chegou a 17,56 metros, até então a marca histórica em 47 anos das medições hidrológicas.
Em 2014 foi registrada a enchente história, a maior em 100 anos. Este ano ocorreu uma grande cheia, com menos danos, mas foi a quinta mais forte.
A diferença das outras cheias para estas mais recentes é fundamental nos estudos da hidrologia. O rio Madeira carrega muitos sedimentos. Com a redução do movimento da água nas barragens os sedimentos se acumulam, provocando o assoreamento do rio. Nas proximidades de Nova Teotônio não dá mais para pescar porque o lago já está assoreado”, disse Moret.
O pesquisador da Unir diz que no dia 17 de fevereiro do ano passado, a Agência Nacional da Água (ANA) determinou a abertura das comportas da hidrelétrica de Santo Antônio para garantir a integridade de estruturas das usinas. Segundo Artur Moret, quando uma energia é disponibilizada provoca uma grande turbulência.
“A quantidade de energia disponibilizada na ocasião carregou o sedimento que já estava no lago mais o que era carregado pelo rio Madeira, que se depositou à frente da barragem”, afirmou o físico.
Artur Moret exemplifica as consequências do assoreamento do rio Madeira com a situação da comunidade de Cujubinzinho, que fica no entorno de Porto Velho.
“As pessoas já não têm mais aquela quantidade de produção de frutas e outros produtos cultivados na região por que o sedimento se depositou na frente das casas e em bancos de areia que chegam a um e dois metros. Não é difícil perceber que isto está acontecendo. É só ir lá e olhar. Muita gente, inclusive alguns operadores da Justiça, não têm sensibilidade de olhar este aspecto”, afirmou o pesquisador da Unir, Artur Moret.
Reservatório da usina de Santo Antônio, em 2014. Foto: Cley Medeiros
Reservatório da usina de Santo Antônio, em 2014. Foto: Cley Medeiros

Barragem da usina de Jirau durante a enchente de 2014. Foto: Sérgio Vale/Secom AC
Barragem da usina de Jirau durante a enchente de 2014. Foto: Sérgio Vale/Secom AC

Consócios negam relação da enchente com obras
Os consórcios das hidrelétricas Santo Antônio Energia e Empresa Sustentável do Brasil (ESBR), que opera Jirau, negam que as barragens construídas ao longo do rio Madeira tiveram relação com a cheia histórica, em 2014.
As obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) receberam investimentos de R$ 33,4 bilhões do governo federal para gerar energia para mais de 40 milhões de pessoas a partir da subestação de distribuição de Araraquara, em São Paulo, no Sudeste do país.
A reportagem procurou os consórcios de Santo Antônio e Jirau para comentar os questionamentos do MPF e do cientista Philip Fearnside, mas apenas a Santo Antônio Energia respondeu por meio de nota. (Leiaaqui).
A assessoria de imprensa da Presidência do Ibama, em Brasília, também foi procurada, mas o órgão federal que licenciou as usinas do Madeira não respondeu às perguntas enviadas pela Amazônia Real. Não é a primeira vez que a Presidência do Ibama não comenta denúncias contra os danos ambientais das usinas do Madeira. Em 2014, o órgão não se posicionou sobre a mortande de peixes no reservatório de Jirau, leia aqui.
Poços artesianos continuam contaminados
Moradores do Distrito de Nazaré foram removidos das casas. Foto: Rondôniagora
Moradores do Distrito de Nazaré foram removidos das casas. Foto: Rondôniagora

Meninos de Nazaré retomam brincadeiras depois que a água baixo. Foto: Marcela Bonfim/AmReal
Meninos de Nazaré retomam brincadeiras depois que a água baixo. Foto: Marcela Bonfim/AmReal

Enquanto a perícia técnica no EIA-Rima das usinas de Santo Antônio e Jirau não é concluída para saber se populações foram afetadas pelas barragens, as famílias vão tentando retomar a vida em meio a novas inundações. A cheia deste ano do rio Madeira foi considerada a quinta maior em 47 anos do monitoramento realizado pelo Serviço Geológico do Brasil, em Porto Velho. O nível da água alcançou a marca de 17,18 metros, ficando 2,56 metros abaixo da enchente histórica de 2014 que chegou a 19,74 metros, a maior em cem anos.
O coordenador da Defesa Civil afirma que estas famílias tiveram os poços artesianos contaminados e estão sendo abastecidas com água potável. A cada 20 dias, é o órgão que entrega a cada família fardos contendo garrafas de 2 litros de água e kits de material de limpeza.
“O número de pessoas atingidas esse ano (8.055) pela enchente só não foi maior porque no ano passado já haviam sido retiradas as populações mais vulneráveis”, afirma o diretor de Planejamento e Operação da Defesa Civil de Rondônia, tenente-bombeiro Artur Luiz Santos de Souza, classificado a enchente histórica como um desastre natural de grande proporção.
Já o coordenador da Defesa Civil de Porto Velho, Marcelo Silva Santos confirma os impactos na pesca e no assoreamento do rio Madeira, mas não cita responsabilidades das usinas nos danos sociais e econômicos da população.
Os sedimentos endurecidos (areia e vegetação) levados pela água formaram bancos de areia com mais de um metro de altura, o que impede a agricultura de várzea. As famílias que sobrevivem da pesca estão com a produção reduzida. Elas dependem da ajuda de parentes e de recursos governamentais”, disse Santos.
Governo fará deslocamento oficial em distritos
Menina de São Carlos, distrito que será removido por inteiro. Foto: Marcela Bonfim/AmReal
Menina de São Carlos, distrito que será removido por inteiro. Foto: Marcela Bonfim/AmReal
Como o nível das águas do rio Madeira permaneceu mais alto do que nos anos anteriores no período da vazante (seca) e, para evitar que as populações sofram com inundações e tenham danos sociais e econômicos na próxima cheia, pela primeira vez o governo de Rondônia e a Prefeitura de Porto Velho irão promover um deslocamento institucional das populações afetadas pela enchente nos distritos.
Os primeiros distritos beneficiados com os deslocamentos serão os da chamada região do baixo Madeira. Nessa área, a população que conseguiu voltar para casa continuou impedida de plantar na área de várzea, pois as terras férteis permanecem alagadas. Durante a cheia do ano passado, não foi possível salvar animais domésticos. As árvores frutíferas morreram e os poços artesianos foram contaminados, dificultando o acesso a água potável. Casas foram destruídas por sedimentos. Com o tempo, eles endureceram, formando grandes bancos de areia que hoje impedem a utilização de banheiros e até mesmo o acesso aos locais onde vivia antes a população.
Cerca de 1.800 mil famílias (9.000 pessoas) moradoras dos Distritos de Porto Velho: Nazaré, Calama e São Carlos serão removidas para uma área descontínua de cerca 2.687 hectares localizada em terras altas. Nelas, o governos planejam construir casas populares, reformar e transferir escolas, postos de saúde, entre outras bens públicos. Os terrenos serão divididos em lotes para reassentar as famílias.
Em Nazaré, uma das áreas mais afetadas pelas inundações e distante a 200 quilômetros de Porto Velho, cerca de 300 famílias (1.500 pessoas) foram retiradas do distrito pela Defesa Civil durante a enchente do ano passado e abrigadas em Porto Velho e comunidades vizinhas. Com a aquisição de uma faixa de terra de 150 hectares, a prefeitura vai reassentar 400 famílias (2.000 pessoas).
No Distrito de Calama, no baixo Madeira, 692 famílias (3.460 pessoas) foram atingidas pela enchente de 2014. Essas famílias serão deslocadas para uma área de 300 hectares localizada na mesma região, porém em terras altas, distantes das alagações. Já em São Carlos os reassentamentos de 700 famílias (3.500 pessoas) serão numa área de 149 hectares, mas na outra margem do rio Madeira.
Segundo o secretário municipal de Planejamento, Jorge Elarrat, essas terras estão longe de áreas de risco de inundações do rio Madeira. Elas foram adquiridas de terceiros e da União, mas precisam ainda de regularização fundiária, licenciamento ambiental e urbanização. Ele disse que após o processo que envolve a Secretaria de Patrimônio da União, o Programa Terra Legal e o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) é que os órgãos públicos poderão providenciar as instalações de escolas, unidades de saúde e reassentar as famílias. Não existe uma data para começar as obras de infraestrutura e da mudança da população de Nazaré, Calama e São Carlos.
Elarrat afirma que os deslocamentos das populações dos distritos para áreas mais altas e, em alguns casos distantes do local de origem de nascimento delas, dividiram opiniões. Há os moradores que querem se mudar e os que se negam a sair dos locais de origem. No Distrito de São Carlos, por exemplo, a resistência é deixar o lugar onde há o cemitério das comunidades, a igreja tradicional e toda uma história de vida. As famílias serão removidas para outra margem do rio Madeira, distante 5 quilômetros do local de origem.
Para amenizar os impactos sociais em São Carlos, Elarrat disse que um projeto de urbanização foi elaborado por alunos e professores da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Uniron (União das Escolas Superiores de Rondônia). O distrito, que está sendo chamado de “Nova São Carlos”, ficará a 70 quilômetros de distância do centro de Porto Velho. O projeto prevê construção de infraestrutura do serviço público, com escolas, posto de saúde, área de lazer com arborização e vias de tráfego específico para veículos, pedestres e ciclistas.
O secretário municipal de Planejamento, Jorge Elarrat, não informou o total de gastos previstos para as construções dos novos distritos, mas anunciou que o Plano de Trabalho e Reconstrução destinado a recuperar ou refazer prédios destruídos pela cheia, proteger encostas ameaçadas de desmoronamento, reconstruir os distritos, entre outras obras, foi orçado em mais de R$ 200 milhões. Esse plano, segundo ele, foi enviado para o Ministério da Integração em setembro do ano passado. “O governo ainda não se manifestou sobre este recurso, e não sei se haverá prioridade para estas obras diante da crise econômica do Brasil”, afirma o secretário.
A Defesa Civil apoiou o plano de deslocamento das famílias dos distritos afetados pela enchente. Para o coordenador de operações da Defesa Civil do Estado de Rondônia, tenente Artur Luiz Souza dos Santos (do Corpo de Bombeiros), a cultura difundida na Amazônia de viver em áreas de várzea precisa ter um fim. Ele afirma que as áreas mais baixas, com risco de alagação, devem ser desocupadas e as populações deslocadas para áreas livres de inundação e desabamento, tanto na região urbana como na rural.
As prefeituras e os estados sempre aceitaram esta situação, mas a determinação agora é que não sejam construídas obras públicas em áreas de risco”, disse tenente Souza dos Santos.
“A beira do rio é o meu lugar”
Crianças do lago do Cuniã, no Distrito de São Carlos, que será removido para outro lugar. Foto: Marcela Bonfim/AmReal
Crianças do lago do Cuniã, no Distrito de São Carlos, que será removido para outro lugar. Foto: Marcela Bonfim/AmReal
No Distrito de Calama, no baixo Madeira, 692 famílias foram atingidas pela enchente de 2014. Essas famílias serão deslocadas para uma área de 300 hectares localizada na região mais alta do distrito.
Moradora de Calama, Maria das Graças Ferreira Silva, 55 anos, disse à agência Amazônia Real que cresceu vendo o rio Madeira subir e descer na cheia e na seca. Mas o que enfrentou na enchente histórica lhe provocou um medo. “Passei a sofrer de depressão depois da grande cheia. Por um bom tempo eu não conseguia comer e nem beber água. Fiquei tão magra que dava para entrar numa garrafa”, afirmou.
Maria das Graças Silva disse que procurou o SUS (Sistema Único de Saúde) para receber atendimento psicológico, mas só conseguiu marcar uma consulta médica para depois de dois meses. Com isso, passou a se tratar com medicina homeopata e plantas medicinais, por sugestão de uma amiga. “Melhorei bastante. Pelo menos eu já consigo comer”, afirmou, mas contou que a família ainda não conseguiu consertar a casa “que entortou com a cheia”.
A dona de casa Raimunda Soares das Neves, 43 anos, confirma a situação desoladora no Distrito de Calama. Proprietária de um sítio na localidade de Ilha Nova, ela afirma que “perdeu tudo: os animais, as fruteiras, a lavoura. O sítio ficou irreconhecível”.
Também de Calama, mas moradora de Porto Velho, a técnica administrativa Veradiana Bezerra dos Santos, 43 anos, trabalha com a venda de bombons, bijuterias e outras miudezas nos barcos de passageiros que navegam ao longo do Madeira. Ela reclama das vendas, ” que diminuíram em 80%”, calcula.
Sem peixe desde a construção das hidrelétricas e sem ter como plantar, está todo o mundo sem dinheiro. O movimento só aumenta quando o pessoal recebe a ajuda de custo do governo”, disse Veradiana Santos.
Conferente de um barco de passageiros que percorre os distritos do médio e baixo Madeira, Mateus Ferreira Neto confirma a redução do poder aquisitivo da população do Calama. “As cargas de hortifrutigranjeiros reduziram drasticamente, assim como o número de passageiros”, disse.
Na área de influência da BR-364, que liga Porto Velho a Rio Branco (AC) e que também ficou intransitável pela força da água, foram afetadas na enchente histórica do rio Madeira as populações dos Distritos de Abunã, Fortaleza do Abunã e Jaci- Paraná, região do alto Madeira. Das 636 atingidas, 35 não conseguiram retornar às residências por conta dos estragos provocados pela alagação do ano passado. Nessas áreas, não foi possível salvar animais domésticos. As árvores frutíferas morreram e os poços artesianos foram contaminados. Casas foram destruídas por sedimentos. Com o tempo, eles endureceram, formando grandes bancos de areia que hoje impedem a utilização de banheiros e até mesmo o acesso aos locais onde vivia antes a população.
População não se recuperou no bairro do Triângulo
O bairro durante a enchente de 2014. Foto: Lunaé Parracho/Greenpeace
O bairro durante a enchente de 2014. Foto: Lunaé Parracho/Greenpeace

Depois da cheia, casas do bairro do Triangulo ficaram danificadas. Foto: Ana Aranda/Am Real
Depois da cheia, casas do bairro do Triangulo ficaram danificadas. Foto: Ana Aranda/Am Real

Em menor proporção do que em 2014, a cheia de 2015 do rio Madeira em Porto Velho fez o município decretar estado de alerta no mês de janeiro, quando as águas começaram a subir. Os bairros Nacional, Triângulo, Balsa, São Sebastião, Baixa União, Belmont e Milagres foram novamente atingidos por inundações.
A reportagem da agência Amazônia Real visitou o bairro do Triângulo, um dos mais antigos pela cheia do rio Madeira desde 2014. A população ainda não se recuperou dos danos passados e enfrentou outra enchente este ano. As marcas das destruições das inundações estão nas ruas, nos prédios e nas casas.
Habitado por descendentes de trabalhadores da construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, o Triângulo está distante a 6,5 quilômetros da usina hidrelétrica de Santo Antônio. Por causa dos transbordamentos e forte correnteza, parte da orla do bairro na margem do rio desmoronou e desapareceu.
O produtor Nathan de Oliveira (blusa azul), resiste no Triângulo. Foto: Ana Aranda/AmReal
O produtor Nathan de Oliveira (blusa azul), resiste no Triângulo. Foto: Ana Aranda/AmReal
Antes mesmo da grande cheia histórica, a abertura de comportas da hidrelétrica de Santo Antônio já tinha causado estragos no Triângulo. Um total de 150 casas do bairro foram atingidas pelos banzeiros e destruídas pelas águas. A Justiça determinou que o consórcio responsável pela obra Santo Antônio Energia (SAE) indenizasse os moradores.
Filho de ferroviário e neto de um dos trabalhadores da construção da ferrovia, o aposentado Jesuá Johnson, 64 anos, lembra do bairro com “saudade e tristeza”. “Aqui moravam as famílias mais antigas da cidade. Uma comunidade importante da história e da cultura de Porto Velho. Que desapareceu. Uma perda irreparável para a cidade”, disse Johnson.
Um dos poucos moradores que ainda vivem na região afetada do Triângulo, próximo ao ponto em que o bairro desmoronou, é o produtor de goma de tapioca e farinha de macaxeira Nathan de Oliveira, 78 anos. Ele diz que também está se preparando para sair do local, onde viveu durante 52 anos.
Comprei um terreno em uma região próxima, mas distante das águas, onde instalar uma fábrica e a minha família. Com as hidrelétricas (no rio Madeira), tenho medo de ficar porque não sei o que pode acontecer”, afirmou Nathan de Oliveira.
Recurso do governo é a fonte de renda dos ribeirinhos
Ao todo, 7.640 famílias (cerca de 39 mil pessoas) receberam o pagamento do aluguel social do governo de Rondônia, em 2014. Já em março deste ano, o Estado teve dificuldades para a distribuição do recurso. O Banco Central determinou que os pagamentos deveriam ser feitos por meio de cartões magnéticos, ao invés da apresentação de documentos. Uma investigação apura se os entraves nos pagamentos aos beneficiados foram provocados por fraudes no recebimento dos recursos no ano anterior.
A Prefeitura de Porto Velho anunciou um projeto de apoio aos ribeirinhos como a recuperação de áreas agricultáveis, estradas e retirada dos bancos de areia levados pela cheia nas áreas habitadas. No último dia 3 de junho, o secretário municipal de Agricultura, Leonel Bertolini, anunciou a recuperação da Feira do Produtor, em 60 dias, com recurso de R$ 227, 7 mil.
Já na zona urbana de Porto Velho, as famílias atingidas pela cheia de 2014 ainda aguardam os benefícios do Programa Minha Casa, Minha Vida. A distribuição das casas esbarra na falta de documentação dos moradores. Das cerca de mil pessoas cadastradas para receber uma casa do Condomínio Orgulho do Madeira, aproximadamente 200 ainda não apresentaram documentos pessoais exigidos pela Caixa Econômica Federal.
“Alguns delas não têm nem a Certidão de Nascimento”, afirmou coordenador de Defesa Civil municipal, Marcelo Santos. Por isso, muitas famílias atingidas pela cheia histórica retornaram às moradias que foram inundadas pelas águas do rio Madeira.
Em Nazaré o casal sobrevive com renda do governo. Foto: Marcela Bonfim/AmReal
Em Nazaré o casal sobrevive com renda do governo. Foto: Marcela Bonfim/AmReal
O relatório da Defesa Civil sobre os danos sociais e econômicos decorrentes da enchente histórica aponta que os prejuízos de sete municípios afetados: Porto Velho, Cacoal, Pimenta Bueno, Rolim de Moura, na área de influência da BR-364, Guajará-Mirim, Nova Mamoré e Costa Marques, na região de fronteira com a Bolívia, somam R$ 2, 8 bilhões (bens privados) e R$ 620,5 milhões (bens públicos).
A população atingida pelas inundações foi de 153.692 pessoas, em 2014. Destas, 47. 992 ficaram desabrigados e 14.917 desalojados. Em 2015, foram afetadas 8.055 pessoas pela enchente no Estado.
Segundo informações do governo de Rondônia à agência Amazônia Real, foram destinados R$ 22 milhões (incluindo R$ 15, 4 milhões da Defesa Civil Nacional) para o atendimento das famílias afetadas. (Amazônia Real/ #Envolverde)
* Esta reportagem especial faz parte do projeto “Amazônia Real – promovendo a democratização e liberdade de expressão na região amazônica” que recebe financiamento da Fundação Ford, por meio do programa “Promovendo Direitos e Acesso à Mídia”. (Colaborou Kátia Brasil)

** Publicado originalmente no site Amazônia Real.

Fonte: http://www.envolverde.com.br/1-1-canais/depois-da-cheia/